O objetivo dessa série é dar visibilidade para aqueles que a sociedade sempre tentou tornar invisíveis. Assim nasceu a série Nossas Riquezas Pretas de Juiz de Fora. O #NossasRiquezasPretasJF é um projeto antirracista do Instituto Autobahn que visa destacar os expoentes negros do município de Juiz de Fora e legar exemplos positivos de sucesso para as futuras gerações. Iniciado em 2023 com o formato de coluna na RCWTV, a reportagem #001 foi sobre Carina Dantas, #002 Antônio Carlos, #003 Geraldeli Rofino, #004 Sérgio Félix, #005 Fernando Eliotério, #006 Maurício Oliveira, #007 Ademir Fernandes, #008 Gilmara Mariosa, #009 Batista Coqueiral, #010 Cátia Rosa, #011 Eliane Moreira, #012 Antônio Hora, #013 Ana Torquato, #014 Alessandra Benony, #015 Sil Andrade, #016 Joubertt Telles, #017 Edinho Negresco, #018 Denilson Bento, #019 Digo Alves, #020 Suely Gervásio, #021 Tânia Black, #022 Jucelio Maria, #023 Robson Marques, #024 Lucimar Brasil, #025 Dagna Costa, #026 Gilmara Santos, #027 Jorge Silva, #028 Jorge Júnior, #029 Sandra Silva, #030 Vanda Ferreira, #031 Lidianne Pereira, #032 Gerson Martins, #033 Adenilde Petrina, #034 Hudson Nascimento, #035 Olívia Rosa, #036 Wilker Moroni, #037 Willian Cruz, #038 Sandra Portella, #039 Dandara Felícia, #040 Vitor Lima, #041 Elias Arruda, #042 Bruno Narciso, #043 Régis da Vila, #044 Claudio Quarup, #045 Wellington Alves, #046 Lucimar Silvério, #047 Paul Almeida, #048 Negro Bússola, #049 Zélia Lima e #050 Paulo Cesar Magella.
Por Alexandre Müller Hill Maestrini
A professora e militante Zélia Lúcia Lima, é a quarta filha de um casal de agricultores muito pobres, em uma família numerosa e tradicional. Ela nasceu em 12.12.1959 na pequena cidade de Mercês do Pomba – MG, onde o pai trabalhava na lavoura e a mãe ficava em casa cuidando do lar e dos filhos: “ela passou para a gente a questão racial e religiosa. Essa era a divisão de tarefas na nossa família”, comentou. Hoje Zélia fez questão de reafirmar que possui duas famílias maravilhosas: “uma é a minha família aqui na minha casa, a outra família é o Batuque Afro-Brasileiro Nelson Silva, com negros e negras empoderados(as) em suas individualidades e particularidades”. Imperdível é ler essa reportagem ouvindo o som do Batuque de Nelson Silva abaixo:
O pai Geraldo Lúcio da Silva, inicialmente tentou se estabelecer em Barbacena, para depois poder levar a família: “mas após somente dois meses percebeu que precisava ir para uma cidade maior”. Ele trabalhava também com carvoaria, o que lhe rendeu uma bronquite asmática incurável, e junto com a mãe Jayni Coelho da Silva queriam melhorar de vida: “infelizmente tínhamos perdido o irmão mais velho com somente um ano de idade e o irmão Cleber, que faleceu com apenas um mês de idade”, lembrou com tristeza. Na foto abaixo da esquerda os pais de Zélia, na foto da direita ela com os pais na formatura do magistério.
Para Juiz de Fora vieram atraídos pelos parentes do avô paterno José Augusto da Silva, que já tinham emigrado para a cidade pólo da Zona da Mata: “mas eu não o conheci”, comentou. Quando chegaram em Juiz de Fora, em 1961, os pais tinham somente as duas meninas: a irmã mais velha Maria de Lurdes e Zélia. Em Juiz de Fora a família ainda cresceu com mais seis filhos e os pais precisavam alimentar e educar 8 irmãos: Maria de Lourdes, Zélia, Vera, Nici, Beatriz, Maura e Celso e a Iza.
Ela comentou que conheceu pouco de seus antepassados e nem tem fotos para mostrar: “só conheci a minha avó materna, meu avô materno e a minha avó paterna”, lamentou. Sua avó paterna Virginia Maria de Jesus viveu com eles durante 21 anos: “meu pai era o único filho homem dela, e depois que meu avô faleceu, ela veio morar com a gente”. Zélia lembrou que sua avó paterna falava que a mãe dela (minha bisavó materna) foi pega no laço e era uma índia: “é uma pena, porque a gente não tem fotos, não tem nada dessas épocas que a gente tá mostrando. Mas eu amo meus antepassados de paixão”, confessou.
Com sua avó materna Maria Benvinda da Silva, Zélia conviveu muito pouco: “eu a vi somente umas duas ou três vezes”. Porém com seu avô materno Avelino Coelho Duarte, a família conviveu mais: “ele vinha todo ano passar a Semana Santa com a minha mãe. Em uma dessas visitas ele adoeceu e acabou falecendo aqui em Juiz de Fora”. Zélia lembra das histórias que eles moravam na Fazenda dos Faria, em Mercês do Pomba: “é isso que eu tenho deles, o resto infelizmente eu não conheci”.
Ela se lembra que aqui chegando foram morar na Várzea Carlos Barbosa, atualmente área do entorno do Shopping Norte, que na época era uma área de favela com mais ou menos uns 100 barracos: “lamentavelmente em 1964 sofremos com uma enchente muito forte do rio Paraibuna, que inundou toda a região ribeirinha, e nossa família foi retirada às pressas pelos soldados do exército e do Corpo de Bombeiros”. Zélia, com apenas cinco anos, relembrou que a água já estava invadindo tudo e foram levados para o prédio do Palácio da Saúde: “cada sala do edifício virou um espaço emergencial para cada família desabrigada”.
Somente depois de dois meses é que as águas baixaram e puderam retornar para a casinha simples na Várzea Carlos Barbosa: “me lembro que apareceram muitos bichos peçonhentos, pela proximidade da Mata do Krambeck, do rio e pela lama deixada pela enchente”. Diante dessa situação: “meu pai teve que ir na frente matando as cobras, aranhas e outros bichos e limpando a casa antes de receber a família”. Ela se lembra também da solidariedade da população em oferecer muitas doações para que se reestabelecessem.
No Jornal Diário Mercantil, de 13.07.1967, o jornalista Renato Silva referiu-se a uma favela situada às margens do rio Paraibuna. Ele descreveu a região da Várzea Carlos Barbosa: “por todo o lado, o panorama é o mesmo. A imundice está em todos os barracos. [...] Não há privadas. O mau cheiro exala de todo lugar […] As crianças andam semi-nuas [...] Nessa favela, homens e animais, no caso cachorros, pois não há outros, levam uma vida em comum”. Zélia contou que a eclosão e ocupação das favelas, como lugar de moradia exclusiva dos pobres urbanos, incidiu de forma mais perversa nas grandes metrópoles a partir do final do século XIX: “ninguém vai morar num lugar desses por opção, mas por sobrevivência”, lembrou Zélia resiliente. Ela completou que: “essa é uma luta e resistência diária do povo negro desde a mal-acabada abolição em 1888”. Foi nessa comunidade que Zélia foi criada em uma vida de muita pobreza e dificuldades: “vivíamos numa casa de pau a pique e comíamos os restos de comida que recebíamos”. Ela lembra que quando puderam melhorar um pouco o pai cobriu a casinha simples com telhas de zinco.
A avó paterna de Zélia, Virginia Maria de Jesus, que morava com eles, era lavadeira e costumava ir nas casas das pessoas executar o trabalho: “era muita pobreza, eu me lembro de uma infância lavando roupas e as louças nas margens do Paraibuna”. Nada de maravilhoso, contou: “foi uma infância bastante temerosa, porque a gente lavava roupa e vasilhas no Rio Paraibuna, que na época ainda não era poluído. Apesar da pobreza, ela contou com certo saudosismo que: “as vezes a gente buscava água pra beber no mercadinho do Sr. José 12, na rua Bernardo Mascarenhas, e a gente sempre era surpreendido por ele com um pão”. Na maioria das vezes eles tinham que carregar água para beber: “andávamos até o Chafariz da Cometa, no bairro Mariano Procópio”. Sempre por aquela região: “minha primeira escola foi a Escola Estadual Professor Quesnel, na rua Bernardo Mascarenhas, e lá eu aprendi as minhas primeiras letras”.
Zélia contou que foi a família Albano Silva que os ajudou com doação de roupas e calçados e as comidas que sobravam do comércio que tinham na rua Santa Rita: “apesar de ter sido uma fase de melhoras, foi uma fase muito doída da nossa vida, pois tínhamos nada mesmo e só sobrevivíamos de restos de supermercados”. Um dia Zélia escutou que a Várzea Carlos Barbosa, onde moravam, seria transformada em canteiro para grandes obras: “meu pai que trabalhava de pedreiro autônomo tratou de comprar um terreno no bairro São Judas Tadeu, zona norte de Juiz de Fora”. Em 1968 a família pode finalmente se mudar para a casa de dois cômodos de meia-água com telha e construída de tijolos pelo próprio pai no terreno: “eu tinha 9 anos e apesar de não termos nem luz nem água, era nossa”, sorriu.
Zélia sempre foi muito ativa: “comecei a trabalhar com 11 anos de idade para ajudar a criar meus irmãos e cresci como trabalhadora doméstica, sem direitos nenhum”. Ela contou que foram 12 anos nessa lida, e só aos 18 anos, em 1977, ela conseguiu começar a cursar a quinta série: “a dificuldade era muito grande, voltei aos estudos e não parei mais”. No primeiro ano ela foi estudar na Escola Estadual Padre Gabriel Van Vick, no bairro Benfica, onde pode encerrar o ensino médio. Depois Zélia passou a frequentar a instituição de ensino Colégio Tiradentes da Polícia Militar, no bairro Santa Terezinha: “na época eu consegui uma bolsa integral com o padre e consegui terminar meu ensino lá”.
Mas seu sonho de criança era ser professora: “apesar de trabalhar sempre em casas de família, acabei acertando com a família da Ana Maria, quem conseguiu uma bolsa integral para mim no Colégio Estela Matutina”. Lá Zélia pode fazer seus estudos adicionais, uma preparação para lidar com o ensino na pré-escola. Além de trabalhar com a pré-escola, ela foi professora do Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL), que foi instaurado na conjuntura da Ditadura Militar em 1967: “eu dei aula para idosos e adultos na Escola Municipal Álvaro Lins, no bairro São Judas Tadeu”. Zélia trabalhou com a pré-escola na Escola Estadual Professor Francisco Faria, no bairro Benfica e também na Escola Estadual Teodorico Ribeiro de Assis, no bairro Furtado de Menezes.
Em 1988 Zélia foi contratada pela Funalfa: “trabalhei no Centro Cultural Bernardo Mascarenhas e lidava com um público bem variado, mas principalmente os artistas de nossa cidade”, lembrou. Ela trabalhava como recepcionista e nas exposições estava sempre presente: “isso me possibilitou um crescimento e uma enorme movimentação política quando ingressei no Sindicato de Servidores Públicos e Municipais e virei diretora”.
Com 30 anos, em 1989, Zélia se casou com José Carlos Ferreira Lima (29) e com ele tiveram três filhos: “Carla que é a minha mais velha e um casal de gêmeos Caio Cesar Lima e Carina Cristina Lima, que atualmente estão com 27 anos. Minha família é a coisa mais preciosa da minha vida. Hoje eu tenho três netos”. Por influência do marido, Zélia atuou bastante na questão política sindical: “ele já era sindicalista e quando surgiu a oportunidade eu entrei no sindicato”. Sua trajetória política aumentou quando conheceu José Luiz de Oliveira, presidente do Sindicato dos Servidores Públicos e Municipais: “ele era uma grande referência para mim, um homem negro, íntegro, e que contribuiu muito para a nossa categoria. Ali eu virei uma grande sindicalista”, comentou.
Como ela tinha algumas liberações por conta do sindicato, foi aos poucos migrando para o Movimento Negro e o Movimento de Mulheres Negras. Zélia sempre teve interesse grande na militância, em 2004 já era a Secretária Geral da CUT Regional da Zona da Mata e foi candidata a vereadora pelo PCdoB, conseguindo 103 votos. Ela lembrou que: “infelizmente temos uma Câmara de Vereadores por onde nunca passou uma mulher negra. Já tivemos alguns homens negros, mas foram pouquíssimos”, lamentou. Ela espera que isso aconteça o mais rápido possível: “até porque hoje nós temos, depois da Lei de Cotas, muitos negros e negros formados com capacidade para ocuparem cargos relevantes como prefeitos, secretários, vereadores, etc”. Zélia espera ainda contribuir ainda mais para uma política antirracista na cidade: “quero que as crianças já aprendam a valorizar a sua condição de negros no país”.
Em 2005 Zélia participou da fundação da Associação de Mulheres Chica da Silva, uma entidade sem fins lucrativos em defesa de direitos sociais, formada por feministas negras em Juiz de Fora: “os objetivos eram de lutar contra o racismo em todas as suas formas de manifestação, nos empenharmos na preservação e desenvolvimento da cultura negra, defender os direitos culturais da população negra, apoiar os povos negros e oprimidos de todo mundo, estimular a participação política da mulher negra na definição do destino do país, lutar pelo exercício da cidadania negra em todos os setores da vida social do país e defender uma sociedade justa, fraterna, sem exploração de classe e de raça baseada nas desigualdades entre mulheres e homens”.
Na foto acima na esquerda duas das fundadoras da Associação de Mulheres Chica da Silva Eliana Ritte de Oliveira e Neuza da Silva. Nas fotas acima da direita o marido de Zélia, José Carlos Ferreira Lima. Na reunião de fundação Zélia foi escolhida como a primeira presidente e Sandra Maria Silva como vice-presidente (foto abaixo): “a gente conseguia fazer uma vez por ano, no dia 8 de março, um grande evento onde já chegamos a reuni até 300 mulheres de periferia de Juiz de Fora”, contou. A vocação é tratar bem aqueles que são os nossos: “os negros e negras dessa cidade, principalmente as mulheres negras”. Para ela: “são essas mulheres que a gente tem que valorizar, que a gente tem que buscar, aquelas mulheres que ainda não têm muito entendimento do quanto elas são valorosas”.
Em 2006 Associação de Mulheres Negras Chica da Silva recebeu a Medalha Nelson Silva e, como presidenta da associação, Zélia falou em nome da entidade: “a importância de receber a distinção não é apenas para a associação, mas todo povo negro, principalmente as mulheres negras, que estão nessa luta cerrada há muito tempo pelo reconhecimento público de nosso trabalho em Juiz de Fora”, infelizmente em 2018 foram encerradas as atividades.
Para ela a história de Juiz de Fora é triste: “nós tínhamos um número muito grande de escravizados nessa cidade, o que nos leva a ter uma população negra maior do que a população branca, porém o povo branco não reconhece que o povo negro faz parte, nem que o povo negro contribuiu muito para o crescimento do município”. Ela lembrou que quando participou da Festa das Etnias em 2007, tentou se colocar como representante da categoria negra: “era uma festa de povos, onde a representação afrodescendente não se encontrava presente”, lamentou. Junto com outros companheiros Zélia conseguiu colocar os negros e negras como grandes contribuintes para a formação da população negra de Juiz de fora: “aqui é uma cidade afrodescendente. Os negros e negras ainda tem muito mais para contribuir”.
Muito atuante na militância social, na eleição municipal de 2008 Zélia foi candidata a vereadora pela segunda vez pelo partido PCdoB: “eu estava crescendo politicamente, o que me levou ao partido representando a classe negra e principalmente as mulheres negras”. Zélia ousou com coragem colocar seu nome à disposição do partido e acabou sendo candidata três vezes (2004, 2008 e 2012): “não me elegi, mas foi uma participação muito intensa, porque a gente vai de fato para a periferia em busca de votos e vê o quanto é valoroso uma participação política de uma mulher negra numa cidade bastante conservadora”. Ainda em 2008 entrou para o Conselho Municipal de Cultura de Juiz de Fora (CONCULT).
Em 2011, foto acima, o Conselho Municipal para Valorização da População Negra (CMVPN), com apoio da Prefeitura de Juiz de Fora/Funalfa e do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros (NEAB/UFJF), promoveu uma intensa programação cultural para festejar o Mês da Consciência Negra: “os objetivos da iniciativa foram divulgar elementos da cultura afrodescendente e buscar junto à sociedade civil e ao Poder Público uma reflexão sobre as diversas questões que envolvem o tema”. Como presidente do Conselho, Zélia comentou que: “tendo em vista que 2011 foi decretado, pela ONU, o Ano Internacional dos Afrodescendentes, promover e participar de momentos como esse é importante para a construção de uma sociedade mais igualitária em Juiz de Fora”.
Em 2012 Zélia era a Presidente da Sociedade Pró-Melhoramento (SPM) do bairro Aracy e Parque São Vicente, ela reivindicou para a Câmara Municipal de Juiz de Fora que fosse construída uma Unidade de Saúde para contemplar a sua região e reclamou da falta de limpeza e capina na área. Desde 2014 Zélia é a presidente do Batuque Afro-Brasileiro de Nelson Silva: “eu coordeno o batuque junto com meu esposo e considero o grupo como um dos principais movimentos atuais de Juiz de Fora, pois estamos juntos com os companheiros e as companheiras, todos já bem maduros, e que passam uma experiência maravilhosa para nós e para o nosso crescimento”. Ela contou que o grupo foi criado em 1964 pelo compositor Nelson Silva: “reunimos ritmo, dança, composição, arte, cultura e resistência, mantendo repertório próprio, com mais de 80 composições com batuques, sambas, arranjos e maculelês, sempre presentes nas nossas exibições”, explicou.
Segundo ela, o objetivo do batuque é resgatar a história e valorizar a cultura negra em apresentações em terreiros de umbanda, escolas, praças e igrejas: “o batuque só foi registrado com CNPJ oficialmente em 1977, com Sede na Rua Luiz Jose Esteves 21, bairro Aracy”, mas já foi considerado Patrimônio Imaterial da cidade a partir do Decreto nº 9.085, de 15.01.2007. Nessa época Zélia declarou que: “quando eu conheci o Batuque eu senti que a minha ancestralidade estava representada ali através das músicas”. Para ela o Batuque representa o seu passado, a sua história e a história do povo negro brasileiro.
Como atual presidente: “nosso movimento é muito importantes para resgatarmos a cultura afro da nossa cidade, por tudo que a população negra já sofreu”. A atuação de Zélia no grupo envolve a organização dos locais de ensaio, agendando as apresentações, além da representatividade em diversos setores públicos e privados da cidade como cultura e educação e nos conselhos municipais, estaduais e nacionais relacionados às políticas públicas voltadas ao negro. Os ensaios tradicionalmente são sempre às terças-feiras às 19:30 horas no prédio do Museu de Crédito Real. (Fotografia abaixo de Guilherme Landim)
Sua luta é a das mulheres negras: “que eu travo enquanto sindicalista”. Zélia contou que: “os negros chegaram de forma brutal no Brasil e será necessário que as políticas públicas de afirmação racial saiam do papel e sejam realmente implantadas”. Só a Constituição Federal de 1988 trouxe no Art. 3º, IV como objetivo fundamental da República Federativa do Brasil: “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”. Ela lembrou ainda como o Brasil pode ter demorado até 2010 para começar a defender a igualdade racial: “com a Lei nº 12.288, que instituiu o Estatuto da Igualdade Racial e criou o Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial – SINAPIR”.
Em 2014 a PJF deu posse ao Conselho Municipal para Valorização da População Negra (CMVPN) para o biênio 2014-2015 (foto acima). A Mesa Diretora do Conselho, eleita logo após a posse dos conselheiros da chapa intitulada “Nelson Mandela”, ficou formada por Margareth Ramalhete como presidente; Reginaldo Barbosa da Silva como primeiro-secretário; Zélia (ex-presidente do conselho) como segunda-secretária; Rosemary Gonçalves como primeira-tesoureira e Ivan Barbosa como segundo-tesoureiro. Foram apresentadas as seis linhas de ações de trabalho: educação para as relações étnico-raciais; saúde; juventude; mercado de trabalho; cultura; e políticas afirmativas. Zélia afirmou que: “precisamos desenvolver uma cultura cada vez mais sem preconceito e sem racismo em nosso município”.
A nova presidente, Margareth Ramalhete, agradeceu a confiança e lembrou a atuação positiva do negro na sociedade, e mostrou os números: “o nível ocupacional dos homens negros em Juiz de Fora aumentou 7,2% e das mulheres negras 5,8%”. Ainda segundo ela: “Juiz de Fora vive um momento de negociação e desafios, e ainda temos muito que avançar”. Ela ressaltou também que: “a população negra continua crescendo em maioria absoluta, tanto em relação à População em Idade Ativa (PIA), quanto à População Economicamente Ativa (PEA)”. Mas segundo Zélia o racismo está muito presente no mercado de trabalho da cidade, principalmente na categoria da trabalhadora doméstica: “o conselho lançou uma cartilha em 2013 para avaliação dos trabalhadores e trabalhadoras negras, com a finalidade de saber onde estão, que cargos ocupam e sobre a questão da perseguição por racismo no emprego”.
Em 2015 o prefeito Bruno Siqueira participou da solenidade de posse da primeira mesa diretora do recém-criado Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial (COMPIR/JF) (fotos acima). O conselho tinha sido criado em 2014 a partir da reestruturação do antigo Conselho Municipal Para a Valorização da População Negra (CMVPN) e teve como objetivo incluir o Município de Juiz de Fora em mais uma frente no combate à discriminação racial, desconstruindo preconceitos e reduzindo as desigualdades raciais em diversos âmbitos sociais. Uma das grandes realizações do Conselho foi o desenvolvimento do projeto de criação do selo da diversidade racial e de gênero no mercado de trabalho.
Zélia lembrou também que: “não é preciso ser negro para abraçar as causas da igualdade racial, mas precisamos de uma sociedade civil comprometida com as ações de promoção da igualdade racial”. O evento aconteceu no auditório da casa dos Conselhos (Rua Halfeld – 450 – 7º andar). Foram empossados para o biênio 2015/2017: presidente Zélia (representante da Secretaria de Governo/PJF); vice-presidente Reginaldo Barbosa da Silva (Lixarte); primeiro-secretário Rogério da Silva (Unegro); segunda secretária Jussara Alves (Secretaria de Educação/PJF); primeiro tesoureiro Marcelo Campos (Secretaria de Saúde/PJF); e segunda tesoureira Maria Enóia de Souza Correa (Associação Religiosa e Cultural de Culto Afrobrasileiro Abassa Yá Oya Ynguerecy).
Zélia destacou que, entre os trabalhos a serem desenvolvidos pelo COMPIR/JF, está: “a implantação da política de igualdade racial, com a valorização das minorias, fazendo valer o estatuto da igualdade racial”. Para a presidente, após a criação do Conselho: “o maior desafio agora é instituir um órgão municipal para a promoção da igualdade racial em toda cidade”. Ela também enfatizou a atuação das secretarias de Governo e de Desenvolvimento Social, que vêm contribuindo para a implementação do Selo da Diversidade Étnico-Racial e da Igualdade Racial.
Em 2016 o curso do projeto “Territórios em Ciranda”, projeto das Secretarias de Saúde (SS) e Desenvolvimento Social (SDS) da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), capacitou 88 funcionários das unidades de saúde e dos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) como educadores populares, capazes de levar informação a todas as comunidades do município, promovendo integração, independente de credo, raça ou orientação sexual. Como presidente do Conselho de Igualdade Racial, Zélia, disse que: “o projeto aplica o Estatuto de Igualdade Racial, extremamente importante para a cidade principalmente para a população negra”. Para ela é uma ação pioneira no município que prevê uma atenção especial à população negra, à mulher e à população LGBT: “realizamos ações de garantia e promoção de direitos humanos para populações marginalizadas, além de ações educativas direcionadas aos servidores, preparando-os para atender melhor o público”. (Foto abaixo)
Ainda em 2016 Zélia, na função de Presidente do Conselho de Promoção da Igualdade Racial foi à TV explicar o objetivo da Semana da consciência negra. Ela explicou que o conselho funciona na Casa dos Conselhos, na rua Halfeld 450. (Vídeo abaixo)
Seguindo em 2016, o grupo Batuque Afro-Brasileiro de Nelson Silva marcou presença ao divulgar a cultura negra para os participantes do 5º Encontro Internacional de EcoMuseus e Museus Comunitários, realizado na Universidade Federal de Juiz de Fora. O evento reuniu instituições, pesquisadores e entusiastas em favor da preservação do patrimônio da diversificada e rica memória nacional. Na ocasião foram entrevistados, entre outros, a presidenta Zélia, Sebastião Pinheiro, Sebastião da Mota e Nivalda Maria Barboza, todos do Batuque. (Vídeo abaixo)
No final de 2016 Zélia recebeu a honraria da Medalha Nelson Silva na Câmara Municipal de Juiz de Fora. Ainda nesse ano, no evento ‘Câmara Celebra Zumbi Dandara: Consciência Negra e Resistência’, no dia 20 de novembro em frente ao prédio do Legislativo de Juiz de Fora, Zélia deu seu depoimento sobre a importância do Batuque Afro-Brasileiro de Nelson Silva. (Entrevista abaixo)
Em 2017 foi composta a nova diretoria do Conselho Municipal para Promoção da Igualdade Racial (COMPIR/JF), eleita para o biênio 2017-2019 (foto abaixo). Para o presidente eleito Rogério da Silva: “é uma responsabilidade muito grande, porque o Conselho representa não só a população negra, mas todas as etnias da sociedade. A proposta é trabalhar, com a Administração, a fim de desenvolver políticas para desconstruir rótulos”. Zélia foi eleita tesoureira e declarou: “os conselhos representam a democracia participativa e visam a garantia de direitos”. Para o vice-presidente Paulo Azarias: “o COMPIR/JF tem como diretriz o diálogo com a sociedade civil organizada”.
Em 2017 Zélia fez parte da Comissão organizadora da IV Conferência Municipal de Promoção da Igualdade Racial, com Paulo Azarias, Reginaldo Barbosa, Rogério da Silva, Zélia e Jussara Alves Silva (foto abaixo). Na ocasião Zélia destacou que: “a conferência é um dos principais meios de fortalecer a política pública de igualdade racial, favorecendo principalmente os conselhos municipais e os movimentos negros”. Além disso, destacou que: “o tema da conferência é definido pela Organização das Nações Unidas (ONU), que estabeleceu que esta é a década dos afrodescendentes”.
Ainda em 2017 Zelia se tornou Diretora do Fórum Mineiro de Entidades Negras (Fomene), sediado em Manhumirim – MG. Também neste ano foi lançado o filme ‘Batuque (en)cantos de lutas: um relato etnográfico por meio da antropologia visual’, produzido pelo bolsista Guilherme Rezende Landim: “sua pesquisa se propôs a investigar a antropologia fílmica no processo de gravação do documentário Batuque: (en)cantos de lutas”. (Filme abaixo)
Em 2018 o COMPIR/JF já tinha se tornado exemplo para outras cidades da região. Ubá – MG promoveu a instalação do seu Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial (COMPIR/Ubá), instituído pela lei 4.520, de 21.12.2017. Convidados pelo prefeito estiveram na cidade Paulo Azarias vice-presidente e Zélia como tesoureira do COMPIR/JF. Na ocasião Zélia falou sobre a importância da atuação dos conselhos de direito para a promoção da igualdade racial e contou a trajetória do trabalho realizado pelo conselho de Juiz de Fora: “é necessário essa mobilização para trazer a população para participar das discussões”. (Foto abaixo)
Em 2021 a PJF nomeou os representantes da Sociedade Civil do Conselho Municipal para a Promoção da Igualdade Racial (COMPIR/JF) para um mandato do biênio 2021/2023: “eu representei o Batuque Afro-Brasileiro de Nélson Silva”, lembrou. No início de 2022 o COMPIR/JF definiu sobre a criação da Comissão Organizadora, da V Conferência Municipal para a Promoção da Igualdade Racial de Juiz de Fora e Zélia foi escolhida como representante da Sociedade Civil, através do Batuque Afro-Brasileiro de Nelson Silva. Neste ano de 2022 a servidora municipal Zélia, lotada na Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage – FUNALFA, se aposentou voluntariamente e por idade do cargo efetivo de Agente de Atendimento ao Público III: “foram 34 anos de trabalho”, lembrou. Desde então Zélia se dedica ao Batuque Afro-Brasileiro de Nelson Silva.
Zélia incansável ainda pretende montar um ‘Memorial do Batuque’, um museu, um guarda-roupa do grupo para as ‘roupas africanas’, um local específico para os encontros, palestras, reuniões, apresentações e ensaios. UBUNTU!
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FONTE/CRÉDITOS: Zélia Lúcia Lima
O texto acima expressa a visão de quem o escreveu, não necessariamente a de nosso portal.