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Quinta-feira, 12 de Setembro de 2024
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Dagna Costa – Gestora, Poetiza, Juizforana

Nossas Riquezas Pretas de Juiz de Fora #025

Alexandre Müller Hill Maestrini
Por Alexandre Müller Hill...
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Dagna Costa – Gestora, Poetiza, Juizforana
Dagna Costa
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Você já sentou com uma pessoa negra para ouvir a história que ela/ele têm para contar? Este projeto tem como objetivo destacar os expoentes negros do município de Juiz de Fora e legar exemplos positivos de sucesso de pessoas pretas para as futuras gerações. A reportagem #001 foi sobre Carina Dantas, a #002 foi com Antônio Carlos, a #003 com Geraldeli Rofino, a #004 com Sérgio Félix, a #005 com Fernando Eliotério, a #006 com Maurício Oliveira, a #007 com Ademir Fernandes, a #008 com Gilmara Mariosa, a #009 com Batista Coqueiral, a #010 com Cátia Rosa, a #011 com Eliane Moreira, a #012 com Antônio Carlos da Hora, a #013 com Ana Paula Torquato, a #014 com Alessandra Benony, a #015 com Sil Andrade, a #016 com Joubertt Telles, a #017 com Edinho Negresco, a #018 com Denilson Bento, a #019 com Digo Alves, a #020 com Suely Gervásio, a #021 com Tânia Black, a #022 com Jucelio Maria, a #023 com Robson Marques, a #024 com Lucimar Brasil e agora é a vez de Dagna Costa.

Por Alexandre Müller Hill Maestrini

Antes de dar esta entrevista Dagna Gonçalves Costa achava que sua história não era diferente de outras mulheres pretas num país racista. Mas começou contando que nasceu na roça em Tocantins – MG no dia 17.02.1966 pelas mãos de uma parteira. Quando Dagna nasceu sua mãe já tinha perdido três filhos que tiveram pouquíssimo tempo de vida, pois morreram no parto: “éramos 11 irmãos e hoje somos somente 8”. Os outros irmãos são José Luís da Costa (falecido), Ademir, Luís Carlos, Dalva, Dalma, Dalila, Dagmar e Dagna Gonçalves da Costa, além da irmã de criação (filha de uma prima) Doralina de Lourdes Custódio: “ela chegou lá em casa ainda nos cueiros", brincou. A família de seu pai Sinval Gonçalves da Costa é oriunda de Guidoval – MG: “ele era pedreiro e passou a profissão para os filhos homens”, já “minha mãe Terezinha das Dores Costa era lavadeira e faxineira, além de fazer todas as tarefas do lar”. Sua avó materna Maria Cândida Germana sempre foi forte e deixou de herança para sua mãe, que passou para Dagna, que agora passa para seus netos Sophia, Maria Flor, Pietro e Pedro Lucas, a necessidade de: "fortidão, num mundo não construído pra nós negros”. Laços ancestrais que não se rompem. Dagna chamava ela de “Avó Gê” e fez uma bela poesia com esse nome em sua homenagem (abaixo):
A saudade bate forte dentro do meu coração
você se foi de mansinho sumindo na escuridão
Me deixou sem cafuné, sem ter mais o seu carinho
não chegarei a ser flor sem você sou só espinho
Queria tê-la de volta me cantando ao realejo
abraçar seu corpo magro e na face dar-lhe um beijo
Mas Deus a levou um dia não me explicou o porquê
levou-a faz tanto tempo, mas não esqueço avó Gê.
Dagna não chegou a conhecer seus avós pessoalmente: “mas escutei falar que minha avó foi vendida muito jovem e abusada – assim teve muitos filhos, que cresceram sem a figura de um pai”, assim sua árvore genealógica, por parte de mãe, não ramificou além dela. Ela lamentou que: “até isso nos tiraram; o direito a ter família e uma genealogia, mas a ancestralidade ninguém me tira”. Dagna não sabe qual foi a cidade natal exata da sua querida avó Maria Cândida Germana: “creio que ela nasceu em Formoso – MG, já que lá era rota de fuga de escravizados. Sei que foi parar em Tocantins – MG”. A avó e a mãe foram as maiores influências de Dagna na infância e adolescência: “mulheres muito fortes”.
Muitas outras mulheres que muitos citam e pouco conhecem também a influenciaram, como Cirene Candanda, Lélia Gonzalez, Matilde Ribeiro, Graça Sabóia, Nilma Lino, Conceição Evaristo e Carolina de Jesus: “foram muitas que despertaram em mim uma espécie de solidariedade e fé na luta travada diariamente”, muitas hoje com projeção nacional e internacional. Com certeza sua vó materna Maria Cândida Germana (foto abaixo na direita) é a maior referência de vida para Dagna: “quase não dá para reconhecê-la na foto, mas eu lembro dela”. Ela confessou com tristeza que: “tivemos um incêndio num guarda-roupa e quase todas as fotos, que já não eram tantas, viraram cinzas”, lamentou. Ela lembrou também que fotos eram raridades em sua família, seja pelo custo e também pela dificuldade profissional. Abaixo na esquerda a uma das poucas foto dos pais de Dagna, tirada em 1968.

Da família paterna, sobre o avô e a avó Dagna sabe ainda menos: “só conheci por fotos e pelos causos que meu pai contava, pois quando eu nasci eles já haviam falecido”. Ela cresceu entre numerosos tios e tias das duas partes da família, mas hoje infelizmente a maioria já faleceu. O ensino básico Dagna iniciou na sua cidade natal na Escola Estadual Capitão Antônio Pinto de Miranda na década de 70: “vivíamos na roça, com muita dificuldade, porém nunca passamos fome. Por mais simples que a vida na minha terra tenha sido, sempre tivemos fartura alimentar” e “desde muito jovem tive uma vida de trabalho junto aos meus pais e irmãos”. Ainda pequenos os filhos tinham várias atividades de roça, desde apanhar lenha para cozinhar até trabalhar com produtos de safra da região: "era descascar milho, estalar folhas de fumo, entre outras”. Quem apoiava com o coração e defendia a pequena Dagna nas horas difíceis era sempre a vó Gê: “minha grande advogada, mas que faleceu em 1979, me deixando sem escudo”.
Já sem a proteção da matriarca vó Germana, ela foi para a Escola Estadual Doutor João Pinto: “cursei o segundo grau até onde aguentei”, pois a jovem Dagna já era muito revolucionária pra alguns professores da cidade do interior: “eu era também uma capeta e eles sem me davam pau”. Em 1981 ela teve que repetiu o ano, por causa de uma professora de matemática que a reprovou e disse: “você não vai ser nada na vida”. É claro que assim Dagna não terminou o segundo grau, mas se lembrou que sempre foi muito teimosa: “eles sempre me davam corretivos como expulsar da aula, etc”, mas ela gostava mesmo é de fazer o que diziam que ela não conseguiria: “fui mecânica, poetiza e joguei futebol”. Na foto abaixo na esquerda Dagna ainda jovem com a bola no campo de futebol em Tocantins. Na foto abaixo da direita Dagna atual com a neta passando seu conhecimento de mulher forte. Uma coisa é certa, ela sempre esteve com um sorriso no rosto e vem passando para a neta todo carinho e sabedoria que recebeu das mulheres fortes de sua ancestralidade.

Em 1984 ela veio para Juiz de Fora fazer uma experiência, mas: “tive que voltar para Tocantins, pois parecia que as coisas não davam certo pra mim”. Passou por processos sem perspectivas, sufocantes e como é muito inquieta, teimosa e questionadora: “minha adaptação era sempre difícil e aí recorria a minha mãe”. Em 1986, com apenas 20 anos, Dagna foi trabalhar de babá no Rio de Janeiro: “mas foi por pouco tempo, pois era subserviência e submissão demais sem horário estipulado”. Assim voltou para Tocantins e retomou a escola, mas não concluiu: “abandonei a escola por conta do prenúncio de tomar pau”. Com muitas lembranças de revezes na vida, Dagna escreveu o poema “Rompimento” (abaixo), que mostra uma dor imensa das frustrações com o mundo:
Rompi com o mundo lá fora, que num instante devora
as lágrimas de quem chora e depois manda embora.
Rompi com o mundo aqui dentro que não está a contento,
aproveita-se do desalento, prolifera tanto lamento
e critica a alegria do vento.
Rompi com o mundo do meio que alimenta-se do alheio,
e do mofo do centeio, onde não há asseio.
somente medo e receio,
que o corpo caia no seio de um imenso pardieiro.
Em 1987, quando completou 21 anos, pensando em sair do buraco que a sociedade definiu para os pretos, Dagna decidiu se mudar para Juiz de Fora tentar a sorte, conseguir um bom emprego e retomar os estudos para completar o segundo grau: “mas para minha surpresa cheguei em uma cidade provinciana e racista”. Ela se lembrou que na cidade experimentou o pior das pessoas – das más pessoas: “senti que ninguém reconhecia de fato nossa participação na construção da riqueza e da cidade”, para ela até hoje os negros são inviabilizados em Juiz de Fora. Ela contou a história que em 1860 os ancestrais negros eram a maioria da população do município cafeeiro e que: “até hoje tivemos somente poucos avanços na visibilidade de nossa luta”. Seu sentimento ao chegar em Juiz de Fora foi que também ainda hoje convivemos com a rotina da figura de escravizadores o tempo todo nos principais pontos da cidade: “leia os nomes de ruas, dos parques, dos prédios, onde está o nosso povo homenageado? Onde?”, lamentou o apagamento. Era para ela uma cidade estranha: “com um filho e sem perspectiva, passei por um período tenebroso em Juiz de Fora”.

Depois da turbulência da adolescência e início da fase adulta, o lado poeta dela foi se consolidando e seus escritos refletem suas vivências e emoções, como no livro poemas Dagna Mágoa (foto acima), lançado em 1988 pela Academia de Letras Ubaense: “meus livros foram doados para as escolas na região e para a Biblioteca Pública municipal de Tocantins Professor Francisco Arthidoro da Costa”. Em sua cidade natal Dagna foi homenageada em 1996 e se tornou imortal pela Academia Tocantinense de Letras e Artes (ATLA). Mas depois da morte de sua mãe Dagna desanimou: “passei a escrever pouco, somente para alguns eventos, nos quais fui oradora”. Mas ficou a poesia “Tereza” (abaixo), que ela escreveu em homenagem a sua mãe:
Lá vai ela, passos firmes fazendo seu festim
levando nos cachos negros um hibisco carmesim
"Mulher macho sim sinhô”
forte assim nunca vi o nosso caminho da lenha
cabia a ela definir.
Sentia-me muito importante por caminhar ao seu lado
linda negra mulher, a mulher e o machado.
Vida dura mas feliz ela nos proporcionava,
tanto na mina ou no mato, ela não se descuidava.
Capinando e roçando, cantava e contava histórias sem fim,
ainda nos cachos negros um hibisco carmesim.
Crescendo compreendi que vivia numa clausura.
Oh! Deus por que não me permitiu dar-lhe uma vida menos dura?
Tenho tanto a dizer mas nenhuma palavra expressa
essa profunda dor que sinto essa saudade que me acessa.
Quando falam-me dela tristeza maior não há,
sempre a amarei, mesmo do lado de lá
Fico esperando no portão vê-la voltando com seu festim
trazendo nos cachos negros um hibisco carmesim.
Dagna achava que tinha uma trajetória comum a de todas as pretas: “sofrimento, impedimento, invisibilidade, massacrada e daí vivi e vivo até hoje para amenizar até exterminar a barbárie que é o racismo”. Ela se lembrou que ainda vivendo em Tocantins, morando na roça: “eu via com muita raiva a situação que nos era imposta – aos negros e pobres – sem perspectiva de ascensão”. Com isso na cabeça, Dagna passou a defender as pessoas que estavam mais próximas nesta mesma situação: “minha pecha de subverter a ordem me acompanhou por um bom tempo”. Mas o que ela não sabia é que ela era uma revolucionária: “me lembro que várias pessoas da época de juventude diziam que eu não ia ser nada na vida” e completou “como eu já não fosse alguém que precisava emergir de um buracão que cavaram pra nossa gente preta”. Esse sentimento de impotência Dagna expressou através de sua poesia intitulada “Lamento” (abaixo):
Sinhô Deus me responde aqui com toda certeza
se tamém sô seu fio ou parido da tristeza?
O sinhô me discurpe se pregunto desse jeito,
é que tá tudo mei iscuro num vevido dereito.
Pensei inté na morte e num foi de vaga lembrança
e só num murri, Deus, pruquê tinha arguma isperança
E agora aqui tô eu humirde e peito aberto
isperano qui me mostre um caminzim mais certo.
Ó ia a minha aparença os óio chei de mágoa
num tem nem mais brio quanto mais gota de lágrima.
Te improro sinho, acaba minha tristeza
com esse disispero e me dá pra vida beleza.
Com um sonho quase frustrado e muita dificuldades, o estudo foi ficando para trás, pois já tinha um filho e estava sozinha: “fui aos poucos no ensino supletivo completando o segundo grau no CESU entre 2004 a 2007”. Desde a sua chegada na cidade Dagna se enveredou também por outro caminho: “comecei a militar nas causas da justiça social e no movimento negro” e se encontrou no Partido dos Trabalhadores: “aqui passei a entender como era uma luta mais organizada”. No partido teve a sorte de conhecer o ativista José Geraldo “Zaca” Azarias: “passei a participar de debates, reuniões sindicais e me engajando na luta metalúrgica”. Quando Dagna entendeu – na teoria – o significado da luta prática, o que ela já fazia desde pequena se organizou na cabeça: “me juntei a outras pessoas com objetivos iguais”. União era a solução, pensou. Porém mais tarde foi entender que os caminhos para esses objetivos eram diferentes: “muitas das vezes não refletiam uma luta coletiva, mas sim uma luta individual”. Sem perder a esperança, Dagna sonha um sonho ancestral, com o extermínio do racismo e pelo fim de uma "abolição inacabada". Em 1996, depois de muitos debates regionais, foi debatido no encontro do PT a criação da Secretaria Nacional de Combate ao Racismo. No encontro em Juiz de Fora Dagna participou dos debates locais: “entre os delegados estávamos eu o Natanael e o Zaca”.
Mas falar da trajetória de Dagna é vasculhar também suas participações em muitas ações, como no Centro de Referência da Cultura Negra – CERNE, constituído em 1997 como uma organização sem fins lucrativos, com o objetivo de promover a assistência social, educação, cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e cultural da etnia negra. Lá ela apoiou o curso pré-vestibular para negras, negros e carentes. Ela foi co-fundadora do Fórum de Mulheres Negras com debates nas três esferas, Municipal, Estadual e Federal. Em 2004 participou da criação do Grupo Tenda de Mulheres Negras, contribuiu na criação dos Conselhos dos Direitos das Mulheres e de Segurança Alimentar, contribuiu para a criação das Comissões de Saúde da População Negra no Conselho de Saúde e da comissão da pauta racial na OAB, contribuiu no debate do sistema de cotas na UFJF e no país e contribuiu com a introdução da pauta racial nas escolas de Juiz de Fora e região. Incansável participou como palestrante de muitas ações na UFJF nas turmas de serviço social, comunicação e direito e lutou pela instalação de rádios comunitárias em Juiz de Fora e região.
Dagna coloca a mão na massa: “trabalhei como faxineira, atendente, secretária e mecânica, ofício que aprendi quase sozinha”, ingressou no Sindicato dos Metalúrgicos e no Partido dos Trabalhadores (PT), trazendo à luta partidária e sindical para a temática racial. Em 2005 foi eleita a nova diretoria do Conselho Municipal para a Valorização da População Negra (CMPVN), mas o destaque foi a posse da Presidente do Conselho Dagna Gonçalves Costa, a primeira mulher que assume este cargo no Conselho, eleita com 90% dos votos: “é muito importante uma mulher estar ocupando este cargo, porque é mais uma prova de que as mulheres podem estar em cargos políticos”. É um órgão deliberativo, consultivo e controlador das políticas de promoção da igualdade racial em todos os níveis da administração pública.
O CMVPN era o órgão antecessor do atual Conselho Municipal para a Promoção da Igualdade Racial (COMPIR), só criado em 2015 como órgão de assessoria, planejamento e consultoria do município, vinculado à Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH-PJF), que vem buscando sempre a implementação de políticas públicas e promover a articulação com todas as autoridades municipais, estaduais e federais, com vistas à valorização da população negra. A eleição de Dagna deu uma injeção de ânimo aos demais conselheiros e resgatou pessoas que estavam descrentes da luta: “é preciso resolver uma equação de 400 anos de discriminação e barbaridades contra a população negra. Na saúde, na educação, na política, enfim, em todas as instâncias da sociedade é preciso repensar essa questão. O povo negro não pode continuar a ser proponente, mas sim, protagonista da nossa história”, disse na ocasião.
Eleita para um mandato de dois anos Dagna tinha como prioridades a promoção dos negros no mercado de trabalho, na saúde e na religião; a promoção de cursos profissionalizantes para adolescentes negros e a busca de uma integração maior do poder público e da sociedade civil para tentar minimizar as discriminações raciais sofridas por uma grande parcela da população. Dagna explicou que o primeiro projeto lançado foi a Capacitação do Corpo Docente na Cultura Afro passando pela educação básica até o ensino superior. A nova presidente tem boas expectativas para o Conselho: “a atual administração tem uma abertura muito grande e com isso será possível melhorar o projeto que já foi implantado”, afirmou. Dagna acredita que somente com a informação e com a divulgação da luta negra será possível um avanço. No caso das mulheres negras: “é preciso combater a discriminação, através da busca de identidade, da qualificação, da aplicabilidade e da criação de novas leis”.
Em 2005, em comemoração ao Dia Internacional para eliminação da discriminação racial, o Conselho Municipal da Valorização da População Negra promoveu um encontro com representantes das principais entidades que lutam pela valorização dos negros em Juiz de Fora, entre eles estavam Dagna Gonçalves Costa (Presidente do Conselho), Sandra Silva (Movimento Negro Unificado) e Flávio Carneiro (membro do Conselho e Presidente do Batuque Afro-Brasileiro de Juiz de Fora). Dagna em sua fala acrescentou que: “é importante esta integração entre poder público e a sociedade civil para promover a pessoa negra na religião, na educação, na saúde, no mercado de trabalho que ainda não permite aos negros alcançarem cargos de chefia, tanto no poder público como na iniciativa privada”. Segundo ela o conselho está discutindo a aplicação da lei municipal de Cotas e Ações Afirmativas que destina 20% das inscrições em concursos municipais para negros, mulheres e deficientes.
Em 2006 o discurso em nome dos agraciados com a Medalha Nelson Silva foi feito pela presidente do Conselho Municipal para Valorização da População Negra, Dagna Costa: “merecemos a igualdade de oportunidades,” afirmou, enaltecendo o trabalho dos homenageados que lutam pelo bem-estar e qualidade de vida do povo. Ela lembrou que o Conselho Municipal da População Negra foi fundado no ano 2000 e um dos primeiros presidentes foi Padre Guanair da Silva Santos: “ele chegou na paróquia de Benfica no início de 2009 como o primeiro pároco negro de Benfica e fez um trabalho de valorização da cultura e memória afro-brasileira até 2015”. Para Dagna essa homenagem veio reconhecer o conselho como órgão efetivo do Município para trabalhar a justiça social, principalmente no que diz respeito aos negros: “estamos caminhando a duras penas e tentando estabelecer um processo de construção e crescimento”, finalizou. Em março de 2006 a Câmara Municipal e o Rotary Club de Juiz de Fora-Sul comemoraram o Dia Internacional da Mulher, na ocasião foram homenageadas diversas mulheres e o discurso em nome das agraciadas foi feito por Dagna, presidente do Conselho Municipal para Valorização da População Negra.
Em 2014 Dagna foi representante do Conselho Municipal de Juiz de Fora, que tem por finalidade propor políticas que promovam a igualdade racial no que concerne aos segmentos étnicos minorizados do Brasil, com ênfase na população negra 56%, indígena e cigana, para combater a discriminação racial, reduzir as desigualdades sociais, econômicas, financeiras, políticas e culturais e ampliar o processo de participação social. Nesse ano Dagna iniciou sua faculdade de Gestão Pública na instituição de ensino Universidade Estácio de Sá. Sim, em 2014 conseguiu uma bolsa integral pelo ProUni na única vaga da Estácio e se formou em 2016. Dagna Costa se tornou desde 2020 Secretária de Combate ao Racismo do PT de Juiz de Fora e nesse ano participaram da elaboração das propostas de combate ao racismo proposto no programa de governo do PT para as eleições de prefeito de Juiz de Fora. (Vídeo abaixo)

Para ela o primeiro pilar da República a ser derrubado e destruído é o racismo estrutural e as discriminações: “não há sob o manto da democracia espaço pra o racismo”. Em agosto de 2020, sob a liderança de Dagna, a Secretaria de combate ao racismo - Partido dos trabalhadores/ JF fez uma transmissão ao vivo com a participação da prefeita Margarida Salomão preparando os militantes para as eleições de 2020, vários companheiros entre eles Suely Gervásio, e Robson Marques. (Vídeo abaixo)

Para Dagna o racismo se estrutura na inferiorização da outra pessoa, nas suas capacidades e conhecimentos: “a estrutura do Estado precisa e deve abrir o acesso a todos e todas, sem o discurso meritocrático”. Ela lembrou com dedo em riste que: “ninguém pode medir habilidades e competências, se os instrumentos estiverem a disposição de uma casta privilegiada não negra”. Ela lembrou que mais de 56% da população do país é negra e existe na verdade há uma institucionalização do racismo: “um policial que representa o Estado, mata em nome desse Estado”, e seguiu que “temos um Estado que extermina a população negra que não interessa”.
No vídeo abaixo Dagna em 2020 na LIVE do PT-JF no importantíssimo debate com Martvs Chagas, secretário nacional de combate ao racismo do partido e cientista social e o presidente do diretório e professor de História, Juanito Vieira. No evento debateram sobre a questão negra dentro do partido, a luta contra o racismo estrutural e trataram de ações concretas e necessárias nas esferas nacional e municipal para o combate ao racismo e promoção da igualdade.

Em sua trajetória Dagna recebeu muitas homenagens: “que na minha avaliação deveriam ser pra outras mulheres anônimas que fazem da vida a luta pela sobrevivência de si e dos filhos”. Recebeu em 2006 o Troféu Mulher Cidadã criado pela Câmara Municipal de Juiz de Fora com a finalidade de distinguir as mulheres que tenham prestado relevantes serviços ao Município. Recebeu também uma Honra ao Mérito na Câmara Municipal de Juiz de Fora. Em 2021 o Conselho Municipal da População Negra foi um dos homenageados com Medalha Nelson Silva, e a presidente do conselho Dagna Costa foi a representante e fez o discurso em nome dos agraciados. As conquistas pela igualdade racial nos últimos anos contaram com a luta e disposição de Dagna Costa – inclusive, a própria Medalha Nelson Silva. Com sua vontade de mudança, Dagna vem procurando mudar a realidade ao seu redor. A medalha que ganhou Dagna dedicou a um conjunto de fatores, em especial, ao Movimento Negro de Juiz de Fora: “na pessoa do Zaca homenageio a todas e a todos que contribuíram com a causa dos Negros e menos favorecidos”. Dagna na foto abaixo ao lado do vereador Juraci Scheffer.

Em 2021, no auge da pandemia de COVID-19 Dagna participou da LIVE “O olhar da mulher negra sobre a pandemia”, na ocasião conversaram e analisaram como está sendo a atuação da Administração Municipal no enfrentamento da pandemia, buscaram saber se há políticas públicas para orientar as pessoas sobre como prevenir-se, se os municípios estão conseguindo preparar seu sistema de saúde para atender à população e de que forma a população negra pode se organizar e se proteger à revelia do descaso do poder público. Neste mesmo ano Dagna participou do Encontro Nacional da Secretaria de Combate ao Racismo – PT em busca de tendências internado partido e se candidatou na chapa 310 “Por um PT Socialista e Antirracista”. Para o grupo de Dagna combater o racismo é mudar o padrão civilizatório do Brasil. Ela explicou que: “a Secretaria Nacional de Combate ao Racismo (SNCR) completou 25 anos em 2020 e sua origem foi resultado das lutas da militância negra do PT, através das Comissões de Negros, dos Encontros Estaduais e Nacionais do PT e a Questão Racial”. Ela continuou a explicar que: “a diferença de tempo entre a fundação do PT e a fundação da SNCR foi uma demonstração do amadurecimento do debate racial internamente no Partido, pois antes o PT reconhecia a luta antirracista, porém mantinha um distanciamento, como se não fosse um problema do partido e sim do movimento”. E falando em PT, Dagna se entristeceu nesse ano com a perda de um grande amigo: “considerava o Zaca um irmão, um pedaço de mim que se foi”. Junto com José Geraldo “Zaca” Azarias eram militantes políticos colados. Zaca tinha sido um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores em Juiz de Fora e Dagna contou com saudade que: “foram poucas as ações que tive sem a presença dele, éramos unha e cutícula”. (Abaixo fotos em homenagem ao Zaca)

Em 2022 Dagna Gonçalves Costa participou do Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial – CONEPIR-MG, representante do Conselho Municipal para Valorização da População Negra de Juiz de Fora. Em 2023 concluiu sua pós-graduação em Gestão Pública, iniciada em 2020, e se tornou uma especialista em Políticas Públicas e Sociais pela Universidade Cândido Mendes – RJ: “mas pretendo seguir nos estudos de acordo com as possibilidades”, comentou já pensando em seguir nos estudos. Nas suas participações ativa nos conselhos sobre o racismo, Dagna procura descrever o racismo estrutural buscando base no campo do conhecimento histórico: “se pegarmos a primeira lei da educação de 1837 que proibia que negros tivessem acesso às escolas públicas e a lei de 1850 conhecida como Cota do Boi que era uma reserva de vaga nas escolas agrícolas para os filhos de fazendeiros, veremos que gerações negras foram impedidas de acessar a educação”. Para ela isso é uma herança maldita que foi reproduzida e aliada ao empobrecimento de um povo: “a representação dos negros nos três poderes do país não condiz com a realidade da população, cuja maioria é negra e de mulheres”.
Em sua luta pela igualdade, outro fato que Dagna citou foi a falta de acesso ao conhecimento, nos equipamentos e instrumentos de ascensão social, que perpetua um ciclo perverso de violências e desigualdades: “tem muitos de nós colonizados ou subservientes à Casa Grande que contam com migalhas sob a mesa e se acomodam”. Entre esses negros que abaixam a cabeça, com certeza não encontraremos Dagna: “muitos de nós batalham pela divisão justa da riqueza, dos acessos aos direitos que todos temos”. Quase como um poema ela profetizou: “quem luta sua luta tem um horizonte muito próximo e uma liberdade distante; porém quem luta a luta dos outros tem o horizonte distante, mas a liberdade na porta”. Aprendemos com seu exemplo de trajetória de sucesso que: “minha luta é coletiva, é troca de saberes, é plantar sementes onde não as tem e trazer as que não conheço”, finalizou. Conhecendo sua trajetória e luta pela população do município, para mim Dagna Gonçalves Costa deve ser a próxima juizforana de coração a receber o título de Cidadã Honorária de Juiz de Fora.
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FONTE/CRÉDITOS: Dagna Costa
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Alexandre Müller Hill Maestrini

Publicado por:

Alexandre Müller Hill Maestrini

Alexandre Müller Hill Maestrini é professor de alemão no Instituto Autobahn e autor de quatro livros: Cerveja, Alemães e Juiz de Fora, Franz Hill – Diário de um Imigrante Alemão, Lindolfo Hill – Um outro olhar para a esquerda e Arte Sutil.

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