Este projeto tem como objetivo destacar os expoentes negros do município de Juiz de Fora e legar exemplos positivos de sucesso de pessoas pretas para as futuras gerações. A reportagem #001 foi sobre Carina Dantas, a #002 foi com Antônio Carlos, a #003 com Geraldeli Rofino, a #004 com Sérgio Félix, a #005 com Fernando Eliotério, a #006 com Maurício Oliveira, a #007 com Ademir Fernandes, a #008 com Gilmara Mariosa, a #009 com Batista Coqueiral, a #010 com Cátia Rosa, a #011 com Eliane Moreira e agora é a vez do professor Antônio Hora.
Por Alexandre Müller Hill Maestrini
Antônio Carlos da Hora tem longa experiência acadêmica nas áreas de jornalismo, comunicação, design de moda, design gráfico, sociedade e cultura, com ênfase em mídia e cultura. Essa reportagem é o relato de uma trajetória de luta e resistência vitoriosa. Hora é natural do Rio de Janeiro e nasceu no dia 27.12.1962, dois anos antes do golpe militar de 1964. O pai Jaldyr Geraldo da Hora era faxineiro auxiliar de serviços gerais da UFRJ, na Ilha do Fundão. O pai reconheceu o filho oficialmente e deu ao menino o sobrenome no batismo, mas nunca participou da vida de Antônio, tanto que ele pouco sabe de sua genealogia paterna e até hoje não conhece o pai pessoalmente. A mãe se chamava Maria do Rosário, Antônio enfatiza que Rosário não era o sobrenome, era o pós nome dela, detalhe importante da vida do menino Hora: "tanto que eu tenho apenas o nome do meu pai, uma vez que minha mãe não tinha sobrenome". Antônio me fez refletir com a sutileza do apagamento da história de uma pessoa negra: "afinal, para quê uma mulher negra e pobre, nascida há praticamente quase cem anos atrás, precisava de sobrenome?". A mãe era empregada doméstica, conheceu seu amor fulgaz no local de trabalho do pai biológico na universidade. Em pouco tempo a mãe engravidou e se separou do pai de Antônio, mas ficou com a carga de criar sozinha o menino Antônio. Pobre, semianalfabeta e negra, passou por dificuldades com o menino embaixo do braço para todo lado, pois tinha muita dificuldade de arrumar um lugar para deixar o bebê para poder ir trabalhar: “foi um período muito sofrido pra ela”, o desejo e o instinto maternal se contrapunha com a necessidade de sustentar os dois. Hora lembra da mãe que contava que queria sim ficar com o filho e cuidar dele com todo carinho, mas a estrutura toda a impedia de exercer a maternidade. Tentando conseguir o melhor para o filho, ela decide levar Antônio com apenas um ano de idade para uma casa de uma amiga de infância em Volta Redonda – RJ, onde Hora cresceu.
A amiga de infância Terezinha Paula de Jesus era casada mas não tinha filhos e se tornou a mãe de criação adotiva e tinha o apelido de "Teresa". O pedreiro José de Paula Filho, conhecido como Dendico, pai adotivo de Antônio é por ele considerado afetivamente um verdadeiro pai, que muito o influenciou e marcou positivamente a história da vida de Antônio: “foi ele de fato o meu pai”. Assim, “privilegiado”, Antônio teve na sua infância dois pais e duas mães; a mãe biológica a cada quinze dias ia ver o filho no fim de semana e sempre nos meses de janeiro Antônio passava as férias com a mãe no Rio: “passava sempre minhas férias convivendo em casas de madames”, comenta sorrindo. Ambas já faleceram, mas ele lembra que: “nunca fiz distinção entre as mães, as duas eram igualmente amadas por mim”.
As duas mães tinham nascido em Andrelândia – MG, ambas em famílias muito pobres. Outra semelhança é que as duas aos seis anos de idade foram “adotadas”, ou melhor, “escravizadas” por duas irmãs de uma família branca rica de Andrelândia. Toda a família rica sempre interpretou que estavam “fazendo um grande favor” às duas e ousavam dizer que elas “deviam” obrigação para eles em agradecimento por terem sido “adotadas”. Hora contou que: “desde os oito anos de idade as duas fizeram todo o serviço da casa e nunca receberam sequer um tostão pelos serviços prestados”. Durante toda a infância e juventude as duas lavaram e passaram roupa, cozinhavam café-almoço-janta, faziam todo o serviço doméstico, e tudo com hora bem marcada: “elas eram tão pequenas que a mãe contou que tinha que colocar um caixote de madeira para preparar a comida”. As pequeninas “escravizadas” vestiam roupas de chita que as distinguiam da família abastada, eram obrigadas a dormir no porão em uma cama conhecida como catre, isto é, uma cama tosca e simples de madeira coberta somente com uma esteira de palha. Nos dias de hoje a família rica seria condenada por exploração de mão de obra infantil e trabalho análogo à escravidão. Como muitas negras de sua geração, as duas mães nunca tiveram nem direitos e nem acesso ao sistema escolar.Mas o mais cruel desse processo todo foi a marca indelével inconsciente de um sentimento de “gratidão” para com a família onde foram escravizadas. Apesar dessa "lavagem cerebral", as duas cresceram com uma imensa consciência "do que é ser negra" no Brasil e transmitiram essa ancestralidade ao menino Antônio, que se lembra da fala delas: “você quer isso mesmo, então estamos juntos”. Ele também recebeu de herança uma consciência de que ele faz parte de uma corrente ancestral, como um elo forte. Hoje Antônio sabe muito bem qual é o seu papel aqui e agora nessa luta, uma resistência que vem desde o cativeiro de seus antepassados. Como um menino pobre e negro foi criado na periferia de uma cidade industrial como era Volta Redonda – RJ em plena ditadura militar. Foi neste município que Antônio teve sua infância muito lúdica de brincar na rua, vivia com muita liberdade de uma periferia amigável, fraterna e companheira: “muito diferente da periferia de hoje em dia”, frisou. Mas Hora sabe que teve uma infância miserável e lembra com felicidade do momento que subiram para o status de somente “pobres”: “passamos a comer macarrão com galinha nos finais de semana”, coisa impensável na época da miséria. Nem essa lembrança miserável tira o sorriso do rosto de Hora; sua infância ele considera: “bem legal do ponto de vista das brincadeiras e de poder ficar na rua sem perigo”.
Porém a realidade foi de ter que apenas com oito anos de idade já ir para a luta e trabalhar como adulto, ajudar nas despesas da casa e com a responsabilidade de levar alguma contribuição financeira. Nessa época ele entregava compras de supermercados nas casas das senhoras ricas da cidade. Hora cresceu com a consciência do quanto é duro ser preto, pobre e periférico e o quanto que a necessidade de trabalhar começa mais cedo que os meninos brancos e abastados. Como a mãe adotiva lavava roupa pra fora, Antônio tinha a responsabilidade de buscar as roupas sujas nas casas das “madames” e ir entregar as trouxas de roupas limpas. Quando tinha mais ou menos uns dez anos, eram oito famílias que a mãe atendia e era o pequeno Hora quem levava e trazia tudo isso durante os sete dias da semana. Foi nessa época que ele começou a perceber que seus sonhos seriam muito difíceis de serem realizados: “sonhos de estudar e sair daquela situação”. Isso faz com que o tempo de “ingenuidade e ilusão” da infância para uma criança preta e pobre no Brasil seja curto: “a dureza da vida bate nas nossas portas muito cedo”, lamenta. Além disso ele lembrou que infelizmente a inocência é perdida de uma forma brutal: “meninos e meninas pretas e pobres se veem na obrigação de não deixar que as famílias passem fome”.
Desde muito cedo a mãe adotiva teve uma consciência muito clara da importância do estudo na vida e passou isso para o filho. Como ela foi impedida de estudar, a mãe sabia da importância da educação na vida do menino e implantou na alma do filho essa semente da busca do saber. Antônio sempre buscou ser bom aluno e gostava da escola. Ele lembrou do tempo que fez a primeira fase do ensino fundamental (antigo primária) estudando na Escola Municipal Mato Grosso e, em seguida, na Escola Estadual Presidente Roosevelt e posteriormente na Escola Estadual Santa Catarina. Na segunda fase do ensino fundamental Antônio cursou na Escola Estadual Themis de Almeida Vieira. Foi durante o ensino médio no Colégio Volta Redonda que Antônio tomou consciência da situação e realidade que as mães viveram, elas dizia pra ele: “nós fomos criadas pelas famílias X”, o que Antônio corrigia com energia: “não! Vocês estão equivocadas! Vocês foram criadas da família”. Um pequenino detalhe que Hora frisava que são “contextos totalmente diferentes”. Assim, foi o ainda menino que começou o processo de resgate de suas próprias mães e as ajudou para que elas enxergassem a realidade dura e injusta na qual foram obrigadas a viver. Hora lembra que: “hoje ainda abrimos o jornal e lemos histórias parecidas”, e isso é o mais sofrido, pois essa situação das minhas mães não é um fato isolado de um período histórico do Brasil, mas infelizmente ainda acontece em 2023.
Talvez por medo, sempre disseram para Antônio que pelo fato de gostar de estudar e ter "planos ambiciosos" ele não iria virar "coisa que prestasse"! Cresceu ouvindo isso dos brancos ao seu redor. Afinal, estudar, progredir, ter sucesso, não era “coisa para gente negra”, contou como os brancos pensam. Com certeza Hora não deu ouvidos e resolveu “se vingar deles”, comentou com um sorriso maroto e a vingança de Antônio foi: "me transformei em tudo aquilo que eles diziam que eu não conseguiria". Ironicamente Antônio comentou que: “as pessoas que mais me influenciaram foram as racistas”, e sorri, pois desde pequeno ele escuta os brancos e próximos falarem que: “Antônio, preto e pobre não coloca o pé onde você quer colocar”, ou “preto ou suja na chegada ou borra na saída”, e ainda “Antônio, você deveria seguir seu pai e ser pedreiro”. A mensagem era sempre a mesma: “conforme-se”! Mas claro que Hora não seguiu esses conselhos “burros”, como diz Gabriel o Pensador em sua música: “Racismo, preconceito e discriminação é uma burrice coletiva sem explicação e a cura está no coração”. Por incrível que pareça todos os racistas contribuíram para que Hora percebesse o medo que os brancos tem: "medo do preto conseguir aquilo que se propõe como meta para sua vida". Esse medo era o sinal que Antônio precisava para saber que: “aquele era o caminho correto a se percorrer”, ele sabia que se estava incomodando era porque estava certo. Mas por trás de toda história de sucesso de Antônio Hora, tem muita dor e muita lágrima em sua trajetória: “tudo o que nós temos somo nós”. E são eles, os pretos, que desde a abolição, continuamos, cotidianamente, a desatar todos esses "nós górdios" com os quais o racismo insiste em os querer amarrar! Mas lembra com força que não conseguiram e não conseguirão, porque tudo o que eles tem “são eles mesmos” e "não permitiremos"! Por volta dos quatorze anos Antônio começou a trabalhar como ajudante de pedreiro do pai adotivo até os dezoito anos. Depois disso ele ainda trabalhou na feira livre, mas nunca deixou de estudar, independente do trabalho que fazia: “estudar foi de vital importância pra mim”.
Hora graduou-se em 1987 em Comunicação Social e Jornalismo pela UBM Universidade Barra Mansa, em Barra Mansa - RJ, cidade vizinha de Volta Redonda, com o trabalho final “O Olhar do Jornalista Investigativo”. Durante seus estudos Antônio sempre trabalhou em uma livraria em Volta Redonda para se financiar e ajudar em casa: “sempre tive consciência do binômio trabalho + estudo”. Depois de formado Hora começou a atuar em alguns veículos de comunicação de sua cidade natal, mas tinha vivo um sonho antigo de sair de Volta Redonda e se mudar para a culturalmente efervescente Juiz de Fora dos anos oitenta. Em 1988, de tanto repetir o mantra “eu quero ir para Juiz de Fora”, Antônio ganhou uma bolsa de estudos para um curso de criatividade na área da comunicação de três meses em Juiz de Fora – MG. Não falou pra ninguém, mas na sua cabeça já estava certo: “eu vou, mas não volto”, confessou decidido! Antônio sabia que isso implicaria em arrumar emprego na cidade e estabeleceu essa meta pessoal. Quando faltavam duas semanas para acabar o curso ele conseguiu seu primeiro emprego na cidade: “foi uma decisão muito consciente me mudar para Juiz de Fora”. Antônio começou a preencher o nicho que ainda não era muito ocupado no município, a função de assessoria de comunicação. Trabalhou como assessor de comunicação de vários sindicatos, sempre muito alinhado aos movimentos sociais de esquerda: “eu sempre coloquei o meu diploma à disposição da causa dos trabalhadores”. Trabalhou no Sindicado dos Trabalhadores Têxteis o maior sindicato de Juiz de Fora, passou pelo Sindicato dos Professores, contribuiu para o Sindicato dos Servidores Públicos Municipais e passou também pela CUT-Regional da Zona da Mata.
Muito lutador, em 1993 já era membro do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Juiz de Fora, “o único preto”, lembrou (foto acima). Com sua expertise em comunicação Antônio foi convidado para trabalhar no final dos anos noventa como Coordenador da Assessoria de Comunicação da UFJF, para o projeto da área da saúde. De 1996 a 2001 trabalhou como terceirizado na UFJF e em 2001 se tornou Mestre em Comunicação e Cultura pela UFRJ, com a tese “Cor de Rosa e Carvão – O Discurso Positivo da Diferença”. A ideia foi mostrar a diversidade do público gay e negro e como vem sendo retratados pelos veículos de comunicação com o passar dos anos, Antônio mostrou os detalhes da cultura gay e negra no país através do movimento econômico que as culturas trouxeram e como a mídia divulgou isso. Entre 2002 a 2007 trabalhou como professor convidado na pós-graduação da comunicação da UFJF e aos poucos foi vendo que: “ali tem um preto, então é possível. Dá pra chegar lá!” Com um belo sorriso e seus cabelos trançados, ele passava para seus alunos, que: ”se estivermos juntos vai dar certo”. Antônio transmite um otimismo de quem recebeu essas forças dos antepassados e quer passar isso para as futuras gerações. Atuou como professor do Curso de Especialização em Atenção Primária em Saúde do Núcleo de Assessoria, Treinamento e Estudos em Saúde da Universidade Federal de Juiz de Fora/ MG (NATES/UFJF), entre 2003 e 2005, onde ministrou o módulo de Comunicação Comunitária em Saúde.
De 2000 a 2007 atuou também como professor adjunto da Universidade Presidente Antônio Carlos UNIPAC. Na área acadêmica Antônio Hora produziu algumas obras bibliográficas: em 1999 seu trabalho foi sobre “Os Aspectos da Comunicação Comunitária no programa Saúde da Família”. Em 2013 dava palestras sobre “As Novas Mídias Numa Nova Configuração Social” e em 2016 “O Discurso Positivo da Diferença Nas Capas das Revistas Raça e Sui Generis”. O período em que eu conheci Antônio foi entre 2003 e 2017, quando ele era professor do Departamento de Comunicação da Faculdade Estácio de Sá de Juiz de Fora e eu gerente comercial. Foi professor adjunto da Faculdade Estácio de Sá de Juiz de Fora, onde atuou como coordenador e também como docente frente aos cursos de jornalismo, publicidade e propaganda, administração, direito, design gráfico, design de moda, educação física e psicologia. Nesta instituição, inicialmente foi responsável pelo desenvolvimento e implantação do Projeto Pedagógico do Curso de Publicidade e Propaganda, no qual, após ser devidamente autorizado pelo MEC, desempenhou as funções de Coordenador (fundador) entre 2003 e 2004. Durante o período de 2005 a 2010, dirigiu as ações de coordenação geral do Projeto Rondon, desenvolvidas pela parceria entre Faculdade Estácio de Sá de Juiz de Fora (FES/JF), Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC/ MG) e Governo do Estado de Minas Gerais. Entre 2007 e 2011 acumulou as funções de Coordenador Pedagógico dos cursos de Jornalismo e de Publicidade e Propaganda, além de, paralelamente, atuar como Coordenador do Núcleo de Comunicação (NUCOM). Entre 2007 e 2009, foi coordenador do Curso de Pós-Graduação em Mídias Digitais na mesma instituição.
Antônio se lembra que foi nessa época que começou a perceber quantos pretos e pretas estavam por perto naquela faculdade, sonhando os mesmos sonhos, batalhando as mesmas batalhas e sofrendo os mesmos preconceitos. Sentiu mais uma vez a força da corrente ancestral que liga todos os negros e a importância de sua trajetória como exemplo de “volta por cima” e sabia que já olhava para as pessoas para as quais passaria o bastão ancestral. Nas aulas e intervalos, ensinava que: “ser guerreiro é coisa de preto”. Hora me explicou que: "ser guerreiro é ser poderosos enquanto elementos de libertação". Ele seguiu dando o exemplo que eles são capazes e o que a única coisa que os negros não querem é o impedimento. Afirmou com uma certeza invejável que: “não estamos aqui para sermos apagados” e profetizou que: “não nos apagaram e não nos apagarão jamais”. Sobre o jornalismo ele explicou que essa profissão é um desafio quando praticado por mulheres pretas e homens pretos, pois eles trazem para a realidade da profissão a mesma realidade que vivem na sociedade, com suas contradições, seus enfrentamentos, suas dores e “dis-sabores”. Ele ensina que a resiliência, a capacidade de luta, a assertividade e a altivez fazem parte do dia-a-dia dos profissionais negros, bem como o enfrentamento ao preconceito e ao racismo estrutural velado. Incrível que ainda hoje existam questionamentos sobre a capacidade profissional dos negros dentro e fora das redações. Ele desenvolveu estratégias contra os ataques racistas e dá a dica: “andar bem-vestido, educação e conhecimento diminui a resistência, mas não resolve”.
Na foto acima, Antônio Hora foi abraçar sua ancestralidade representada por esta árvore "plantada" no Cais do Valongo - RJ, que era o local de desembarque dos negros escravizados ao chegarem no Brasil. Ele explicou que: “nós negros não temos genealogia, mas nós temos ancestralidade”, pois os negros não tem árvore genealógica como os brancos, sempre bem documentados. Os negros pensam em ancestralidade, que é uma maneira muito mais ampla de entender sua herança com uma gama enorme de pessoas e personagens que vieram antes de você e contribuíram para sua história e hoje ocupam o ”Orum”, isto é, um outro espaço na crença das religiões de matriz africanas, que não tem a imagem do céu, mas sim do Orum. Hora completou que: “é lá que moram nossos ancestrais, independente de terem laços de consanguinidade. Para ele um ambiente bem mais expandido se comparado com a genealogia tradicional branca baseada no sobrenome e família consanguínea. Com felicidade Hora descreve muitos nomes de sua ancestralidade que contribuíram para a sua existência: “Zumbi dos Palmares, Tereza de Benguela, Dandara, Abdias do Nascimento, Nelson Mandela, Glória Maria e todos os outros negros que fizeram a história da negritude antes dele. Ele humildemente se baseia e se inspira nessa rica ancestralidade para poder continuar a sua luta diária e se dedicar à sua maior paixão que é “a vida”, que ele considera a maior dádiva oferecida pelos Deuses.
Desde 2021 Antônio Carlos da Hora é gerente na Secretaria de Planejamento do Território e Participação Popular da Prefeitura Municipal de Juiz de Fora e atua junto a população e os empreendedores sociais. Entre outras funções Hora é responsável por coordenar e promover as ações relativas à implementação das Assembléias de participação popular, estimular e promover as práticas de participação popular no conjunto das estruturas de Governo. Em 2022, como gerente da SEPPOP, Antônio Carlos da Hora, Presidente da Comissão Eleitoral, coordenou o Fórum Roza Cabinda em resposta ao debate gerado pela concessão da Comenda Henrique Halfeld à memória de Roza Cabinda. Para ele a história do município, do Brasil e de qualquer negro é uma história de revolta, de resistência contra a violência, o genocídio e o encarceramento, de luta contra o chicote, do medo da polícia e do cacetete. Mas na opinião de Antônio, graças aos Deuses no Orum, hoje Juiz de Fora respira negritude e o movimento negro está cada vez mais forte e resgata também a representatividade de Cirene Candanda, Nelson Silva, Adenilde Petrina, Sueli Gervásio, etc. O exemplo de vida de Antônio Carlos da Hora nos mostra que é possível quebrar todas as barreiras do racismo estrutural, pois ele recebeu o Título de Mestre em Comunicação e Cultura pela UFRJ, na mesma faculdade onde seu pai lavava os banheiros.
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