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Terça-feira, 29 de Abril de 2025
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Adenilde Petrina – Intelectual Orgânica e Doutora

Nossas Riquezas Pretas de Juiz de Fora #033

Alexandre Müller Hill Maestrini
Por Alexandre Müller Hill...
Adenilde Petrina – Intelectual Orgânica e Doutora
Adenilde Petrina Bispo
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O objetivo dessa série é dar visibilidade para aqueles que a sociedade sempre tentou tornar invisíveis. Assim nasceu a série Nossas Riquezas Pretas de Juiz de Fora. O #NossasRiquezasPretasJF é um projeto antirracista do Instituto Autobahn que visa destacar os expoentes negros do município de Juiz de Fora e legar exemplos positivos de sucesso para as futuras gerações. Iniciado em 2023 com o formato de coluna no Portal de Notícias RCWTV, a reportagem #001 foi sobre Carina Dantas, #002 Antônio Carlos, #003 Geraldeli Rofino, #004 Sérgio Félix, #005 Fernando Elioterio, #006 Maurício Oliveira, #007 Ademir Fernandes, #008 Gilmara Mariosa, #009 Batista Coqueiral, #010 Cátia Rosa, #011 Eliane Moreira, #012 Antônio Hora, #013 Ana Torquato, #014 Alessandra Benony, #015 Sil Andrade, #016 Joubertt Telles, #017 Edinho Negresco, #018 Denilson Bento, #019 Digo Alves, #020 Suely Gervásio, #021 Tânia Black, #022 Jucelio Maria, #023 Robson Marques, #024 Lucimar Brasil, #025 Dagna Costa, #026 Gilmara Santos, #027 Jorge Silva, #028 Jorge Júnior, #029 Sandra Silva, #030 Vanda Ferreira, #031 Lidianne Pereira, #032 Gerson Martins, #033 Adenilde Petrina, #034 Hudson Nascimento, #035 Olívia Rosa, #036 Wilker Moroni, #037 Willian Cruz, #038 Sandra Portella, #039 Dandara Felícia, #040 Vitor Lima, #041 Elias Arruda, #042 Bruno Narciso, #043 Régis da Vila, #044 Claudio Quarup, #045 Wellington Alves, #046 Lucimar Silvério, #047 Paul Almeida, #048 Negro Bússola, #049 Zélia Lima, #050 Paulo Cesar Magella, #051 Samuel Lopes e agora é a vez de Gláucio Anacleto de Almeida.

Por Alexandre Müller Hill Maestrini

A primogênita Adenilde Petrina Bispo, nasceu em 29.06.1952 em Cachoeira do Campo, distrito de Ouro Preto (MG) e veio com a família em 1963 para Juiz de Fora e trouxe consigo uma tradição oral ancestral do lado materno. Atualmente Adenilde ou “Dona Dê” – como é carinhosamente chamada na Candinha – é uma figura inspiradora e dedicada à luta por justiça social e igualdade. Mulher negra, intelectual orgânica, cidadã honorária, doutora, graduada em Filosofia e militante incansável por toda a sua vida, desempenhou um papel fundamental na transformação do seu querido bairro Santa Cândida e da sua cidade: “me envolvi inicialmente na luta por acesso ao básico, como por exemplo a água”. Sua doce conversa é prazerosa, desarmada e rica.
Ela vai contando seus feitos com humildade e sabedoria e recheando com fatos históricos relevantes: “desde que cheguei no bairro venho trabalhado arduamente para empoderar mulheres, dar melhores condições ao povo preto e periférico e para melhorar as condições de vida de sua comunidade”. Em sua residência nos sentimos em casa; um local agradável e pacífico onde podemos perceber o vai-e-vem de amigos que entram e saem espontaneamente. A cada encontro com os moradores Dona Dê é reverenciada e respeitada. Ela mesmo define que: "carrego comigo a história do bairro Santa Cândida misturada na minha própria trajetória". Como aquela que guarda os segredos da ancestralidade, mas passa-os aos preparados e interessados com prazer, para começar a entrevista nos mostrou a Biblioteca do Coletivo onde tudo começou. (Vídeo abaixo)

A mãe da Adenilde, Lindaura Bispo dos Santos, negra, nasceu em Cachoeira do Campo (MG) em 1922 numa espécie de Quilombo conhecido como Morro das Pedras: “era um local muito ingrime e de difícil agricultura”. A mãe de Adenilde infelizmente só completou a primeira série e mal sabia ler e escrever: “ela queria que a gente fosse até a quarta série para saber ler as receitas e estávamos destinadas a trabalhar para patroas brancas”, lamentou Adenilde. Na época de juventude, Lindaura morava no bairro Morro do Cruzeiro e lá conheceu Luiz Bispo, negro, nascido em 30.06.1917 na cidade de Cordisburgo (MG): “meu pai estava na época a serviço do DER, Departamento de Estradas e Rodagens de Minas Gerais, em Itabirito, empenhado na construção da estrada entre Ouro Preto para Belo Horizonte”.
Foi numa das festas em Cachoeira do Campo que seus pais se conheceram e se casaram, ele com 32 e a mãe com 27 anos. O casal decidiu fixar residência em Cachoeira do Campo onde criaram os cinco filhos, mas logo estavam acompanhando o pai para várias localidades por causa do trabalho: “fomos para Patos de Minas em 1954, voltamos para Cachoeira, nos mudamos para São Joao del Rei onde comecei a estudar no primeiro ano primário, mas completei o 1° e 2° ano em Barbacena”. Como a família era pobre, Adenilde não teve álbuns de família e são poucas as imagens que sobreviveram ao apagamento financeiro e a uma chuva forte que estragou muitos documentos. Abaixo e à esquerda Adenilde mantém um quadro na sala de sua casa a única fotomontagem da família Bispo: "eu sou a mais velha, aquela embaixo da minha mãe, Ao meu lado minha Clareth, embaixo de mim a Nivéa e o Nonô ao lado. A Reinalda não tinha nascido ainda", comentou a foto.

O pai Luiz Bispo tinha se aposentado recentemente depois de uma vida trabalhando no Departamento Estadual de Estradas e Rodagens (DER) na construção de estradas no Estado. Adenilde sabe pouco de sua ascendência paterna: “sei que ele era esotérico e rezava para o universo. Isso me impressionou e o Universo conspirou para me ajudar e direcionar, sempre para coisas boas”, se lembrou Adenilde da herança paterna. Luiz Bispo era um menino decidido e tinha sido criado pela mãe solteira Benvinda Pereira dos Santos: “meu pai teve uma infecção na perna e os doutores brancos quiseram amputar. Minha avó concordou pois achava que o Dotô branco sabia o que fazia, mas meu pai fugiu e nunca mais buscou contato com a família”, explicou Adenilde que nem chegou a conhecer a avó paterna. Ela contou que o pai era fascinado por discos voadores, consertava rádios e queria juntar dinheiro para construir uma nave espacial: “depois de terminar o primário ele fez um curso técnico de rádio e eletrônica em 1956 no Instituto Rádio Técnico Monitor (foto acima). Na agradável conversa a gente pode perceber a ligação de Adenilde com a cosmologia e o amor pelo universo: “herança do meu do pai”.

Quando os Bispo chegaram em Juiz de Fora em 1963, pouco antes do golpe militar de 1964, a família Bispo foi morar numa casa alugada dentro da Fazenda Santa Luiza, no Retiro (hoje bairro Floresta). Adenilde com pouco mais de 11 anos foi matriculada na terceira série da Escola Municipal Leopoldo Augusto Penizollo (foto acima). A mãe de Adenilde, que era muito brava e muito carinhosa com os filhos, era dona de casa, cuidava dos cinco filhos com amor e ainda ajudava na colheita de café da fazenda: “minha mãe era preocupada com a ética, a honestidade dos filhos e não admitia que mentissem”. Adenilde não sabe de sua genealogia, mas explicou suas suposições de acordo com seus estudos: “eu acredito ser descendente do povo Bantos pelas comidas e oralidade, pois eles não tinham escrita”, explicou. Os bantos formam um grupo étnico africano que habitavam a região da África ao sul do Deserto do Saara e os mais de 300 subgrupos étnicos ocupavam, antigamente, cerca de 70% do território da África: “e também pelas comidas fui deduzindo nossa origem. Minha família sempre gostou de fazer guizados com muitos legumes, jiló e chuchu, angu e carne de porco. Meus antepassados diziam que essas comidas vieram da África”. Além disso a maior parte dos negros escravizados que foram trazidos para o Brasil eram de etnias banto: “vieram do Congo, de Benguela, Ovambo, Cabinda, Angola, etc”, lembrou de suas leituras.
Na primeira infância, apesar de gostar de ler os livros que seu pai trazia: “eu queria ir além daquelas leituras, mas imaginava meu futuro limitado às atividades domésticas”. Adenilde foi para a Escola Municipal Carolina de Assis estudar na quarta série: “na época que estudei lá, a escola pertencia a Fábrica São João Evangelista, de propriedade da família dos Assis. Lembro-me que tinha a rua principal com as casas mais lindas, onde moravam os funcionários graduados e importantes. Já na vila as casas eram mais simples, onde moravam os operários mais humildes da fábrica”, lembrou. Em 1968 ela se mudou para o ginásio da recém-criada escola da CNEC no bairro Floresta, a Escola Nossa Senhora Aparecida: “minha mãe ficou muito brava, pois achava que Adenilde deveria concluir só a quarta série e ir trabalhar nas casas de família”, com coisa que só casa de branco era de família: “o racismo está nas nossas falas do dia a dia”.
Foram quatro anos de felicidade para a menina Adenilde e logo em 1969 foi indicada pela irmã Maria Rosa para estudar no Colégio Normal Santa Catarina: “eu estudava de manhã com as meninas ricas e de tarde eu fazia serviços gerais de limpeza pra compensar. Foi assim que me formei em 1971 como professora de curso primário”. Dessa época ela se lembra do racismo e humilhação sofrida de alguns professores: “alguns queriam me dar pau, eram tão racistas que mesmo eu sendo ótima em matemática eu ficava nervosa e esquecia tudo”. Na época Adenilde era a única negra do colégio, mas não imaginava que aquilo era racismo: “eu achava que os ricos eram superiores mesmo e que eu tinham mesmo que abaixar a cabeça”. Ela contou que foi uma generosa amiga de sala, a filha do prefeito da época, quem a ajudou a aprender a matemática e a comprar o caríssimo material exigido.

Nessa época Adenilde estava convencida que seria normal ela ter dificuldades, ter que ficar para limpeza e sofrer aquelas humilhações: “foi um período de muito aprendizado, pois apesar de tudo eu estava dentro de um ambiente religioso e tinha entrado em 1968 para participar da Ação Católica dos padres franceses que me ensinaram o lema Ver, Julgar e Agir”. Durante a ditadura militar os religiosos ofereciam formação política às jovens: “na minha época a escola só aceitava alunas”. Foi nesse colégio que tinha escutado os primeiros discursos sobre emancipação: “os padres franceses e outros integrantes da comunidade eclesial eram avançados”. Os padres contribuíram na luta pela democratização do país: “eles falavam sobre direitos sociais e civis e igualdade social”, lembrou.
Os Bispo se mudaram em 1969 para o bairro Eldorado e o pai aposentou e foi trabalhar na Transamazônica para juntar dinheiro e compra a casa própria no bairro Santa Cândida, na Rua Dante Belei, 70, Zona Leste de Juiz de Fora: “onde minha militância começou e onde eu moro até hoje”. Em 1971, quando Adenilde terminou o curso normal, já estava na militância social e por 4 anos trabalhando no Colégio Santa Catarina como Auxiliar de Secretaria: “como eu achava que iria me tornar freira e as irmãs Santa Catarina me deram um emprego”. Quando foi para o seminário em Petrópolis Adenilde se confrontou com o luxo, comparado à pobreza de casa e questionou: “que cristianismo é esse que eu tinha de tudo e do melhor e lá em casa dormiam todos num cômodo só e comiam só batata-doce com café”. Foi nessa ocasião que ela desistiu de ser freira e voltou para a militância: “fiquei só um mês lá”.
Ela contou que a presença da igreja na época da ditadura militar representou os espaços possíveis de reunião dos movimentos de esquerda sem sofrerem as perseguições dos militares e serem ameaçados: “os militantes comemoravam a Teologia da Libertação”, que foi um movimento sócio-eclesial surgido dentro da Igreja Católica na década de 1960 e que, por meio de uma análise crítica da realidade social, buscou auxiliar a população pobre e oprimida na luta por direitos. Nas fotos abaixo, momentos de sua trajetória de lutas, de jovem ativista até se tornar referência na cidade, sempre em prol do seu querido bairro Santa Cândida: “minha avó falava que a gente era como uma plantinha que tinha que florecer aonde a gente foi colocada por Deus. E foi isso que eu fiz.”, lembrou com saudade.

A avó materna de Adenilde Ana Josina das Santos era parteira e benzedeira: “uma pessoa fortíssima, de personalidade marcante e uma sabedoria muito grande que ela adquiriu em vivências e dificuldades. A Sinhá Ana ou Sinh’ana, como era conhecida: “foi mãe solteira de três filhas de três namorados diferentes”. O nome dos avós maternos, pais das três irmãs, Adenilde não sabe: “minha mãe não falava os nomes de nenhum deles”. Adenilde tem na lembrança uma avó materna alegre, contadora de casos e muito querida entre os jovens. Foi a avó quem ajudou a criar os netos: “minha tia Rita também foi mãe solteira e a vovó ajudou muito”, contou Adenilde. Sua avó chegou a pedir esmola em cidades vizinhas para sustentar as filhas e netos. A menina Adenilde era muito ligada à avó e se lembrou o que ela dizia: “nós pretos fomos largados no mundo e só temos a estrada para sobreviver. Aprendi a não guardar mágoa e rancor, mas sim andar pra frente de cabeça erguida”. Emocionada, Dona Dê nos confessou que o que ela é hoje, ela deve à avó: “quando a gente saía para passear nas noites estreladas, minha avó me mostrava o céu e contava que escutava as estrelas e os sons dos planetas. Incrível que com a tecnologia de hoje sabe-se que cada planeta emite um som”.
Seguindo na ancestralidade, Adenilde contou sobre sua bisavó materna, que também era conhecida como Ana, de sobrenome desconhecido. Sá Ana, como a chamavam, tinha sido escravizada nas fazendas da região de Cachoeira do Campo e Ouro Preto (MG) e em 1888 quando houve a abolição, abandonados à própria sorte, foram morar no Morro das Pedras: “ela era descendente de de indígenas puris e escravizados africanos. Eles apanhavam tanto, sofreram tanto, mas aprenderam a não se revoltar para poderem sobreviver”. Já o bisavô materno de Adenilde descendia de escravos nas fazendas da região de Cachoeira do Campo: “eu só sei que meus ancestrais sempre trabalhavam para as famílias dos brancos, eles iam nas casas fazer as tarefas e lavavam a roupa, em troca recebiam comida”, não tinham empregos fixos.

Ela lembrou que na periferia como pobre não se tem a consciência de que as mulheres podem ter vaidade e se acharem bonitas: “com baixa-estima, pensamos que estamos aí para trabalhar e sobreviver”. “Quando eu era jovem achava que meu futuro seria casar, ter filhos, e que minha vida seria limitada a isso”. Mas Adenilde, inspirada pela avó materna, sempre seguiu em frente: “ela foi a minha principal referência feminina”. Adenilde cresceu em uma família predominantemente de mulheres e referências femininas, sua avó nunca deixou faltar nada: “minha avó foi mãe de três mulheres e em minha casa somos quatro irmãs e apenas um irmão”, sorriu. Das palavras da avó, Adenilde lembrou também que: “ela sempre dizia para não abaixarmos a cabeça, que precisávamos enfrentar todas as lutas e que para ser mulher era preciso ter coragem”. A questão capilar Adenilde vivenciou na pele: “minha mãe falava que a gente tinha o cabelo ruim e nos obrigava a alisar. E isso não era bom para nossa autoestima”. Mas ela também se lembrou que: “as pretas com cabelos alisados fugiam da chuva como diabo foge da cruz, pois o cabelo alisado com banha de porco e pente de ferro quente, quando molhado, enrolava na hora”, sorriu.
Com apenas 17 anos, a jovem Adenilde tinha acabado de se mudar para o bairro Santa Cândida e a Dona Aparecida tinha começado um movimento com as mulheres para poder lutar por acesso ao básico: “foi a Aparecida que nos reuniu e nos puxou pras lutas”, lembrou Adenilde com humildade. O bairro era um pasto de ruas estreitas: “as autoridades não se preocuparam em fazer uma coisa bacana prevendo o crescimento do bairro, eles passaram trator e foram vendendo os lotes. Porém toda a infraestrutura só foi conseguida a partir da luta das moradoras organizadas. Tínhamos necessidade de ter esgoto, água, luz, calçamento, enfim, infraestrutura para a comunidade. A Dona Aparecida organizou os movimentos da Sociedade Pró Melhoramento do bairro Santa Cândida, e eu comecei a participar com ela: “foi a necessidade que levou muita gente para os movimentos. Noventa por cento das pessoas eram mulheres da Santa Cândida”. Adenilde percebeu que precisava fazer algo: “iniciei na militância com as mulheres, pois são elas que estão na linha de frente no dia a dia e sabem das necessidades”, comentou. Ajudaram na construção da escola, da igreja e naquela época: “foi nas lutas das Comunidades Eclesiais de Base do Santa Cândida que nós da comunidade nos politizamos”. Adenilde participou da juventude católica em plena época da ditadura militar e depois veio a catequese: “no bairro batalhamos para conseguir o catecismo para as crianças, pois elas ficavam muito abandonadas. Então criamos a Catequese”.
Adenilde lembrou que sua mãe era contra ela ir para a faculdade e falava que seria impossível a filha conseguir passar no vestibular e que ela não conseguiria ganhar dinheiro e se sustentar estudando filosofia: “mas eu estava decidida e fui aprovada no vestibular da UFJF”. Em 1974, ela entrou em sala de aula para cursar Filosofia na Universidade Federal de Juiz de Fora: “fui a primeira pessoa da família a ter acesso à universidade”. Nesta época não havia estudantes negros na Universidade: “só tínhamos uma professora negra e pouquíssimos estudantes negros. Eu era a única preta da minha turma, mas não tinha despertado para o racismo, não tinha consciência”. Qualquer lugar que Adenilde ia fora do Santa Cândida, só encontrava um negro: “na maioria das vezes era só eu mesmo”, sorriu. Sobre a professora negra Adenilde contou que: “os estudantes falavam pra mim com preconceito sobre a única professora negra e me davam o conselho de não ligar pra ela que ela era negra. Para eles ela não prestava porque era negra, em clara demonstração de racismo estrutural”.
Foi na Universidade que ela teve pela primeira vez contato com militantes do movimento negro da cidade e passou a integrar o Grupo de Estudos Afro-brasileiro Acotirene GEABA: “só aí percebi o quanto racismo eu já havia sofrido”. Mas a tomada de consciência foi em um dia de chuva: “como eu sempre fazia, estava indo a pé para a faculdade quando caiu uma chuva forte e eu peguei o ônibus da UFJF. Dentro do ônibus escutei um comentário que não sabia que fora do ponto se pegava gente. E outro aluno respondeu; e isso aí é gente. A raiva me despertou, mas como não sabia reagir, fiquei sem palavras. Foi um choque”, hoje seria diferente sorriu. Dentro da faculdade Adenilde era militante, participava de tudo, era ativa no diretório central dos estudantes (DCE): “mas a ditadura estava apertando e agora era hora de cada um se defender. Os estudantes foram se organizando para se protegerem e me deixaram pra trás. Falaram-me que eu procurasse me defender sozinha no meu morro”, contou desiludida.
Na Universidade Adenilde percebeu que só lia obras de filósofos homens e brancos: “os filósofos negros não tinham livros publicados”, então continuou a ler os brancos, como Heidegger: “mas agora relacionava sobre a minha realidade de mulher negra e da periferia”. Ela contou que foi na universidade que passou por uma verdadeira lavagem cerebral: “todos meus colegas eram de classe média e só eu de pobre. Eu levava as novidades de um novo mundo para dentro de casa e todos escutavam. Minha mãe sempre me lembrava que na vida real eles não tem comida direito, nem água, nem esgoto, etc”. Foi nessa época que Adenilde despertou sua percepção de que ela estava virando as costas para a comunidade: “foi um grande despertar e aí eu fiz uma ruptura com a universidade”. Ela já tinha despertado durante o seminário, agora era um novo despertar maduro: “o sistema é violento, a história do Brasil é violenta, até hoje a desigualdade social é violenta, mas a maioria das pessoas não enxerga a violência desses processos, o quanto somos massacrados”, lamentou.
Assim em 1979, no ano da anistia e fim da ditadura militar, Adenilde teve a sorte de ter o pai e a mãe na sua festa de formatura de filosofia e história pela UFJF: “me lembro deles bem orgulhosos de mim e felizes por terem uma filha formada” (diploma abaixo foto da esquerda). Mas sua decisão estava tomada, não seguiria a carreira acadêmica e decidiu que seu lugar era na comunidade e ela não parou mais de militar nos movimentos. A convite do professor de ética da UFJF, Padre Jaime, desde 1977 ela já trabalhava na como auxiliar de bibliotecária na Biblioteca Redentorista da Igreja da Glória, onde ficou até aposentar-se em 2008. Era da biblioteca que ela levava informações para a comunidade do bairro Santa Cândida: “falava sobre direitos sociais, acesso à saúde, saneamento básico, escola e transporte coletivo”.
Adenilde lembrou que: “até o final dos anos de 1980, a comunidade do bairro Santa Cândida não tinha nenhuma infraestrutura com esgoto, água encanada, luz elétrica, transporte público e igreja”. Adenilde se incomodou com o fato que muitas mães dormiam nas filas de escolas para tentarem matricular seus filhos, mas não tinham vagas para seus filhos: “corremos atrás de construir a Escola de Santa Cândida em mutirão. A gente lutou bastante, conseguimos um terreno e a escola foi finalmente construída em 1985”. A escola foi uma das conquistas mais demoradas e árduas na luta de Adenilde, que chegou a exercer o cargo de secretária da Sociedade Pró Melhoramento do bairro Santa Cândida (SPM), recém-fundada em 16.08.1978. Nessa época a SPM ganhou um salão próprio onde ocorriam as reuniões das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs).
Em 1984, Adenilde passou no concurso da PJF e tornou-se professora de história na rede municipal de ensino: “me dediquei 29 anos em escolas dos bairros Santo Antônio e Teixeiras e fui para o CESU do Centro”. Adenilde Petrina difundia os conhecimentos, falava sobre os personagens históricos negros e a formação do país. Em 1985, durante a luta pela reforma agrária Adenilde politizada levou seus alunos para a primeira reunião do movimento da reforma agrária na cidade. Era a época da redemocratização do Brasil no Governo Sarney, e a reforma agrária, que havia sido uma bandeira dos setores da esquerda antes do golpe de 1964, voltou à pauta política, em particular pelas mãos da igreja católica ligada à Teologia da Libertação. Na foto acima no Seminário da Sociedade Congregação Missionária, no bairro Ipiranga, Adenilde está sentada bem na frente e de braços dados com a amiga. Na foto abaixo Adenilde comemorando seu 35° aniversário com os amigos.
Ela se lembra que a primeira vez que tomou contato com a cultura hip-hop foi em 1993: “na época eu escutei uma música do Racionais MC’s e fiquei maravilhada, o Rap é filosofia pura”, explicou. A batida forte da base dos Racionais e as letras batendo com sua realidade, pensou: “não tem como isso não mexer com a mentalidade dos jovens”. Ela confessou que foi com o pessoal do hip-hop que aprendeu que a sabedoria das ruas é uma grande faculdade: “hoje, se eu tivesse que escolher entre fazer um doutorado na universidade ou aprender na rua, com certeza escolheria as ruas, porque é muito mais a nossa cara”, confessou sem pestanejar. Adenilde se lembrou que os jovens começaram a ler Karl Marx: “eles ficaram encantados com a figura e a filosofia da práxis”. E foi em contato com os jovens periféricos Adenilde se descobriu também uma intelectual orgânica: “um tipo de intelectual que se mantém ligado a sua classe social originária, atuando como seu porta-voz”, explicou o conceito de Gramsci na prática do dia a dia.

Adenilde apoiou a luta dos jovens do Grêmio Estudantil da Escola Estadual Professor Cândido Motta Filho, que nos intervalos colocavam no ar Rádio Escola (foto abaixo à esquerda Adenilde falando na rádio da escola): “foi o Grêmio e o DJ Nonô, da Equipe SpaceLab, que queriam a democratização da comunicação e criaram em 19.06.1997 a Rádio Comunitária Mega FM”. Adenilde atuou lá por dez anos: “a rádio tinha os objetivos de informar, formar criticamente as pessoas e ser uma ponte para a fraternidade”, explicou. No início Adenilde só ajudava na limpeza, depois começou a participar dos programas e chegou a coordenar a rádio (fotos abaixo do centro e da direita no ano 2000): “nós éramos negros e não conhecíamos a história do continente de nossos ancestrais”, aí o programa “Voz d’África” foi criado com o auxílio de um estudante de Angola, depois outros jovens da comunidade deram continuidade ao programa. Adenilde não poderia esquecer da importância do Programa de Mulher, encabeçado por Claudia Regina Lahni: “somos todas muito gratas, porque com ela aprendemos a importância transformadora da informação e que informação é poder”, agradeceu.
Adenilde Petrina contou sobre o racismo estrutural e o impedimento primário da cor: “se você for fazer uma ficha numa loja, dependendo do bairro de periferia que você mora eles não te aceitam. Por exemplo, se quiser comprar um sofá, tinha que mentir e pedir alguém para poder dar o seu endereço e telefone”. A periferia é o quarto de despejo da cidade: “e a gente sente na pele isso. A gente morria de medo de entrar numa loja e as pessoas acharem que iríamos roubar. Isso afastava as pessoas pretas desses lugares. Hoje eu sei que posso estar onde quiser, mas não era assim antes”. Não é mimimi, reforçou Adenilde: “a mulher da periferia levanta, na sua casa, vai fazer almoço, mandar seus filhos para a escola. Depois, chega em casa às sete horas da noite, tem que servir o jantar e limpar a cozinha; tem que buscar os filhos que estão na rua, arrumar a casa e deixar a comida pronta para os filhos, no dia seguinte”. Ela se lembrou de sua mãe falando que quando um branco estivesse falando que era para eles ficarem de cabeça baixa: “como minha mãe sofreu muito ela não queria que a gente sofresse”, justificou a fala da mãe.
E negro tem tempo de refletir? “Não tem tempo nem para pensar e é só pensando na sobrevivência”, lamentou. No ano 2000 Adenilde perdeu o querido pai Luiz Bispo. Sem muito tempo para o luto, pois na periferia os problemas são enormes, Adenilde falou sobre o direito ou não ao aborto: “as vezes, o filho para a menina da periferia é uma aquisição. Se ela tem um filho, ela se sente orgulhosa. Ela nunca teve nem uma boneca, mas tem um filho, agora ela se considera importante”. Para a experiente Adenilde a maternidade pode ser vista como uma única forma possível de “posse”. E com os meninos é a mesma coisa, explicou: “eles não têm nada, nem carro, nem bicicleta, agora ele é pai e conquistou uma posse”. Durante muito tempo Adenilde lembra de ser conhecida como “a Adenilde do Sr. Bispo”, hoje ela é conhecida como a “Adenilde irmã do Nonô”, a referência sempre foi masculina.
Em 2001 eles fizeram todos os trâmites para legalização da Rádio Mega FM junto ao Ministério das Comunicações em Brasília, mas o processo foi arquivado: “continuamos funcionando até que a Anatel e PF vieram fecharam a Rádio: “pagamos uma multa para a ANATEL e a luta continua sem a rádio. O Coletivo Vozes da Rua, o Hip Hop e a poesia são as nossas vozes da rua”. A concessão de rádio comunitária foi cedida à Rádio Life, instalada no bairro São , região leste. Adenilde lembrou que: “a Life estava sob responsabilidade de André Mariano, filho do vereador e pastor da Igreja Quadrangular, Mariano Júnior do PSDB e essa influência política pesou na escolha da Anatel”, lamentou Adenilde. Ela tem uma explicação parecida para quem acusava a Mega FM de pirata: “pirata são as rádios oficiais, pois são elas que correm atrás do ouro e prestam um desserviço à população. O nosso objetivo sempre foi conscientizar e informar”. No vídeo abaixo Adenilde fala sobre o fechamento e sobre a política que proibiu as rádios comunitárias.

Adenilde lamenta que: “no Brasil rádio é igual as capitanias hereditárias, pertencem a poucos da elite”, e lembrou que quem domina as mídias domina o povo. Ela lembrou que a busca por autorização para o funcionamento de uma rádio comunitária não é um processo fácil. Primeiramente, a lei que institui a implantação das rádios é federal e não é capaz de responder a questões específicas do município. Outro fator está na esfera econômica, onde o oligopólio das grandes empresas de comunicação realizam campanhas contra as comunitárias. Adenilde enfatizou a necessidade de Juiz de Fora formar um Conselho Municipal de Comunicação que regulamente, além das rádios comunitárias, todas as formas de comunicação no município.
Para ela, a rádio comunitária questionava exatamente essa democracia: “a periferia é procurada de quatro em quatro anos, e durante os quatro anos seguintes, vive de qualquer maneira. Foi a cultura hip-hop que nos anos 1980 nos tirou dessa invisibilidade”. Tinha um programa chamado “Voz do Morro” e os estudos de história de Adenilde contribuíram muito para a formação desse jornal da rádio. Adenilde lembrou que a comunicação é o quarto poder e que: “o microfone dá um poder enorme, precisamos fazer a reforma agrária das ondas de rádio”. O DJ Nonô, que era um dos responsáveis pela rádio, falou que teríamos que falar sobre o que pensávamos e acreditávamos, pois se um dia a rádio fosse fechada nós não iríamos ficar com remorsos.
Em 2003 a Prefeitura de Juiz de Fora nomeou Adenilde como membro Conselheira do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher, representando a Associação de Mulheres de Juiz de Fora. Nesse mesmo ano Adenilde perdeu a mãe: “uma grande tristeza pra mim, um exemplo de mulher negra e guerreira”. Tinha sido através do Programa de Mulher, que ia ao ar na Mega FM, que ela e outras mulheres do bairro começaram a se enxergar como mulheres: “o programa discutia a história das mulheres, as histórias de luta e conquistas e nos mostrava o caminho”. Adenilde convidou o leitor a questionar: “se você hoje quiser saber o que está acontecendo no Brasil você tem que voltar ao Brasil colônia, pois lá estão as raízes desse ódio que a elite branca tem do preto e do pobre”. E continuou dando uma aula que: “o Estado brasileiro é patrimonial, e tudo é patrimônio de alguém. A Senzala onde ficavam os escravos era Patrimônio da Casa Grande.
Vira e mexe os senhores da Casa Grande distribuíam algumas migalhas para o pessoal das senzalas, os escravos. Quando os escravos tentavam transformar essas migalhas em direitos vinha a repressão. O que aconteceu com a rádio? A rádio foi uma migalha que a elite deu: “quando tentamos transformar isso em direito veio a repressão, a Anatel e a polícia federal fechando um monte de rádio no Brasil e condenado as pessoas das comunidades”. Sem padrinhos políticos a rádio foi fechada em 2007 pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel): “fomos até processados por não termos licença para funcionar e o Juiz nos condenou a pagar trabalhos comunitários ou cestas básicas para alguma entidade, durante seis meses. Eu escolhi fazer trabalho comunitário na Pastoral da Criança do Bairro Santa Cândida e os outros membros da Diretoria preferiram doar cestas para um trabalho de Assistencia Social ligado à Igreja da Glória”, comentou o absurdo. Foram processados: “apesar do importante trabalho de conscientização e apoio à comunidade”, comentou Adenilde indignada.
Mas sua mãe, avó e bisavó tinham ensinado a ela a resistência e a olhar pra frente. Assim, mesmo sem a rádio, Adenilde continuou a passar sua experiência de vida da mulher negra da periferia e se tornou exemplo para milhares de outras mulheres negras jovens. Os estudos de Cosmologia e Filosofia, unidos com a sabedoria recebida pela ancestralidade, ajudaram Adenilde a clarear os pensamentos em momentos difíceis. Junto com os moradores do bairro Santa Cândida, Adenilde sentiu a necessidade de mudar a visão que os bairros do Centro mais rico tinham dos bairros do morro: “é a mesma visão do filósofo negro francês Frantz Omar Fanon que o asfalto pensa da periferia, o morro é feio e o povo é burro”. Assim em 2013 Adenilde participou da criação da Biblioteca Coletivo Vozes da Rua com o mesmo objetivo da rádio: “queríamos mudar a narrativa de como eles mesmo viam a comunidade, difundir a cultura negra, levar formação e informação aos jovens da periferia”. Começaram com eventos e trazendo famosos do hip-hop nacional para se apresentarem no Santa Cândida: “aí o pessoal percebeu, que se eles vem aqui é porque aqui não é tao ruim assim e não somos bandidos”, comentou feliz. Para Adenilde a luta continua sem a rádio: “não vão nos calar, pois o Coletivo Vozes da Rua, o Hip Hop e a poesia são as nossas vozes da rua”.

Adenilde acredita no potencial do Slam de Perifa como uma possibilidade de se elevar a autoestima dos artistas de periferia. Criado em 2016, o “Slam de Perifa” é uma competição de poesias faladas sem uso de objetos cênicos. No vídeo abaixo a chamada para o “Perifa é voz, Perifa é nóiz”. Vale a pena conferir.

No bairro promoveram vários eventos: “no primeiro Agosto Negro, o tema foi a Informação como Quinto Elemento“, lembrou. Adenilde contou que: “historicamente a elite não quer que a periferia tenha conhecimento, pois conhecimento é poder”. Mas ela não é uma pessoa de ficar parada e em 2022 o Coletivo viraria a Associação Cultural, Esportiva e de Apoio Social Coletivo Vozes da Rua, com CNPJ e com objetivos definidos de atividades de organizações associativas ligadas à cultura e à arte e atividades de associações de defesa de direitos sociais. Hoje o sonho de Adenilde é que a sociedade tenha mais fraternidade e solidariedade.

Adenilde defende que o conhecimento deva ser sempre compartilhado: “eu tenho pensado muito sobre a questão da circularidade, pois na África as pessoas discutem tudo em um círculo. Essa ideia de roda de conversa, roda de samba, veio de lá”. Ela aprendeu também com os filósofos Platão, Sócrates e Heidegger, que a circularidade faz você encontrar o ser: “se você anda em círculo, você encontra o seu centro”, explicou. Para ela os jovens hoje estão muito linear: “precisamos nos centralizar, trocar experiências com o outro e olhar pra si. Sem memória, a gente não tem vida e não tem história”, afirmou. Para ela o importante são os grupos, rodas e coletivos irem conversando e: “nessas trocas de ideias a gente vai reconstruindo nossa história e crescendo como seres humanos”. Sempre ativa, mesmo após se aposentar em 2013 do cargo na Prefeitura Municipal de Juiz de Fora, Adenilde atuou como colaboradora para a construção e aprovação em novembro daquele ano do Plano Municipal de Cultura de Juiz de Fora.
O universo conspira mesmo a seu favor: “a professora de Comunicação Comunitária Cláudia Regina Lanhi (na foto acima na esquerda com Adenilde na cerimônia de entrega) tinha feito um trabalho sobre a Rádio Comunitária Mega FM no bairro e sugeriu o nome de Adenilde para uma homenagem da UFJF. Assim em 2017 a universidade concedeu por unanimidade a Adenilde o título de Doutora Honoris Causa, na Resolução nº 16.2017 do Conselho Superior da UFJF, e nas palavras do reitor (foto acima da direita): “valorizamos o conhecimento extramuro da universidade, seu saber e potencial de luta e transformação da sociedade”. O título de Doutora Honoris Causa só é concedido pela UFJF a personalidades, nacionais ou estrangeiras, cujas atividades, publicações ou descobertas tenham contribuído para o progresso da educação, das ciências, das letras ou das artes. Foi o primeiro título da UFJF dado para uma mulher negra: “esse título para mim foi uma surpresa. No início, fiquei relutante em receber e me sentindo culpada por ser homenageada por um trabalho que não era só meu”, confessou Adenilde. Mas foi a comunidade do bairro Santa Cândida que a fez perceber que não era um título só dela, mas para toda a comunidade: “esse título representa a nossa luta que é, sempre foi e será coletiva”, reconsiderou e aceitou receber o diploma em nome do coletivo e da comunidade.

Neste mesmo ano de 2017, depois de 54 anos de sua chegada no Município, a Câmara Municipal de Juiz de Fora reconheceu o trabalho de Adenilde por seus esforços em prol da cidade e a homenageou com o merecido Título de Cidadã Honorária de Juiz de Fora. O Prefeito Bruno Siqueira sancionou a lei e a CMJF reconheceu a militância social de Adenilde, que tomou como projeto de vida a luta pela causa negra, contra o racismo, pelas mudanças e melhorias na periferia, uma vocação pelos pobres e oprimidos. Em 2022, com a série Mulheres Inspiradoras, o Jornal Tribuna de Minas homenageou mulheres que impulsionaram a mudança e inspiraram tantas outras. E Adenilde tem uma vida de militância pela periferia. (Vídeo abaixo)

Em 2020 Adenilde recebeu a Medalha Rosa Cabinda da CMJF e por sua incrível trajetória de militância, em 2023 Adenilde foi convidada a participar do filme “A Voz da Mulher Negra”, com direção Geral do jornalista Jorge Júnior para comemorar o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. A produção audiovisual conta a história de mulheres negras de diversas origens, gerações e classes sociais, com o objetivo de dar voz a essas personagens, relatando suas experiências de vida, dificuldades e conquistas. Durante anos, o preconceito fez com que narrativas ficassem esquecidas e se fez a necessidade de resgatar o que os livros não contam e que, infelizmente, não viram a pauta na grande imprensa. Foi uma produção financiada pela Prefeitura Municipal de Juiz de Fora, por meio do Edital Quilombagens do Programa Cultural Murilo Mendes da Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage. (Vídeo abaixo)

Depois de mais de 3 horas de entrevista agradabilíssima, Adenilde deixa um recado final para qualquer pessoa, branca ou preta, que imagine um mundo em paz: “leia e conheça a trajetória e o legado de Malcom X, uma das maiores influências do movimento Black Power e ativista americano lamentavelmente assassinado em 1965”, encerrou. Obras que Adenilde cuida com carinho na sua biblioteca. No vídeo abaixo Adenilde conta sobre a importância de Martin Luther King para a luta antirracista: “aprendi com os líderes negros e também com minha avó que não podemos excluir ninguém. Como diz a galera da Cultura Hip Hop, é nóiz! Tamos juntos e misturados. Precisamos é incluir todos”, concluiu.


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FONTE/CRÉDITOS: Adenilde Petrina Bispo
Alexandre Müller Hill Maestrini

Publicado por:

Alexandre Müller Hill Maestrini

Alexandre Müller Hill Maestrini é professor de alemão no Instituto Autobahn e autor de quatro livros: Cerveja, Alemães e Juiz de Fora, Franz Hill – Diário de um Imigrante Alemão, Lindolfo Hill – Um outro olhar para a esquerda e Arte Sutil.

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