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Domingo, 06 de Outubro de 2024
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Maurício Oliveira – Jornalismo Competente

Nossas Riquezas Pretas de Juiz de Fora #006

Alexandre Müller Hill Maestrini
Por Alexandre Müller Hill...
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Maurício Oliveira – Jornalismo Competente
Maurício José de Oliveira Júnior
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Este projeto tem como objetivo destacar os expoentes negros do município de Juiz de Fora e legar exemplos positivos de sucesso de pessoas pretas para as futuras gerações. A reportagem #001 foi sobre a advogada Carina Dantas, a #002 foi sobre o poeta Antônio Carlos Lemos Ferreira, a #003 do Professor Geraldeli Rofino, a #004 com líder sindical Paulo Sérgio Pena Félix, a #005 foi com o gestor Fernando Luiz Eliotério, agora é a vez da #006 reportagem com o jornalista Maurício Oliveira.
Esta sexta reportagem é sobre o simpático e competente Maurício José de Oliveira Júnior, hoje com 36 anos, nascido em 16.10.1986 no bairro São Benedito – Juiz de Fora – MG, filho da professora Carmencita Jussara Siqueira e do cozinheiro Maurício José de Oliveira. O pai trabalhava muito durante o dia, com uma voz bonita, apresentava alguns shows à noite e cantava em alguns bares e restaurantes. O nome de Maurício filho foi uma homenagem ao pai que veio a falecer em 2000 por complicações da diabetes, mas dele herdou a bela voz. Maurício tinha apenas 13 anos, mas se lembra do pai com um carinho incrível, passeando com ele (foto) e seu exemplo de batalhador. A juventude de Maurício foi normal, porém cresceu acompanhando as cirurgias do coração que sua mãe precisou. Infelizmente na quarta operação em 2013, a mãe que já se recuperava da cirurgia na Santa Casa de Juiz de Fora, sofreu um AVC.


Maurício
sabe muito pouco de sua ascendência paterna, pois o maior contato foi com a família por parte de mãe. Ele lamenta não ter conhecido seus avós paternos pessoalmente que eram de Juiz de Fora, pois já eram falecidos quando nasceu. Mas se lembrou com alegria que chegou a conhecer seu avô materno, Sr. Benoni Siqueira: “eu sei que vovô tinha vindo de Santa Bárbara do Monte Verde – MG, mas faleceu em Juiz de Fora quando eu tinha apenas 3 anos” (foto com o primo). A maioria da família morou no bairro São Benedito, onde ele pode aproveitar bastante da convivência com avó materna Dona Áurea Siqueira (foto), falecida em 2011 aos 90 anos. Maurício descreveu com saudades os mimos da vovó Áurea, pois ele passava os finais de semana em sua casa: “ela preparava meu Nescau, fazia batata frita para mim; coisas de vó, né?”. Dela Maurício herdou o jeitinho sempre muito carinhoso e as palavras doces para resolver qualquer situação. Ele não conheceu seus bisavós ou ancestrais, mas contou que: “em minha memória passou um filme e lembrei que meu avô materno era descendente de índios e que minha avó materna era branca; já meus avós paternos só conheci por fotos, mas eram todos negros sim”.
Durante a entrevista Maurício confessou que lembrar de sua trajetória mexeu em muitos sentimentos que estavam escondidos dentro dele: “sabe, nunca foi fácil para quem veio de origem humilde”. Ele acredita que se comparando aos seus antepassados conseguiu muitas conquistas até aqui. Na sua convicção: “não devemos nos diminuir por essas adversidades da vida”, mas lembrou que o racismo estrutural é cruel, pois está inserido e disfarçado nas entranhas na sociedade. Para ele ainda existe sim essa ideia de que pessoas negras são inferiores na capacidade intelectual: “esse mal assola a sociedade, precisamos desconstruir essa ideia de que os negros nasceram apenas para servir e ocupar posições de pouco destaque”. E foi isso que Maurício sempre fez.

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Sua paixão sempre foi o jornalismo, ainda menino, com quatro anos, amava assistir programas de entrevistas, horário político-eleitoral, jornal local, programas de debates, etc. Seu ensino fundamental foi na Escola Estadual Duarte de Abreu, no bairro Vitorino Braga e toda vez que alguma professora propunha trabalho em classe, “eu dava um jeito de transformar a apresentação em formato de jornal televisivo”. Maurício sempre estudou em escola pública e o ensino médio foi na Escola Normal. Na adolescência passou a admirar jornalistas de rede, aqueles que aparecem em todo território nacional: Gioconda Brasil, Ismar Madeira, Bete Lucchese e Giovana Teles. Quanto à participação de negros na sociedade, enfatiza que: “a luta é justamente disputar por mais espaços que contemplem todos profissionais”. Para ele ainda é muito baixo o número de pessoas negras que ocupam lugares de destaque na mídia brasileira. Em Juiz de Fora, por exemplo, temos uma média inexpressiva de profissionais que não possuem o padrão estereotipado por grande parte da sociedade.
Maurício lembrou que ainda hoje poucos são os jornalistas negros de expressão nacional como Glória Maria, Heraldo Pereira, Maria Julia Coutinho, Jarid Arraes, Joyce Ribeiro, Luciana Barreto e Dulcinéia Novaes. Apesar dessa resistência, na época foi a jornalista da TV Integração Erica Salazar (foto de capa) quem teve grande participação também para sua decisão: “sempre a admirei como profissional”, e completou o elogio que: “foi o jeito único dela de se portar diante das câmeras que despertou meu interesse em mergulhar numa faculdade de jornalismo”. Em 2008, determinado e já apaixonado pela mídia televisiva, Maurício se inscreveu na faculdade de jornalismo no Centro Universitário de Juiz de Fora (CES/JF). Como grande parte da população que não nasceu privilegiada financeiramente, Maurício trabalhou duro durante o dia para pagar sua faculdade e realizar o sonho de criança.

Seu primeiro trabalho formal foi no comércio de Juiz de Fora, na loja Humanitarian Calçados. Foi ali que também teve a certeza que a Comunicação é uma ciência, pois ele gostava mais de conversar e falar com os clientes do que vender; mas precisava vender muito para ter comissão e pagar a faculdade que “custava” quase todo seu salário. Focado, a primeira coisa que comprou com o dinheiro do emprego foi um computador para escrever e trabalhar como estudante de jornalismo. Em 2008, ainda no segundo semestre da faculdade se candidatou a estagiário da Radio Solar AM, mas não acreditava ser selecionado. Para sua surpresa ao chegar lá “só estudantes da UFJF”, que eram os ricos, achou que por ser de faculdade particular não teria chances. Porém as portas se abriram quando ouviram Maurício atuando na rua com seu profissionalismo. Como teste foi enviado para o bairro Santa Candida e de lá enviou pra Marcelo Juliani vários flashs ao vivo para o estúdio da rádio. A diretora Elisabete Gouvea, que acompanhava tudo, se encantou com a capacidade e a voz de Maurício. Ele tinha o rádio na veia e mostrou que sabia como ninguém entrevistar o povo na rua.
Estava diante da difícil decisão de largar o emprego que pagava salário e o sustentava ou ir viver seu sonho que só o ajudava com 200 reais por mês? Maurício escutou a voz do seu coração: “vai cara, vai ser feliz”. Sua paixão era agora realidade e ele vivia uma das melhores épocas da sua vida. Ele era só estagiário, mas queria ficar o dia inteiro na redação. Maurício, que quando criança gostava de escutar Paulo Cesar Magela na rádio, agora estava ali, inserido junto com seus ídolos. Emocionou-se quando ouviu pela primeira vez seu nome: “vamos trazer agora Maurício Oliveira direto das ruas”. Estava em um sonho acordado. Em 2011, no mesmo dia que concluiu o curso de Jornalismo a diretora contratou Maurício. Agora era Maurício quem apresentava os programas “As Primeiras do Dia”, “Solar Notícias” e “Ronda Policial”.

Maurício estava decidido a alçar voos na TV, em 2013 atuou como produtor da TV Integração de Juiz de Fora. Em 2014 o convidaram para trabalhar na Inter TV dos Vales afiliada à Rede Globo em Ipatinga – MG. A mudança de cidade foi com espírito de aventura: “tive somente 48 horas pra arrumar as malas, pegar o mapa e chegar em Ipatinga. Ele atuou como repórter e cada dia era um aprendizado novo e muitas expectativas, mas grandes oportunidades. Para Maurício a rotina de um repórter era a melhor parte do trabalho. Tudo muda a todo instante: "eu chegava na redação e a proposta de trabalho para aquele dia era uma, mas tudo mudava o tempo todo”. Ele queria deixar o público bem informado e com qualidade, pois para Maurício o bom do jornalismo é isso, “você se aproxima das pessoas, das situações e percebe o quanto seu trabalho é importante”. Estava feliz de ter chegado como repórter na sonhada Rede Globo e tinha muito contato com a apresentadora do MGTV2 Joana Telles (foto acima) e outros profissionais.
Em 2015 retornou a Juiz de Fora contratado como repórter da JFTV Câmara, canal Legislativo da Câmara Municipal de Juiz de Fora. Na JFTV Câmara ele era o único negro, mas Maurício abraçou a oportunidade com profissionalismo e muitas vezes recebia mensagens de telespectadores dizendo que gostavam muito de ver um negro na TV Legislativa. A responsabilidade era grande e ele se lembra de sua primeira apresentação num evento da Câmara. Estava muito nervoso, mas perfeccionista, Maurício se preparou bem, combinou a gravata com o evento e no momento certo a potente voz encheu o salão da Câmara Municipal. Nascia ali um mestre de cerimônias! Merecidamente passou a ser o cerimonialista do legislativo municipal. Em abril de 2018 a vida recompensou Maurício com uma nova paixão, conheceu o seu companheiro Robson Presto (foto nr. 2), lembrou com brilho nos olhos que desde dezembro já moram juntos. Robson era ouvinte da Rádio Solar AM e acompanhava Maurício na época que ainda morava em Piau – MG. Quando veio para Juiz de Fora trabalhar e estudar fisioterapia procurou Maurício e hoje dividem os planos de vida.

Em 2019 foi promovido a Superintendente de Comunicação Legislativa da CMJF. Maurício desenvolve um trabalho que toca o coração e faz com que as pessoas se sintam representadas. Com o reconhecimento do público por sua voz grave e aveludada, de 2021 a 2022 foi transferido para a Assessoria de Cerimonial e Eventos Institucionais da CMJF, atuando na apresentação de todos os eventos promovidos pelo Legislativo Municipal. Em 2023 o vereador Juraci Scheffer o convidou para integrar sua equipe de comunicação no gabinete. Atualmente Maurício trabalha também como jornalista independente e empreendedor autônomo. Figura chave dos cerimoniais, Maurício começou a receber convites de São Paulo, Três Rios, Valença e Zona da Mata para formaturas, inaugurações, casamentos e atuando como mestre de cerimônias em eventos e solenidades. Ele lembrou que são poucos os negros que trabalham como ancoras das emissoras de Juiz de Fora e do Brasil, na maioria das vezes os profissionais negros recebem pautas das comunidades ou reportagens em bairros. Na sua opinião isso é reflexo direto de como o negro está inserido na sociedade, a maioria dos políticos, postos de chefia e empresários ainda são pessoas brancas. O sonho de Maurício é voltar para a televisão em uma emissora de Juiz de Fora e resumindo sua vida, confessou que: Jornalismo é minha paixão e eu ocupo os espaços por acreditar em mim e não por questão de pele”.

Receba notícias da RCWTV no Whatsapp e fique bem informado! Na sequência das reportagens pretendo ainda publicar muitas entrevistas com Rita Felix professora e escritora, Giane Elisa presidente da Funalfa, Jucélio Maria vereador, Nego Bussola exemplo de empreendedorismo social, Reginaldo Barbosa Lixarte, Denilson Bento escritor, Angela Maria Lopes proprietária da Livraria Ca D’Ori, Geraldo Magela redator-chefe da TM, Paulo Zacarias presidente do MNU, Luiz Sérgio Associação do Servidores, Martvs Chagas secretário, Valquiria Marcia Tiodoro, Antônio Hora PJF, Júlio Black jornalista, Paul Almeida professor, Marcony Coutinho MNU, Osvair batuque, Roberto Belfort, Mariano Batuque e Régis da Vila samba, etc.

 

FONTE/CRÉDITOS: Maurício José de Oliveira Júnior
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Alexandre Müller Hill Maestrini

Publicado por:

Alexandre Müller Hill Maestrini

Alexandre Müller Hill Maestrini é professor de alemão no Instituto Autobahn e autor de quatro livros: Cerveja, Alemães e Juiz de Fora, Franz Hill – Diário de um Imigrante Alemão, Lindolfo Hill – Um outro olhar para a esquerda e Arte Sutil.

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