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Quinta-feira, 03 de Outubro de 2024
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Sandra Portella – Abram alas para a Rouxinol do Samba

Nossas Riquezas Pretas de Juiz de Fora #038

Alexandre Müller Hill Maestrini
Por Alexandre Müller Hill...
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Sandra Portella – Abram alas para a Rouxinol do Samba
Leme Filmes (Renne Barbosa e Fábio Alexandre)
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O objetivo dessa série é dar visibilidade para aqueles que a sociedade sempre tentou tornar invisíveis. Assim nasceu a série Nossas Riquezas Pretas de Juiz de Fora. E você? Já sentou com uma pessoa negra para ouvir sua história? Este aqui é o #NossasRiquezasPretasJF, um projeto antirracista do Instituto Autobahn que visa destacar os expoentes negros do município de Juiz de Fora e legar exemplos positivos de sucesso para as futuras gerações. Iniciado em 2023 com o formato de coluna na RCWTV, a reportagem #001 foi sobre Carina Dantas, #002 Antônio Carlos, #003 Geraldeli Rofino, #004 Sérgio Félix, #005 Fernando Eliotério, #006 Maurício Oliveira, #007 Ademir Fernandes, #008 Gilmara Mariosa, #009 Batista Coqueiral, #010 Cátia Rosa, #011 Eliane Moreira, #012 Antônio Hora, #013 Ana Torquato, #014 Alessandra Benony, #015 Sil Andrade, #016 Joubertt Telles, #017 Edinho Negresco, #018 Denilson Bento, #019 Digo Alves, #020 Suely Gervásio, #021 Tânia Black, #022 Jucelio Maria, #023 Robson Marques, #024 Lucimar Brasil, #025 Dagna Costa, #026 Gilmara Santos, #027 Jorge Silva, #028 Jorge Júnior, #029 Sandra Silva, #030 Vanda Ferreira, #031 Lidianne Pereira, #032 Gerson Martins, #033 Adenilde Petrina, #034 Hudson Nascimento, #035 Olívia Rosa, #036 Wilker Moroni, #037 Willian Cruz e agora é a vez de Sandra Portella.

Por Alexandre Müller Hill Maestrini

Abram alas para a Rouxinol do Samba Sandra Francisca Bonsanto, ou melhor, “Sandra Portella”, que carrega o nome de uma escola de samba e traz o ritmo do berço. Ela é sem dúvida a cantora juizforana mais carioca que existe no samba. Ela é apaixonada pelos filhos, pela natureza, pela espiritualidade, pela música e por seus amigos; protegida pelos Deuses, Sandra é mulher preta, umbandista e uma artista com energia pulsante das forças da natureza através dos orixás. Superlativo em tudo, sua presença de palco por mais de 24 anos, Sandra tem sua marca registrada na simpatia, no seu sorriso largo e em seu vozeirão. Quem quiser conhecer Sandra obrigatoriamente terá que vasculhar suas gravações com diversos famosos, comprovando sua voz de rouxinol do samba, que nas palavras de Alcione Marrom e do maestro Rido Hora: “um talento como o de Sandra só aparece no cenário nacional a cada década”. Nada melhor do que abrir essa reportagem com o clipe oficial de Sandra Portella: “Salve a sua Guia” (vídeo abaixo).

Sandra nasceu em Juiz de Fora no dia 27.04.1976 no bairro Vila Olavo Costa e cresceu rodando pelos bairros Furtado de Menezes, Vila Ideal e Vila Ozanan: “foi nessa região que estudei e convivi de perto com a pobreza e todo tipo de dificuldades possíveis, criminalidade e falta de oportunidades”. Nessas comunidades Sandra também cultivou amigos, conviveu com gente boa e trabalhadora: “sempre fui respeitada e tratada com carinho por todos”, relatou. Com experiência de vida, Sandra tem uma ideia de como vencer o racismo estrutural: “a grande mudança dessa estrutura começa em casa, com a valorização das famílias negras pautadas na auto-estima, com a educação passada por nossos pais”. Para ela a família é a base estrutural onde se aprende a não abaixar a cabeça, a questionar, a buscar sabedoria para enfrentar o sistema racista arcaico em que vivemos: “é importante saber agir, reagir e saber o seu valor. Se existe algum plano eficaz, eu acredito nesse”.
Foi nessa região que Sandra se tornou uma mulher forte, guerreira, sobrevivente do sistema. Na década de 80 estudou na Escola Estadual Maria Ilydia Resende Andrade, no bairro Furtado de Menezes e também na Escola Estadual Henrique Burnier, no bairro Poço Rico: “apesar de ser escolas de bairros periféricos, eu nunca sofri racismo nesses ambientes”. Suas memórias da escola são muito boas: “eu era boa aluna, gostava de todas as matérias, mas sempre fui péssima de matemática. Era boa em leitura, boa em decoreba e adorava fazer poesias”, lembrou saudosa. Além disso, suas melhores memórias vem deste tempo: “gostava dos jograis e recitais, amava Educação física e as visitas à Biblioteca, as aulas de arte e de cuidar da horta da escola”.
Mas nem tudo eram flores para os negros e periféricos, ainda na infância, Sandra era catadora de papel e pegava o trem Xangai para ir até o lixão perto da antiga Fábrica da FACIT em Benfica. Mais tarde trabalhou como arrematadeira, costureira, ajudante de cozinha e doméstica: “no trabalho eu sofria racismo descarado, o filho da patroa me chamava de macaca, filhote de Cruzcredo, entre outros insultos. Na época nada se fazia e ninguém era punido”, lamentou.
Sandra não imaginava que se tornaria artista, embora sempre estivesse cantarolando aqui e acolá: “eu sempre gostei de me ouvir cantar, mas era coisa de chuveiro, de passar o dia, não sabia que era cantora”. Mas Sandra contou que desde criança, ainda muito pequena: “eu dormia na quadra da Juventude Imperial, pois minha mãe morava na rua abaixo da escola, e a gente vinha subindo pelo barulho do ensaio aqui na quadra”. Como menina ela já cantava em rodas de samba familiares, além de atuar em igrejas e reuniões particulares, assim cresceu ouvindo e vivendo o mundo de escolas de samba: “minha mãe era apaixonada pela Juventude Imperial e cantava os clássicos de Clara Nunes”, que se tornou uma paixão na vida e uma das grandes influências de Sandra. Na foto abaixo da direita a mãe Lecy e a tia Irene de Oliveira que cantavam com Sandra.

Sandra sabe que tem origens africanas: “pertencíamos à família De Oliveira. Minha bisavó materna NOME SOBRENOME foi filha de escravizados livres, já alforriados, mas presos por questões financeiras às plantações de café, mandioca e cana”. Posteriormente foram formar família em Coronel Pacheco – MG e a avó materna de Sandra, Geralda (foto acima com marido Francisco SOBRENOME) trabalhou por 50 anos numa casa de família: “era lá que eu aos 9 anos de idade já ia trabalhar”, lembrou. Sandra vivia 15 dias na roça e 15 dias na cidade: “lá eu fazia limpeza, debulhava milho, catava arroz, ajudava minha vó Geralda na secagem e socagem de café de pilão e torrefação do café”.
Sandra contou que fazia companhia para a avó a até altas madrugadas: “me lembro que ela fazia doces e matava bichos para o almoço da família”. Ela não tem muito mais informações dos antepassados: “muitos parentes já morreram e a gente não tinha acesso à máquina fotográfica e celulares”, lamentou o apagamento. Sandra explicou que como a maioria das famílias de negros e periféricos: “a gente fica mesmo é com as recordações que nos foram relatadas por eles. Até porque quando nossos ancestrais estão vivos nós somos jovens e não temos tanto interesse em saber. Depois quando finalmente estamos dispostos a ouvir as histórias deles, eles já se foram para o Orum”.
Nada é por acaso na vida de Sandra, ela foi influenciada ainda pequena pela mãe Lecy Francisca de Oliveira, conhecida no meio dos sambistas juizforanos como “Lecy do Samba”, e pelo pai Valdir Delgado, conhecido como “Guida Tirote”, compositor da Imperatriz Leopoldinense, que vinha do Rio de janeiro para Juiz de Fora nos concursos de samba-enredo da Juventude Imperial. Sandra não conheceu seu pai até os 40 anos, mas falou com carinho que: “na década de 70, meu pai veio para participar dos Festivais de Samba de Quadra, na Escola de Samba da Juventude Imperial em Juiz de Fora, foi lá que meus pais se conheceram e de um romance carnavalesco eu nasci um ano depois. Então eu sou mesmo cria dessa escola de samba”, sorriu. Com apenas seis meses de idade Sandra não se lembra, mas sentiu que o pai e a mãe se desentenderam e Valdir voltou para o Rio de Janeiro: “mesmo assim trago em minha bagagem ancestral os caminhos percorridos pelos meus pais no mundo do samba, ambos compositores e intérpretes, defendendo enredos consagrados da Imperatriz Leopoldinense nos anos 50 (Rio de Janeiro – RJ) e da Juventude Imperial (Juiz de Fora – MG)”, com muito orgulho, confessou. Na foto abaixo do meio, Sandra na quadra da escola com Nelson Júnior e o casal o presidente David Chave e a esposa Lu.

Com o pai distante, Sandra foi criada por sua mãe, a guerreira Lecy, espelho em todos os aspectos. Sandra se casou aos 18 anos: “criei 4 filhos e sigo na luta por novas oportunidades”, granças a Deus. Nas quadras da Juventude Imperial Sandra foi crescendo no samba, fez parte da ala das baianinhas, e, com uns 20 anos foi passista da escola (foto acima na esquerda): “minha comunidade é formada com maioria preta, mas durante os desfiles oferece às pessoas simples do bairro a oportunidade de resgatarem sua realeza ancestral e subverter estereótipos, rótulos, preconceitos e contar nos veículos de comunicação, narrativas opostas e divergentes daquelas enfatizadas todos os dias”, contou com orgulho de suas origens. Para ela o município de Juiz de Fora possibilitou a criação de sua personalidade Mineiroca (Mineira e Carioca) por proximidade e afetividade pelo Rio de Janeiro. Mas o diferencial foi ter sido muito influenciada por música boa: “desde criança tive o privilégio de ouvir minha mãe cantar Clara Nunes, ouvia música caipira raiz e muito rádio com músicas diversas”. Foi nas ondas do rádio que Sandra aprendeu a admirar suas maiores influenciadoras como Clara Nunes, Alcione e Beth Carvalho, além de expoentes da Música Internacional: “eu sempre fui muito versátil, eclética e sempre exigente com o que ouvir”.
Com todo esse ambiente musical, Sandra conseguiu desenvolver muito a intuição e a percepção musical, aperfeiçoando a genética musical herdada por sua família: “já cantei vários estilos musicais, começando com MPB, Forró, depois Bossa Nova, Jazz e por fim, assumindo totalmente meu lugar no mundo do Samba”. Seu querido Grêmio Recreativo Escola de Samba Juventude Imperial é uma escola de samba do bairro Vila Olavo Costa em Juiz de Fora – MG: “para mim é uma das maiores e mais tradicionais da cidade”. Sandra lembrou que a escola de samba é um ambiente inspirador: “a Juventude mantém programas de apoio a crianças e adolescentes no Bairro Furtado de Menezes, Vila Ozanan, Vila Olavo Costa e do Bairro de Lourdes com aulas de capoeira, balé, artes marciais e banda de música”.
Com talento e versatilidade, Sandra teve sim influências familiares, mas a carreira dela só começou por acaso: “eu trabalhei durante três anos como caixa do Supermercado Bahamas e tinha o costume de cantar no vestiário e no refeitório”. Ali aconteceu um divisor de águas em sua vida, pois logo sua voz foi notada pelo colega Joel Oliveira (foto do meio abaixo), que era barítono e se tornou seu grande incentivador no início de carreira: “eu nunca tinha tido uma crítica de outra pessoa até Joel me ouvir cantar”. Foi ele quem incentivou a jovem rouxinol: “Sandrinha, você canta muito bonito, bora soltar essa voz, nega”. Em pouco tempo Joel já a apoiava para que desse seus primeiros passos, gravasse músicas e fizesse uns shows, a princípio nas próprias festas da empresa: “minha vida foi mudando completamente”, lembrou com felicidade a possibilidade de mobilidade social pela cultura.

Mas ela se lembrou também que: “nessa época eu estava muito triste, tinha acabado de me separar, e essa foi uma das muitas vezes em que a música me salvou, e o samba me salvou muitas vezes depois também”, conta a cantora. Nessa época contou que: “Cris, uma amiga portelense que também trabalhava no supermercado comigo me chamava de Portella sempre que eu cantava samba (foto acima da esquerda no lado direito de Sandra). Ela queria me provocar e eu ficava brava, porque eu era Juventude Imperial de coração”. Mas o nome artístico “Sandra Portella” pegou e logo começou a fazer shows em Santos Dumont e em Juiz de Fora e gravou um CD de Música Popular Brasileira (MPB) com Fabrício Andrade.
Em breve já cantava com outras bandas de MPB, de música Country, e não demorou a fazer do samba seu ganha-pão e viu sua voz firme projetá-la não só em Belo Horizonte, onde deu seus primeiros passos musicais, como fora de Minas: “a fama me rendeu convites para ir ao Rio de Janeiro participar de rodas no Clube do Samba e Samba do Trabalhador, entre outras”. Ela também dividiu o palco com reconhecidos nomes do cancioneiro local como Zezinho Silva, Joãozinho da Percussão, Vlad Wischansky e Mauro Continentino. Os shows em Santos Dumont e Juiz de Fora começaram a botar gente pelo ladrão, e a cantora recebeu convites para integrar a banda de forró Angu de Caroço (foto abaixo). Mas ela queria voos mais altos e: “tocar minha carreira solo de sambista me fizeram tomar a decisão de deixar o grupo”.

De Flavinho “da Juventude” Aloísio Carneiro veio o convite para trabalhar profissionalmente em um projeto de samba com ele em urna casa noturna de Juiz de Fora: “eu já conhecia o Flavinho da quadra Escola de Samba Juventude Imperial, mas foi quando o conheci melhor como cantor que o samba entrou de vez na minha vida”. Quando frequentava a quadra da Juventude Sandra teve a oportunidade de ver vários espetáculos do Flavinho como grande intérprete: “agora o convite era para fazer parte de um projeto na casa de shows e Boate Muzik, o samba às quartas-feiras, que chegou numa época em que o samba estava muitíssimo em alta, estava sendo redescoberto e foi outro divisor de águas na minha carreira”, recorda-se a cantora. Trabalhou nesse projeto por quase 10 anos e o grupo lotava o Muzik todas as quartas-feiras: “me lembro que era aquele tumulto para entrar nessa casa porque o samba ele pegava mesmo que a gente dava conta do recado e todo mundo adorava o repertório do Flavinho”. O repertório era bacana, interessante e provocante: “e com isso ele ganhava vários jovens que pensavam iguais a ele e que também tinha a mesma ideologia”, comentou Sandra.
Para ela, Flavinho foi um guerreiro, foi lutador e uma pessoa de luta pelos seus ideais: “ele era uma pessoa muito culta e uma personalidade muito forte, com deboche, um sorriso largo e uma gargalhada gostosa”, lembrou. Sandra contou que em 2005 a Juventude Imperial foi vencedora do grupo A do carnaval de Juiz de Fora com o enredo “Carnaval do povo no mundo dos astros” do carnavalesco Marcos Conegundes e com ela interpretando junto com Flavinho e Danilo Furtado: “fui convidada pelo Flavinho e fomos um grande sucesso”, comentou. Para uma projeção nacional Sandra queria se especializar e nesse ano de 2005, iniciou seus estudos de canto na Bituca – em Barbacena – MG: “é uma Universidade de Música Popular, que tinha sido criada em 2004 pelo grupo Ponto de Partida e se tornou uma referência no ensino de música popular no Brasil”. A Bituca é uma escola livre, com formação profissionalizante no interior da nossa Minas Gerais, com mestres de renome e ensino inteiramente gratuito”.

Quem olha as fotos de Sandra percebe os lindos cabelos e citando a questão capilar, ela confessou que nunca fez transição: “diferente de muitas amigas usei e abusei dos cabelos naturais, usei tranças, alisamentos, chapinha, baby lis, até conhecer o Mega Hair, que usei por mais de 20 anos. Hoje uso muitas laces e o método de entrelace, para manter a auto-estima”, sorriu e mostrou sua cabeleira invejável (fotos acima). Sandra se orgulha de ter nascido e morar em Juiz de Fora: “a cidade respira Cultura, exportando talentos. Ela não recusava trabalho e gravou jingles publicitários e participou da Banda Realce: “cantamos para cerca de cem mil foliões, durante os desfiles da Banda Daki, nos carnavais de 2006 e 2007”, lembrou.
Sua vida estava prestes a mudar e Sandra transitou em entre o Rio e Juiz de Fora e dali para frente, a união com o ritmo que ouvia ecoar ainda menina na quadra só se intensificou. O Rio é a Meca do Samba brasileiro, já a terrinha “xisforana” representa suas raízes, onde estão seus seis filhos, dos quais dois são adotivos. Mas nem tudo são rosas, em 2007 Sandra estava morando no Rio e corajosamente denunciou uma agressão que sofreu de um ex-parceiro, indo a público na mídia e tomando as providências legais: “sofri violência doméstica e abuso psicológico em meu relacionamento, e isso era muito ruim, porque, por mais que a música elevasse meu pensamento, eu já saía de casa triste. Isso fazia com que eu deixasse de ter um relacionamento saudável com meus amigos e com minha música, pois eu tinha uma dependência emocional que me maltratava”, confessou com tristeza. O fim do relacionamento foi infelizmente numa delegacia, mas ela é exemplo de força e contou que: “ele acabou ficando registrado na Lei Maria da Penha, pois não dá pra passar pano pra esses fatos”.
Sandra contou que mais uma vez foram os familiares, os amigos, os orixás, os guias e o samba que a salvaram: “o samba sempre me leva para um lugar melhor e no dia seguinte, fui indicada ao Prêmio da Música Brasileira como melhor cantora de samba”. Ela pensa muito nisso: “em como a cultura pode mudar o rumo da vida das pessoas, por isso é tão fundamental que se invista na cultura”, diz a artista. Ela teve muitos desafios, mas nunca desanimou ou desistiu: “embora às vezes o caminho seja muito difícil e às vezes a gente até quase desanima. Mas sigo em frente”, completou. Ela veio para sua cidade natal recarregar as baterias e junto com Flavinho da Juventude, Sandra se apresentou no centro de Juiz de Fora no show da virada entre 2008 e 2009. (Vídeo abaixo)

No carnaval de 2009, a cantora Alcione foi enredo da G.R.A.C.E.S. Juventude ImperialNo doce sabor da manga, o seu tronco é a Marrom”, e a escola terminou em 4º lugar e próximo de descer para o Grupo A. Na época dos ensaios a Marrom (Alcione) esteve na quadra e assistiu empolgadíssima o show de Sandra Portella. Alcione veio receber o carinho da escola verde-e-branco e conferir de perto os preparativos do desfile, as fantasias, o samba-enredo e a empolgação da comunidade. Em seguida foi a vez de Alcione dar seu show, e acompanhada de seus músicos Edmilson na percussão e Alvinho no violão, subiu ao palco e agraciou a comunidade da Juventude com sete músicas do seu repertório.
Mas a surpresa da noite, que emocionou Sandra: “foi quando Alcione me convidou para um dueto”. Alcione abraçou Sandra e a chamou para cantar com ela: “vem, rouxinol”, lembrando das palavras de Alcione (fotos abaixo). É claro que Sandra subiu no palco e as duas fizeram bonito: “cantamos em dueto a música A Loba; foi eu com uma das maiores vozes da música brasileira”, lembrou. Quer diria que a menina que um dia catava lixo teria conquistas com as quais jamais sonharia: “cantei com ela e ela se tornou minha madrinha”. Para Sandra uma enorme emoção: “é claro que isso me abriu muitas portas”, confessou. Depois desse acontecimento, no sapatinho, devagarzinho como boa mineira, cativou também nomes como Martinho da Vila e o maestro Rildo Hora.

Em 2010 Sandra Portella, Flavinho da Juventude e Nilmar Romano compuseram o samba-enredo “Juventude Imperial canta e encanta o destino de Neguinho da Vala, nas asas de um Beija-Flor” para a escola de Samba Juventude Imperial, que terminou em 5o lugar no carnaval de Juiz de Fora. Logo depois Sandra foi convidada para se apresentar no programa Manhã da Globo da extinta Rádio Globo JF. O programa era comandado por Léo de Oliveira e neste dia Sandra Portella participava do quadro Espaço do Artista. Como sempre, Sandra deu um show por maravilhosos 50 minutos com sua personalidade, seu talento e sua voz inconfundível. Vale a pena conferir estes dois vídeos abaixo.


Em 2013, sempre se recriando e com energia renovada, Sandra lançou seu primeiro CD, “Samba no Morro”, financiado pela Lei Murilo Mendes de incentivo à cultura da Prefeitura de Juiz de Fora: “é samba de morro mesmo, foi aqui que eu cresci, e nem sabia que o morro iria se tornar uma grande parte da minha história”, relembrou. O CD são composições próprias e de amigos e familiares: “o lançamento foi no maravilhoso Cine Teatro Central”, e lembrou que logo após gravou um Ep com grandes Clássicos do Samba.

Sandra aproveitava toda oportunidade para treinar seu vozeirão e em 2013 com Rafael Cavaquinho gravaram alguns vídeos no youtube do artista. E ela faz tudo a capella. (Vídeo abaixo)

Em fevereiro de 2014 sua escola Juventude Imperial terminou em 4º lugar com o enredo “Aqualtune: uma princesa negra no Quilombo de Palmares, exemplo de resistência, esperança e liberdade”, que contou a história da princesa guerreira na África e líder de um Exército de milhares de homens e a Juventude Imperial cantou a memória subterrânea da princesa do Congo. Sandra compôs junto com Flavinho da Juventude e Marcio Moreno o samba enredo mostrando a força e o símbolo de resistência de Aqualtune: “que tem sua origem nos povos Iorubas, Daonicianos, Mandingas e Bantus, o samba tem na sua espinha dorsal a cultura das tribos do continente africano”. Sandra contou que o samba enredo foi embasado no protagonismo da rainha, nascida no Congo, que foi escravizada e trazida ao Brasil. Em junho desse mesmo ano a cantora juizforana de corpo e alma escolheu brilhar também nos palcos de sua cidade natal e deu um depoimento sobre Juiz de Fora: “me lembro da minha infância pulando carnaval, jogando bolinha de gude na rua e sendo muito feliz”. (Vídeo abaixo)

Era chegada a hora de Sandra Portella dar seu show no Rio e ela soltou seu vozeirão. Em 2015 Sandra gravou uma das faixas do CD “Sambas para a Mangueira” segunda faixa do disco 1 “Sala de recepção”, de Cartola/1976, produzido pelo Centro Cultural Cartola e pela Gravadora Biscoito Fino, em homenagem a Mangueira: “eu estava ao lado de grandes nomes do samba como Alcione, Ana Costa, Beth Carvalho, Dudu Nobre, Lecy Brandão, Martinho da Vila, Moacyr Luiz, Monarco, Moyseis Marques, Nelson Sargento e Teresa Cristina, entre outros. E lá entre os bambas estava a juizforana Sandra Portella”. O CD foi indicado para o prêmio da Música Brasileira e sua fama suscitou convites para ir para o Rio participar de rodas no Clube do Samba, do Samba do Trabalhador, entre outras rodas: “bem mineirinha fui cativando os bambas do samba carioca”, sorriu. (Vídeo abaixo)

Em janeiro de 2016 Sandra, de volta a Juiz de Fora para o carnaval, participou de um evento Escadaria do Samba em frente à Câmara Municipal. (Vídeo abaixo)

Era chegada a hora, nesse ano, de Sandra fazer seu primeiro show no Rio no Centro Cultural Carioca, na Praça Tiradentes. E não parou mais, a moça soltou o vozeirão no Carioca da Gema, na Lapa, onde teve como convidado o ilustre compositor Monarco. No show, a artista homenageou grandes compositores da Portela (a começar por seu convidado), além de mostrar um pouco do muito que ouviu e assimilou do gênero. O público escutou também clássicos de Cartola, Zé Keti, João Nogueira, Zeca Pagodinho e Paulinho da Viola: “o samba dele é mais elaborado, artesanal mesmo”, comentou Sandra. Neste mesmo ano de 2016 Sandra foi uma das cantoras escolhidas para homenagear os 100 anos do samba e o aniversário do saudoso Clube do Samba, se apresentando junto com Martinho da Vila, Diogo Nogueira e Dudu Nobre. Pouco tempo depois ela estava num show durante os eventos das Olimpíadas de 2016, onde cantava Luar Bondoso. Como a mãe Lecy do Samba estava na platéia: “desci e cantei junto com ela”, lembrou com carinho o momento do dueto mãe e filha. (Vídeo abaixo)

Em janeiro 2017 Sandra foi convidada para abrir a cerimônia de posse da Secretária de Cultura da cidade do Rio de Janeiro, Nilcemar Nogueira, neta de Cartola a e Dona Zica, no Teatro Carlos Gomes, onde interpretou a música “Sala de Recepção”. Nesse ano Sandra lançou seu Ep “O samba”, com produção do Maestro Rildo Hora com 5 faixas: 1 Melhor dizer adeus, 2 Teto de vidro, 3 Nega Maria, 4 Se acaso e 5 Teto de vidro. (Vídeo abaixo)

Sua carreira nacional estava mesmo em ascensão e em dezembro de 2017 Sandra lançou o CD Banho de Fé pelo Selo Mlns, com produção musical e arranjos do maestro Rildo Hora, estando em todas as plataformas digitais, tendo sindo indicada em 2018 para o Prêmio da Música Brasileira, Categoria Melhor Cantora de Samba: “o CD foi idealizado em homenagem ao genial Arlindo Cruz com participação especial de Martinho da Vila e Moacyr Luz”. O CD contou com os clássicos de João Donato, Gilberto Gil, Mestre Monarco, Arlindo Cruz, Geraldo Pereira, Guiga de Ogum da Bahia, entre outros. Sandra contou que o CD foi gravado no incrível estúdio, Cia dos técnicos, no Rio de Janeiro: “além disso, ainda gravamos 2 Clipes das canções, e uma delas foi Vida da minha Vida, de Sereno e Moacyr Luz”. (Vídeo abaixo)

Em 2018 Sandra Portella com o CD Banho de Fé foi Indicada como uma das três cantoras, na categoria samba, para o 29º Prêmio da Música Brasileira realizado no Theatro Municipal do Rio. Ela disputou com Ana Costa e Lecy Brandão: “eu estava com os melhores e Lecy levou o prêmio, foi uma honra participar, foi de pura emoção”, confessou. (Vídeo abaixo)

No final de 2018 Sandra participou, ao lado da tradicional Velha Guarda, no Show da Portela na feijoada da família Portelense na quadra do Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela, em Madureira, Zona Norte do Rio de Janeiro. (Vídeo abaixo)

Em 2019 a Câmara Municipal de Juiz de Fora concedeu a Sandra o merecido título de Cidadã Benemérita de Juiz de Fora por ela se destacar como uma sambista de expressão nacional, elevando assim o nome do Município para todo o país, além de incentivar o fomento cultural em nossa cidade. Mas como ela não dorme no ponto, em 2020 gravou seu clipe “Sua Guia” produzido por Ingrid Milagre, com imagens de Leme Filmes de Renne Barbosa e Fábio Alexandre, com o drone comandado por Leandro Abbade e com patrocínio do empresário Wagner. No Clipe os orixás que compõem o panteão africano aparecem com mais destaque: “apesar das tentativas de boicotes, o samba, com toda a sua estrutura vinda de além mares, segue firme, atravessando governos e desgovernos, e provando que sua raiz vem de longe”, lembrou Sandra: Ela espera que: “Exú conceda caminhos abertos ao povo preto e ao samba. Laroyê, Motumbá Axé, salve os orixás, salve sua guia”. Vídeo abaixo com Martinho da Vila.

Em junho de 2020 a Pandemia de COVID-19 chegou com toda sua força, mas Sandra e Banda não podiam deixar a peteca cair e lá estava ela cantando no show “Sandra Portella-LIVE” no terraço aberto da piscina do Hotel Independência Trade de Juiz de Fora: “cantei para todo mundo ficar em casa e se proteger”. Sandra encabeçou uma Vakinha Virtual Todos pelo Samba: “o intuito foi de ajudar nossos músicos do samba, que como vários setores foi afetado pela pandemia. O nosso trabalho não foi diferente, nós vamos fazer o possível para poder termos alguma atividade, pois todos têm famílias e passam dificuldades para sobreviver, sem trabalhar”. Sandra cantou por três horas seguidas, pois para ela: “o samba não pode parar e as pessoas precisam de ter entretenimento e se conectar com algo que se sinta bem”. (Show completo abaixo)

Desde 2021, mesmo com a pandemia de COVID-19, Sandra trabalha com o grupo Clube do Samba Enredo: “uma novidade, pois nunca havia cantado em um grupo que só tocasse Samba-Enredo”, mas ela recebeu uma proposta de participar do projeto com alegria e como um novo desafio. Mas desde que retornou para Juiz de Fora ficou mais difícil se apresentar com o grupo: “mas ainda faço parte com prazer”, comentou.

Em 2021 Sandra disputou entre 56 composições para escolher o samba-enredo na Escola de Samba G.R.E.S.E. Império da Tijuca. Eles concorreram como número 17 para o “Samba de Quilombo – a resistência pela Raiz”, do carnavalesco Guilherme Estevão. Sandra participou com os Compositores Denilson Sodré, Wagner Escossia e o Professor Oswaldo Mendes. Diante das dificuldades associadas à pandemia de COVID-19, a Império da Tijuca decidiu promover a disputa de forma virtual. (Vídeo abaixo)

No final de 2022 Sandra já estava de novo no Rio de Janeiro, desta vez na sua querida Escola de Samba Portela com um samba concorrente para 2023 – Parceria Samba das Guerreiras: “foi a primeira parceria só de mulheres a concorrer com samba enredo em escola de samba desde 2018”. A formação era de: Sandra Portella, Meri de Liz, Rozzi Brasil, Ana Quintas, Simone Lyns, Andréa Moreira e Dayse do Banjo. O enredo “O Azul Que Vem do Infinito” para o carnaval 2023. (Vídeo abaixo)

Para terminar a entrevista com a Diva do Samba de Juiz de Fora, Sandra contou um sonho: “eu gostaria que as meninas do Bairro Furtado de Menezes, da Vila Ozanan e do Bairro de Lourdes pudessem se inspirar um pouco na minha história, saber que dá pra ter uma realidade diferente e mobilidade social”, e seguiu dizendo que “quero que os seres humanos sejam pessoas que deixam marcas e não cicatrizes”, concluiu. Já reconhecida nacionalmente, Sandra vem há mais de 24 anos, lutando por seu crescimento profissional, buscando realizar seus sonhos: “hoje busco sempre por uma agenda mais intensa e uma vida financeira mais tranquila”, sorriu.

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FONTE/CRÉDITOS: Sandra Portella
Comentários:
Alexandre Müller Hill Maestrini

Publicado por:

Alexandre Müller Hill Maestrini

Alexandre Müller Hill Maestrini é professor de alemão no Instituto Autobahn e autor de quatro livros: Cerveja, Alemães e Juiz de Fora, Franz Hill – Diário de um Imigrante Alemão, Lindolfo Hill – Um outro olhar para a esquerda e Arte Sutil.

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