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Quarta-feira, 22 de Janeiro de 2025
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Hudson Nascimento – Confiança e Empreendedorismo Familiar

Nossas Riquezas Pretas de Juiz de Fora #034

Alexandre Müller Hill Maestrini
Por Alexandre Müller Hill...
Hudson Nascimento – Confiança e Empreendedorismo Familiar
Hudson Nascimento
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O objetivo dessa série é dar visibilidade para aqueles que a sociedade sempre tentou tornar invisíveis. Assim nasceu a série Nossas Riquezas Pretas de Juiz de Fora. O #NossasRiquezasPretasJF é um projeto antirracista do Instituto Autobahn que visa destacar os expoentes negros do município de Juiz de Fora e legar exemplos positivos de sucesso para as futuras gerações. Iniciado em 2023 com o formato de coluna na RCWTV, a reportagem #001 foi sobre Carina Dantas, #002 Antônio Carlos, #003 Geraldeli Rofino, #004 Sérgio Félix, #005 Fernando Eliotério, #006 Maurício Oliveira, #007 Ademir Fernandes, #008 Gilmara Mariosa, #009 Batista Coqueiral, #010 Cátia Rosa, #011 Eliane Moreira, #012 Antônio Hora, #013 Ana Torquato, #014 Alessandra Benony, #015 Sil Andrade, #016 Joubertt Telles, #017 Edinho Negresco, #018 Denilson Bento, #019 Digo Alves, #020 Suely Gervásio, #021 Tânia Black, #022 Jucelio Maria, #023 Robson Marques, #024 Lucimar Brasil, #025 Dagna Costa, #026 Gilmara Santos, #027 Jorge Silva, #028 Jorge Júnior, #029 Sandra Silva, #030 Vanda Ferreira, #031 Lidianne Pereira, #032 Gerson Martins, #033 Adenilde Petrina, #034 Hudson Nascimento, #035 Olívia Rosa, #036 Wilker Moroni, #037 Willian Cruz, #038 Sandra Portella, #039 Dandara Felícia, #040 Vitor Lima, #041 Elias Arruda, #042 Bruno Narciso, #043 Régis da Vila, #044 Claudio Quarup, #045 Wellington Alves, #046 Lucimar Silvério, #047 Paul Almeida, #048 Negro Bússola, #049 Zélia Lima e #050 Paulo Cesar Magella.

Por Alexandre Müller Hill Maestrini

Hudson Nascimento é considerado na família um “velho”, com somente 35 anos e uma personalidade de porte grande com os seus 1,85 de altura. Nascido em 12.01.1989 no centro de Juiz de Fora, mais exatamente na conturbada Avenida Sete, onde a criminalidade ainda é uma triste realidade. Ele cresceu brincando de jogar bola e outras brincadeiras simples, ingenuamente, na rua como todos os meninos do final dos anos noventa e início do século XXI, porém, naquela época, Hudson não sabia identificar que estava cercado pelo mundo da criminalidade: “todos falam que eu escapei por pouco de ser um criminoso, inclusive tenho muitos amigos na cadeia e infelizmente outros mortos”. Apesar de pouca idade, Hudson já tem uma trajetória vitoriosa de empreendedorismo familiar.
Ele lamenta que, tendo vivido com pessoas muito mais pobres do que eles, conheceu a vida duríssima da população esquecida e não incluída na sociedade, ao contrário dos ricos: “minha luta eu sempre encarei como uma guerra diária pela sobrevivência”. Muito cedo aprendeu com o exemplo e orientações do pai Ademir Jorge Nascimento (fotos abaixo) que ele deveriam buscar trabalhar, estudar bastante para ser alguém na vida: “com coisa que estar nesse mundo já não fosse o suficiente”, mas essa frase marca a desigualdade que os brancos não carregam em suas vidas. Apesar de ver que muitos outros tinham muito mais que eles, Hudson aprendeu dentro de casa que deveriam ser honestos com todos indiscriminadamente: “lição de vida que eu sigo como um mantra”.

Ele confessou com honestidade que não conhece bem sua ancestralidade e muito menos sua árvore genealógica: “traços típicos do apagamento social e tentativa secular de negar aos descendentes dos negros o conhecimento sobre suas origens e passado”. Ele só sabe que seus bisavós paternos de Hudson vieram do nordeste em busca de melhor qualidade de vida, e os parentes, todos muito pobres, foram se estabelecer em Santos Dumont – MG. Seu avô paterno trabalhava na antiga Fundação Rede Ferroviária de Seguridade Social (REFER) e se transferiu para Juiz de Fora por volta do ano de 1965: “sei que ele era responsável pelo pátio entre Juiz de Fora e Carandaí – MG”. Quando chegaram na cidade se estabeleceram ao lado da rede ferroviária no bairro Benfica: “hoje as casinhas dos funcionários não existem mais, atualmente tem uma UPA no local”.
Uma das maiores influências de Hudson é sem dúvida a querida avó paterna Dejanira Maria de Oliveira, hoje com 98 anos e totalmente lúcida. Lutadora e com 6 filhos, a avó segurava a barra, mesmo o pai tendo outra mulher fora do casamento: “o que ela fez por todos filhos e netos é incrível, mesmo tendo perdido vários filhos e netos por diversos motivos”. Foi a avó que passou para Hudson esse espírito guerreiro e de superação: “não bastasse as perdas familiares, minha avó perdeu todas as fotos e documentos em uma enchente, quando moravam já no bairro Vitorino Braga, por volta do ano 2000”.

Do lado materno chegou a conhecer somente a avó Francisca Maria, conhecida como Vó Chica: “mas eu era muito pequeno e sei que ela era branca e meu avô negro escuro”. Hudson lamenta não ter a menor noção da origem dos avós por parte de mãe: “muito também pela falta de proximidade com minha mãe e de nunca termos conversado sobre isso em casa”, lamentou. Por conta dessa miscigenação nacional: “na minha família tem gente de todas as etnias, origens e colorações de pele e fenótipos diversos”, sorriu (fotos acima com os familiares). Hudson contou que nas festas de família todos se misturavam e os amigos achavam estranho que Hudson era negro, um primo era clarinho, uma tia tinha olho azul e era loira natural, a mãe era mais clara que ele: “nas reuniões no colégio, muitas vezes as pessoas não acreditavam que Maria do Carmo do Nascimento era minha mãe” (foto abaixo e do meio), racismo estrutural puro, confessou. Depois desses eventos era Hudson que sofria com as brincadeiras maldosas dos colegas de escola. Ele se lembrou com dor que: “com nove anos de idade vi minha mãe abandonar a nossa família e isso me marcou muito”.

Atualmente, quando Hudson retorna ao bairro Vitorino Braga onde nasceu ainda escuta os antigos conhecidos sussurrando pelos cantos que: “esse garoto era para ter dado errado”. Ele lamenta com pesar que: “somente poucos jovens negros conseguem escapar das garras do crime organizado”. Nessa dolorosa fase foi a presença da avó paterna que apoiou Hudson e o irmão mais velho Andrey Nascimento (fotos acima com Hudson ainda bebê): “minha avó com todas as dificuldades ia lá pra casa para deixar um almoço pronto pra gente”, comentou agradecido pelo carinho e cuidado recebido da vó. Do pai aprenderam que: “era preciso dar valor ao que tínhamos e que nada iria cair fácil no nosso colo de graça”, lembrou da sabedoria paterna.
Foi o pai Ademir Jorge Nascimento quem conseguiu manter a família unida: “eu e meu irmão somos eternamente gratos aos esforços do nosso pai”. Comentou também que, apesar de pobres, nunca faltou nada dentro de casa e que: “no lar aprendi que era para andarmos de cabeça erguida”. O pai sempre trabalhou como contador e tinha um emprego no Escritório de Contabilidade Técnica (CONTEC) e Hudson estudava de manhã na Escola Estadual Duarte de Abreu, no bairro Vitorino Braga, onde completou o ensino fundamental, desde a primeira série até a oitava. Apesar de ser uma escola pública: “me lembro que a escola era muito boa e de ensino de altíssima qualidade. Apesar de 90% das famílias dos estudantes serem humildes, já fomos o terceiro lugar da olimpíada de matemática”.
Na parte da tarde Hudson convivia solto pelo bairro: “passei muito perto das drogas, levado por amigos, que por saberem do mal que fazem, nunca nos deixaram tocar nas drogas”. Nessa época de escola Hudson não se lembra de sofrer racismo: “muito porquê quase 100% dos estudantes do meu colégio eram negros”. Para ele ser negro era coisa normal e no seu bairro não existia esse racismo estrutural: “a única coisa que me dava problemas era que eu era brigão e em casa meu pai se preocupava”.

Com o tempo o pai trabalhador foi melhorando de vida e pode dar aos filhos tudo possível: “com muito esforço ele comprou um terreno no bairro Jardim do Sol, na zona Leste do Município de Juiz de Fora, onde ele mora até hoje”. Mas Deus ajuda a quem cedo madruga e o pai tirou literalmente a sorte grande: “meu pai ganhou na quina da Loteria Federal em 1999”. Foi com esse dinheiro que o pai já conseguiu erguer a primeira parte da laje da nova moradia: “ele só pensava em dar conforto pra gente”, comentou Hudson agradecido. Mesmo com um teto pra morar, o menino Hudson sentia a falta da mãe e do carinho. Assim ele contou que teve muitos problemas psicológicos: “nessa época foram os meus amigos que seguraram as minhas barras e crises”, agradeceu. E foi justamente nessa época que os amigos ajudaram para que Hudson expandisse suas perspectivas e iniciar uma trajetória de sucesso.
As condições financeiras do pai tinham melhorado e quando terminou o ensino médio em 2005, no ano seguinte Hudson pode ir estudar o pré-vestibular no Colégio Conexão, para terminar do primeiro ao terceiro ano do ensino médio: “a lição do meu pai foi que ele pagaria uma escola melhor pra mim, mas eu tinha que estudar muito”. Hudson pode conhecer a outra parte de Juiz de Fora que tinha mais dinheiro e que podia pagar um ensino particular (foto abaixo da esquerda). Ele se lembrou que já no primeiro ano conheceu a namorada Natália e ela era ruiva: “me lembro de sermos encarados enviesados e recebermos comentários tortos. Um negro com uma ruiva chamava a atenção”.

Ele se recorda também que em 2006, no início do namoro, até a mãe dela não era muito a favor: “mas depois me acolheram muito bem”, sorriu. Em 2007 a família da namorada (que tinha posses) foi morar em Belo Horizonte, e Hudson passou a lavar carros, fazer diversos bicos e quebra-galhos para poder juntar dinheiro e ir passar os fins de semana na capital: “foi uma época bem apertada financeiramente”. O pior episódio de racismo que ele sofreu na vida foi na capital de Minas Gerais: “estávamos num bar para assistirmos a um jogo de futebol entre Atlético e Cruzeiro e um cara branco com um filho pequeno ao lado começou a chamar os jogadores negros de macaco e me chamou também de macaco”, lembrou com tristeza e comentou que a briga foi feia.
Hudson contou que todos os dias percebe o racismo enraizado na sociedade: “a maioria das minhas vivências racistas são clichês na sociedade, por exemplo de eu entrar num elevador e uma pessoa segura a bolsa mais firme, pessoas não se conformam com o tipo de carro que eu tenho”. Ele contou que muitas coisas ainda são pré-conceituosas nas relações humanas no Brasil: “pelo simples fato da cor da pele temos um estigma diário”. Seu pai e irmão também contaram que sofreram e sofrem racismo: “se eu perguntar a qualquer pessoa da minha família, hoje em dia, todos terão histórias de discriminação racial para contar”. Infelizmente hoje Hudson sabe perceber muito bem os olhares das pessoas com as quais encontra: “lamentavelmente vejo só no olhar que tem desdém ou preconceito racial”.

Na verdade Hudson queria ser publicitário e sonhava com uma carreira de sucesso no cenário da Propaganda. Ao terminar o curso médio, em 2009 entrou para cursar Publicidade e Propaganda na Faculdade Estácio de Juiz de Fora (foto acima na direita), onde ficou por vários períodos até 2011. Mas como não estava achando estágio foi conversar com o pai: “e ele me perguntou o que eu queria da vida”. Foi a pergunta que abriu a cabeça de Hudson: “ele me perguntou também se eu queria ganhar dinheiro, e eu respondi que é claro”, sorriu. O pai de Hudson já trabalhava como contador autônomo de respeito na cidade e do nada perguntou ao filho: “então por que você não faz Ciências Contábeis?”, e esse conselho Hudson seguiu. Nos primeiros períodos da Faculdade Machado Sobrinho, apesar de ser um curso referência na cidade, ele não estava satisfeito: “era reprovado em várias matérias, só via números na minha frente e pensei em desistir”. Mais uma vez Hudson foi conversar com o pai: “ele me explicou como eu deveria preparar o meu caminho”. Seguindo os conselhos do pai, Hudson, agora com outra visão da profissão e também mais maduro começou a gostar do que estava estudando.
Mesmo gostando e fazendo estágios os custos estavam impossíveis de pagar: “em 2012 mudei para a Faculdade do Sudeste Mineiro (FACSUM) no centro da cidade e quase parei por causa de problemas psicológicos”. Depois de uns seis meses sem estudar colocou a cabeça no lugar, voltou aos estudos com espírito renovado e por sorte do destino em 2013 conheceu a futura companheira Luana Oliveira. Durante todo seu período nas faculdades que cursou Hudson não se lembra de ter presenciado racismo abertamente, muito pelo contrário, a maioria era muito legal com a gente: “mas é claro que tinha alguns que me viam de carro e se perguntavam como era possível e deviam pensar como esse negro poderia ter um carro, mesmo que na época eu tinha só um carrinho simples”.

Os dois irmãos estavam quase se formando e se perguntavam se não poderiam montar sua própria empresa (conheça a empresa clicando no banner acima). Por conta do destino, meu pai teve que sair do escritório onde trabalhava e a família unida resolveu dar um passo em conjunto. Desde agosto de 2015 Hudson tem um escritório junto com o pai Ademir Jorge do Nascimento como sócios-proprietários da Nascimento Contabilidade Ltda – especializada em assessoria contábil e jurídica , na Rua Marechal Deodoro – 385 – SL 105, Juiz de Fora – MG. A empresa recrutou pessoas altamente capacitadas e a companheira Luana Oliveira também se juntou para reforçar o time. O sucesso no trabalho trouxe a estabilidade na vida particular e em 4.7.2016 nasceu a filha Maria Luiza de Oliveira Nascimento.

Mas desde criança Hudson queria morar nos EUA e esse sonho de ser feliz num país mais desenvolvido nunca morreu: “no início de 2018 recebi uma proposta de ir morar lá no Estado de Massachusetts e trabalhar na construção”. Nessa época, mesmo com a filha de dois anos, conversou com a companheira Luana que gostaria de ter uma experiência de três ou quatro meses e se desse certo ele buscaria a família. Porém a impressão inicial foi um choque de cultura total: “apesar de ver todo seu sonho sendo realizado, passei a trabalhar como imigrante quase doze horas por dia”. Ele que pesava mais de 85 quilos, emagreceu para 71 quilos de tanto trabalho pesado: “além disso cheguei no inverno com neve e isolado socialmente”. Só aguentei quatro meses: “voltei para Juiz de Fora, que é muito acolhedora, e para perto da minha família. Nunca me arrependi, pois aprendi muito o que é realmente importante na vida e o real conceito de família”.

Hudson voltou com um pé-de-meia e pode comprar seu apartamento. Nessa altura da vida, as lições aprendidas na casa do pai começaram a realmente fazer todo sentido para ele: “dinheiro não é tudo nesta existência”, lembrou da sabedoria do pai. Em maio de 2018 ele e Luana “juntaram as escovas de dente” para sempre. Hudson hoje é conhecido por trabalhar muito, ser muito correto e valorizar o empreendedorismo familiar: “apesar de muitas pessoas me enxergarem somente com olhos racistas que nos desvalorizam sem nos conhecer”. Como contador Hudson ainda sofre preconceito profissional: “pois nessa profissão as pessoas precisam depositar uma confiança muito grande em mim”. E lamenta que infelizmente ainda hoje na sociedade brasileira vê-se os negros como menos confiáveis: “luto para mudar essa visão equivocada”.

Apaixonado por futebol e pelo Cruzeiro Esporte Clube (Foto acima na esquerda), Hudson e o irmão podem sempre ser encontrados nas horas de lazer nos jogos com os amigos no Resenha Futebol Clube, onde é o presidente, sorriu. Fundado em 2010, quando fez estágio na PJF, ele e os amigos de longa data se encontram para beber cerveja e falar de futebol. O Resenha FC virou a segunda família de Hudson e ele nunca mais quer sair da sua querida Juiz de Fora.

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FONTE/CRÉDITOS: Hudson Nascimento
Alexandre Müller Hill Maestrini

Publicado por:

Alexandre Müller Hill Maestrini

Alexandre Müller Hill Maestrini é professor de alemão no Instituto Autobahn e autor de quatro livros: Cerveja, Alemães e Juiz de Fora, Franz Hill – Diário de um Imigrante Alemão, Lindolfo Hill – Um outro olhar para a esquerda e Arte Sutil.

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