O objetivo dessa série é dar visibilidade para aqueles que a sociedade sempre tentou tornar invisíveis. Assim nasceu a série Nossas Riquezas Pretas de Juiz de Fora. O #NossasRiquezasPretasJF é um projeto antirracista do Instituto Autobahn que visa destacar os expoentes negros do município de Juiz de Fora e legar exemplos positivos de sucesso para as futuras gerações. Iniciado em 2023 com o formato de coluna no Portal de Notícias RCWTV, a reportagem #001 foi sobre Carina Dantas, #002 Antônio Carlos, #003 Geraldeli Rofino, #004 Sérgio Félix, #005 Fernando Elioterio, #006 Maurício Oliveira, #007 Ademir Fernandes, #008 Gilmara Mariosa, #009 Batista Coqueiral, #010 Cátia Rosa, #011 Eliane Moreira, #012 Antônio Hora, #013 Ana Torquato, #014 Alessandra Benony, #015 Sil Andrade, #016 Joubertt Telles, #017 Edinho Negresco, #018 Denilson Bento, #019 Digo Alves, #020 Suely Gervásio, #021 Tânia Black, #022 Jucelio Maria, #023 Robson Marques, #024 Lucimar Brasil, #025 Dagna Costa, #026 Gilmara Santos, #027 Jorge Silva, #028 Jorge Júnior, #029 Sandra Silva, #030 Vanda Ferreira, #031 Lidianne Pereira, #032 Gerson Martins, #033 Adenilde Petrina, #034 Hudson Nascimento, #035 Olívia Rosa, #036 Wilker Moroni, #037 Willian Cruz, #038 Sandra Portella, #039 Dandara Felícia, #040 Vitor Lima, #041 Elias Arruda, #042 Bruno Narciso, #043 Régis da Vila, #044 Claudio Quarup, #045 Wellington Alves, #046 Lucimar Silvério, #047 Paul Almeida, #048 Negro Bússola, #049 Zélia Lima, #050 Paulo Cesar Magella, #051 Samuel Lopes, #052 Gláucio Anacleto de Almeida, #053 Gustavo Cyrillo.
Por Alexandre Müller Hill Maestrini
Herculano Gustavo Cyrillo é um profissional especialista do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO) com 20 anos de experiência, integrante da Associação Brasileira de Fisioterapia em Oncologia (ABFO), com empresa própria a Nova Áurea Fisioterapia, especialista em Oncologia e Cardiorrespiratória. Muito sensível e espiritualizado, atualmente atua integrado na Clínica Santtés de Especialidades Médicas, além de ativo como responsável técnico, intensivista, consultorias, mentorias, treinamentos e palestras.
Primogênito de quatro irmãos, Gustavo nasceu em 17.07.1982 e se criou no bairro Santa Cecília, na região central de Juiz de Fora. Hoje ele é um fisioterapeuta de sucesso, mas nem sempre a vida foi assim. Filho da pedagoga e servidora do Estado de Minas Gerais Maria da Conceição Cyrillo (1952) e do lanterneiro de automóveis Elivaldo Cyrillo (1947): “sei que meu pai também trabalhou com engraxate e como um auxiliar em funilaria, mas logo se profissionalizou”. Os pais se casaram ainda muito jovens e assumiram uma responsabilidade imensa com quatro filhos para criar. Na foto abaixo os pais felizes em 1971 na formatura dela no Cine Teatro Central: “exemplo a ser seguido”, comentou.
Gustavo falou de seus antepassados com muita gratidão. Um lado desconhecido de Gustavo é sua inspiração que ele recebe da mãe (fotos acima da direita com a família paterna – avó, tia e primos) para escrever algumas poesias e: “acho ótimo que minha filha pode conhecer a bisavó dela e receber as inspirações dos antepassados”. Seu bisavô paterno foi o lavrador Gustavo Cyrillo casado com a bisavó Sebastiana Felicíssima de Jesus, que faleceu com 104 anos: “o quarto dela era de frente para o terreiro e tinha uma videira arrastando pelo teto e caindo pela janela”, lembrou com carinho.
Outras mulheres fizeram parte da formação de Gustavo, como a tia-avó Laura e a filha dela Maria de Lourdes, carinhosamente chamada de madrinha ‘Dindinha’ dele: “eu a considerada como minha segunda mãe”. A tia-avó Laura era irmã da avó materna Mariana: “tenho uma lembrança muito forte dessas mulheres potentes”. Ele se recorda de ir visitar a madrinha já com Alzheimer: “foi triste a gente perceber a pobreza dela e em uma condição muito precária”. A vida dela não foram só flores, mas ele percebia e valorizava tudo que ela conseguiu: “quando ainda estava lúcida ela falava que a madrinha não tem dinheiro, mas sempre vai rezar por você”. E hoje Gustavo sente sua proteção muito forte: “lembro que a madrinha vendia roupas íntimas pelo bairro e região”. O contato deles era simples e feliz: “a gente sentia muito esse contato humano, não se tinha internet nem telefone, mas sentávamos no terreiro, ela contava histórias e comíamos amoras direto do pé. Essa era nossa riqueza”. A mãe na foto abaixo da direita, na foto da esquerda abaixo Gustavo no seu fusca amarelo com familiares, na foto do meio abaixo Gustavo com familiares na sua primeira comunhão na Igreja São Mateus.
Gustavo foi conversar com o pai para poder responder algumas perguntas dessa reportagem: “percebi como meu pai ficou emocionado em poder falar de seus antepassados e lembrar como o bonde passava perto da casa deles”, comentou. Sua vó paterna Calista Evarista Cyrillo (1922-2018) faleceu com 96 anos e era casada como seu avô Herculano Cyrilo: “como meus bisavós, era lavrador, peão de obra e muito humilde, como meus avós paternos nasceram em Piau – MG, depois foram morar no Distrito de Caetés, em Juiz de Fora”.
Ele não conheceu pessoalmente seu avô paterno: “mas minha avó Calista conheci e ela faleceu com seus 96 anos”, lembrou. Ele se lembra da voz aguda e estridente da avó paterna, mas também de seu sorriso largo e radiante: “meu pai costumava visitá-la nos feriados e dias importantes, ele era tradicionalíssimo, chegava e pedia benção, sempre com muito carinho tratando ele de ‘oh mãe’ e levando um presentinho”. Gustavo se lembrou da avó chamando o pai de ‘Lenin’, seu apelido”.
O pai de Gustavo sempre demonstrou responsabilidade e compromisso no trabalho: “nunca vi meu pai sair de casa depois das sete horas e sempre falava que Deus ajuda quem cedo madruga”. Ele se orgulha dos exemplos da luta dos seus pais, dos avós e dos antepassados. Os Cyrillo nunca passaram fome e nunca tiveram dificuldades como os amigos do bairro Santa Cecília e os pais na década de 80 até construíram um prédio no bairro Alto dos Passos: “meus pais queriam deixar um apartamento para cada filho”, lembrou com gratidão. A pré-escola ele frequentou a Escolinha Peter Pan (foto acima da direita), já na sua infância Gustavo estudou do primário ao científico no Instituto Granbery da Igreja Metodista: “minha mãe como pedagoga dava muito valor à educação”. Ele acabou fazendo parte de um grupo ínfimo de negros, que tiveram a oportunidade de estudar no Colégio Granbery, estabelecimento de ensino frequentado, em sua maioria, pela classe média-alta e pela elite de Juiz de Fora, quer dizer, branca. Na foto da direita abaixo ele está com a professora Jaqueline na Escolinha Peter Pan.
A mãe dele, filha única, desde cedo se dedicou aos estudos: “na casa onde minha avó trabalhava a patroa queria oferecer um curso de inglês para a jovem, mas o receio e a desconfiança do preconceito fez com que elas não aceitassem”, lembrou das palavras da mãe sobre a sobrecarga e pressão que já existia. Depois de formada a mãe trabalhou como orientadora educacional e como professora na Escola Estadual Dom Orione, no bairro Dom Bosco. Gustavo sem lembra de as vezes ia com ela nas aulas: “percebia que por mais avançada que a turma era, eu conseguia acompanhar o raciocínio”, lembrou da diferença da educação pública e da particular. Nessa época ele queria fazer engenharia e o pai queria que Gustavo se tornasse um advogado, mas a mãe sempre deu apoio para que ele pudesse escolher com calma o que ele quisesse.
Na adolescência sua paixão era realmente ajudar o admirado pai na oficina, seguir o time do coração do pai, o Botafogo do Rio de Janeiro, para tristeza saudável da mãe, uma flamenguista fanática. Como não podia deixar de ser, outro hobby dele sempre foi jogar futebol e disputar vários campeonatos: “me lembro do projeto Bom de Bola – Bom de Escola, da Copa Toko, Copa Bahamas, Carioca, entre outros, mas no dia das mães a gente venceu por três a um, com três gols meus, logo em cima da elite do Clube Bom Pastor, uma glória estar sendo assistido pelos meus pais e irmãos”. (foto acima a direita com o pai no evento de judô em Viçosa). Aos 12 anos começou a jogar no campo na famosa Curva do Lacet, atual espaço inútil em frente ao Shopping Independência.
Ele passou a disputar alguns campeonatos no campo de terra: “o querido Sr. Neném me emprestava sua chuteira favorita”. Contou que os jogos eram verdadeiras festas das etnias: “a molecada era bacana, de vários bairros, várias classes sociais, cores de pele diferentes e pessoas de uma, duas ou três gerações acima da minha”, contou com pesar. Sobre o racismo, Gustavo se lembra dos olhares dos populares nas missas na Catedral Metropolitana: “era realmente diferente, pois éramos uma família de seis negros sentados nos bancos da igreja, um local tradicional dos brancos”.
Como o irmão mais velho, Gustavo cresceu com a responsabilidade de dar bons exemplos e ser espelho para que os irmãos Elivaldo Cyrillo Júnior, Henrique Guilherme Cyrillo e Isabela Cristina Cyrillo pudessem furar a bolha estrutural, sobressair nos seus campos de atuação e principalmente alcançar seus objetivos pessoais (fotos acima com os irmãos e pais). Gustavo sentiu sim um certo racismo ‘inevitável’ no Colégio Granbery: “tudo amenizado por minha condição de bom esportista de futebol. Mas tinha sim os grupinhos, as piadinhas, os preconceitos e os egoísmos”. Hoje ele entende que foi mais pela questão de classe social do que pela cor da pele. Mas o menino Gustavo sempre teve consciência de suas raízes, a honra de ser negro e percebia sim que existiam alunos com a sensação de serem superiores, porém fez muitos amigos dentro e fora do campo e se sentia querido na equipe: “me lembro que íamos jogar futebol em outros clubes de elite da cidade e recebíamos sim olhares esquisitos, mesmo tendo sido convidados”.
Com tantos destaques contra Tupi, Tupinambás e Sport, Gustavo e outros amigos do Granbery formaram a base do time do Paraibuna de Metais. Seu avô materno Jaime do Nascimento, que praticamente morava no Clube Tupinambás, um clube tradicionalíssimo de Juiz de Fora: “apesar de eu jogar futebol no Granbery e Paraibuna de Metais, nunca joguei no clube que meu avô adorava”. Sr. Jaime cuidava do clube, do campo de futebol do Tupinambás, era boleiro, mas quando adoeceu no final da década de 80, lembrou Gustavo, a avó materna Mariana Pereira da Costa o recebeu novamente em casa e foi o pai, Elivaldo Cyrillo, quem deu todo apoio: “morávamos no bairro Santa Cecília”. Nessa época Gustavo já sentia que era um privilegiado, mas vendia cocadas, negociava celulares dos amigos e achava que seguiria profissão do pai: “me lembro do meu entorno pobre. Eu tinha uns amigos que eu levava lá em casa para comer algo, pois sabia que não tinham nada em casa”.
Com 17 anos, Gustavo que tinha acabado de se formar no Granbery (foto acima da esquerda) e a família se mudaram para o prédio que os pais construíram com esforço: “minha mãe já estava doente no finalzinho de 1999”. O primogênito já estava na hora de ir para a faculdade em 2000 e se lembra que os apartamentos estavam ainda inacabados, mas a mãe queria ir morar lá: “ela já estava em tratamento contra um câncer de mama, nova, com seus quarenta e poucos anos”. Algumas famílias do bairro já eram conhecidas do seu pai Elivaldo Cyrillo, que tinha sua oficina de serviços de lanternagem, funilaria e pintura de veículos: “em 2018 meu pai transferiu a oficina dele para o bairro Poço Rico”, se lembrou.
Gustavo foi aprovado no vestibular da Faculdade de Fisioterapia na Universidade Católica de Petrópolis – RJ e teve a oportunidade de estudar fora: “meus pais se esforçaram muito pra me manter na faculdade particular”, comentou com gratidão (foto acima da direita). Gustavo sabia que era necessário dar o exemplo para os seus irmãos, valorizar o trabalho dos pais, ressignificar a importância da luta de um jovem negro: “carreguei todo esse peso, entrando um lugar que nem todos negros conseguiram”, lembrou. Ele contou que dos amigos de infância alguns morreram, alguns se perderam e alguns foram detidos: “os que estão comigo depositaram em mim a confiança e me tinham como espelho”.
Em Petrópolis, Gustavo morava sozinho, não conhecia nada ainda e não tinha o amadurecimento: “lembro da minha mãe me perguntando se eu queria mesmo ficar lá”, pois era uma neblina que nem dava pra ver o outro lado da rua, mas era o que ele queria mesmo. Ele não tem uma postura vitimista, porém se recorda de ter somente duas mulheres negras na faculdade e de pessoas de várias partes do Brasil. E se o ambiente que você frequenta não tem muitos negros, representa o racismo estrutural: “pois são ambientes que não espelham as proporções da sociedade hoje com mais de 50% de negros. Mas pior que o racismo é a pobreza de espírito”.
Ao longo dos primeiros períodos Gustavo observou uma segregação e uma separação entre os alunos: “tinham os grupos elitizados, filhos de fazendeiros, médicos etc que tinham condição financeira melhor”. Ele percebia também que seu desempenho nas aulas fez outros alunos se aproximarem dele e entre tantas memórias, contou que ainda jovem no Posto de Saúde de Petrópolis, onde estagiava voluntário, ele tinha a sensação que o pessoal pensava que ele não teria a capacidade para desenvolver o programa, o trabalho ou a atividade proposta: “também com meus 18 anos as pessoas não acreditavam na minha idade, pois eu sempre fui muito precoce”, sorriu. A vida dele não foi só flores, a partir do terceiro período da faculdade, Gustavo se prontificou para ficar trabalhando dentro de uma clínica: “não ganhava nada além da experiência e já ajudava muita gente”, lembrou.
A jornada de Gustavo mostra esses embalos de emoções, frustrações, falhas, perdas, uma verdadeira montanha-russa de um garoto negro que tinha sonhado em ir para a faculdade: “me lembro como se fosse hoje nas aulas eu, ali, sem entender muito, dando nó na cabeça”. Mas em 2004, faltando apenas três meses para se formar, com tanta pressão, teve um surto, entrou em desespero: “eu achava que com 21 anos eu teria a responsabilidade toda nas minhas costas, alguns monstros voltaram e realmente entrei numa depressão muito cruel”. Mas com uma família estruturada e espiritualizada ele recebeu todo o apoio: “foram dois anos difíceis porque eu tranquei a faculdade e voltei para Juiz de Fora. Fiquei praticamente dois anos parados”. Desorientado, Gustavo fez vários concursos, inclusive para os Correios, tentando buscar um novo rumo: “fui aprovado para alergia da mãe e irmã que se surpreenderam ao encontrar seu nome no jornal”, sorriu.
Gustavo com a cabeça no lugar pediu transferência para o Centro Universitário Antônio Carlos (UNIPAC/JF) para continuar os estudos de fisioterapia: “foi o meu divisor de águas, porque estava com matéria do primeiro, terceiro, sétimo, oitavo”. E foi justamente nessa época de turbilhão mental que reencontrou sua atual esposa: “percebíamos que éramos uns dos poucos alunos negros numa faculdade particular de fisioterapia”. Fabiana Queiroga era natural do Rio de Janeiro, mas estava morando no bairro Mundo Novo, filha de um militar, que por coincidência conheciam os pais de Gustavo: “na verdade eu já a conhecia de bem antes, mas ela não ligava para mim", sorriu. A vida foi acertando os caminhos com sua companheira.
Mas logo seu pai conseguiu um contato com a professora Gianne Delgado e o professor de diagnóstico de imagem Ricardo Martins, que indicaram para Gustavo um estágio supervisionado na UFJF. A Magdaline Ladeira foi também uma fisioterapeuta que lhe deu suporte: “mas eu era o único que não era aluno da UFJF e agora estava dentro do hospital HPS Dr. Mozart Geraldo Teixeira, dentro de um CTI, e percebi que precisava rever tudo que aprendi na faculdade”, contou. Gustavo é muito agradecido dos apoios e da confiança dos professores que o apoiaram na sua evolução: “quebraram esse paradigma que um negro não pode chegar em posições de destaque”.
Gustavo cumpria uma rotina intensa: “saía de casa por volta de 4 e meia para chegar no Hospital Geral de Juiz de Fora, no bairro Fábrica”. Ele seguia o que seu pai sempre dizia, que Deus ajuda quem cedo madruga: “às 5 horas da manhã eu já estava dentro da UCI (uma unidade intensiva) e atendia até 8 horas”. Depois se deslocava para o Hospital de Traumato Ortopedia (atual Hospital São Vicente de Paulo de Minas Gerais) e por volta de meio-dia ia atender na Associação Feminina de Prevenção e Combate ao Câncer de Juiz de Fora (ASCOMCER): “às vezes eu chegava um pouco mais tarde, não é porque eu queria, mas sim porque eu já estava no meu terceiro empreendimento, mesmo sem um salário digno, pois eu ainda não era efetivado e estava como terceirizado”.
E a jornada de Gustavo não parava por aí. Durante anos, depois almoço, lá ia ele para o trabalhar como voluntário na Associação dos Hemofílicos de Minas Gerais que faz parte da rede socioassistencial de Juiz de Fora e presta serviços em fisioterapia à população usuária do SUS, não possuindo outra fonte de renda, sobrevivendo de doações.
Em 2006 decidiu retornar aos bancos da faculdade de Petrópolis (foto abaixo da esquerda): “me lembro emocionado da frase da supervisora do curso que disse que o bom filha à casa torna”, se lembrou do sorriso de felicidade e realização da mãe pedagoga. Além dos estudos, estagiava no Hospital Alcides Carneiro, em Itaipava – RJ. Neste último ano Gustavo estava sendo muito pressionado pelos professores da supervisão: “acho que foi porque eles perceberam o quanto eu tinha mudado, mais maduro, uma mudança da água para o vinho, e muitos ficaram desconfiados”, lembrou das provações.
Mas ele estava com espírito renovado e decidido a vencer, sem perder tempo, conseguiu em três meses pesquisar e produzir um TCC, superando todas as expectativas e perspectivas dos professores. Gustavo se formou com o Trabalho de Conclusão de Curso para a graduação em Fisioterapia na Universidade Católica de Petrópolis, e foi orientado pela professora Marilia Isabel Winter Hughes Leon, com o título ‘Abordagem Fisioterapêutica na Incontinência Urinária Pós Parto’: “me lembro do orgulho da minha família, principalmente da minha mãe, da minha avó, do meu pai e irmãos, que tinham muito o compromisso da responsabilidade”, lembrou agradecido.
Lamentavelmente em 11.09.2006 a família perde a querida mãe e Gustavo recordou emocionado o momento no qual tinha recebido o diploma: “quando recebi o diploma de fisioterapeuta minha mãe gritou o meu nome, som que ecoa até hoje dentro da minha cabeça”, foto acima e do centro. Em 2010, mesmo como voluntário no do Hospital da ASCOMCER (foto acima da direita), seu maior sucesso foi o projeto do ‘Grupo Vitoriosas’, que vem fazendo a diferença nas vidas de tantas mulheres: “o projeto surgiu de uma frustração e nostalgia própria, mas também da necessidade de ajudar”. Mesmo sem praticamente nenhum incentivo financeiro, o grupo oferece assistência para pacientes em tratamento ou controle do câncer de mama: “aumentando o conhecimento sobre o câncer de mama é possível diminuir o temor associado a ele”. Gustavo é reconhecido por seu comprometimento em oferecer tratamentos individualizados e eficazes para seus pacientes: “muitas perdem a sanidade mental, muitas são abandonadas pelos maridos e perdem parte de sua feminilidade”. Um trabalho importantíssimo que não olha a etnia, o credo, a classe e a cor da pele: “mas que nunca teve o real reconhecimento”.
Ainda em 2011 Gustavo coordenou um grupo da ASCOMCER que foi ao Rio de Janeiro para participar da corrida ‘The race for the cure’, pela primeira vez sediada aqui no Brasil: “o Outubro Rosa é um movimento internacional que surgiu na década de 1990”, a cor rosa simboliza a luta contra o câncer de mama”, explicou. Ele voltou animado e trouxe a ideia, sendo um dos iniciadores em Juiz de Fora da 1ª Corrida Caminhada de Conscientização e Prevenção ao Câncer de Mama: “me lembro das palavras de elogio do diretor na época, que acabou nos auxiliando, nos deu confiança e nos efetivou de terceirizados para funcionários com carteira assinada da ASCOMCER”, lembrou com gratidão.
Em 2015 a esposa Fabiana deu uma felicidade enorme para Gustavo: “com oito anos de casado me contou com carinho que ela estava grávida e já levava a nossa filha Alícia Queiroga Cyrillo na barriga”. A filha nasceu em 2016 e para completar a benção de Gustavo, neste mesmo ano o Município de Juiz de Fora finalmente Instituiu o Dia Municipal de Combate ao Câncer de Mama no Calendário Oficial. Em 2024, o Outubro Rosa realizou a 11ª edição: “o objetivo era a motivação das mulheres, a união como uma forma lúdica e saudável de rever e ver a vida através da atividade física, além da conscientização”. Para ele a corrida representa a recuperação e a capacidade de superar os limites (foto abaixo da direita).
Para sua primeira pós-graduação em ‘Fisioterapia Cardiorespiratória e Pneumofuncional’ pela Universidade Católica de Petrópolis (UCP), Gustavo entrou somente 5 anos após a graduação. Se dedicando à fisioterapia em oncologia foi aprovado na prova de título de especialista em 2015: “esse é hoje o meu carro-chefe e minha verdadeira paixão. Eu passei a me dedicar a prevenção e ao diagnóstico precoce”. A vida vai ligando mesmo os caminhos, pois sua mãe tinha sido vítima do câncer de mama e Gustavo queria com a fisioterapia desempenhar o papel fundamental na reabilitação, no alívio, no conforto, entre outros recursos. Desde então ele vem ministrando várias palestras, participando de diversas campanhas e workshops: “já são quinze anos conseguindo incentivar várias turmas de mulheres com uma grande equipe multidisciplinar dedicada”.
Ele estava em 2017 trabalhando no Homecare (cuidados a domicílio) na empresa CAPTAMED e solicitaram que ele abrisse um CNPJ para poder seguir. Neste momento se lembrou que o pai sempre o motivou a furar essa bolha. A partir desse impulso empreendedor do pai e do momento certo, ele saiu do emprego e abriu sua própria empresa própria a Nova Áurea Fisioterapia, com CNPJ próprio e razão social Herculano Gustavo Cyrillo Serviços de Fisioterapia. Como especialista em Oncologia e Cardiorespiratória, seus primeiros esforços foram criar parcerias e buscar clientes. Ao mesmo tempo ele gerenciava seu tempo como preceptor de estágio pelo Centro Universitário do Sudeste Mineiro (UNICSUM).
Gustavo explicou a importância da equipe multiprofissional no tratamento contra o câncer e de uma união como o ‘Grupo Vitoriosas’. Destacando-se nesse trabalho, ele foi convidado a participar como fisioterapeuta da equipe de pesquisa do Centro de Estudos do Hospital ASCOMCER, criado com a finalidade de divulgar, criar e fomentar o conhecimento científico na área de saúde, especialmente em oncologia, contribuindo para o desenvolvimento e divulgação das atividades científicas e técnicas desenvolvidas na ASCOMCER.
Ele repete sobre a importância da abordagem da fisioterapia em relação ao câncer de mama, que, por ironia do destino, levou sua mãe no ano de 2006: “minha luta é incessante para melhorar na atenção primária e na detecção precoce, a conscientização e quebra de tabus”. Através de uma equipe multidisciplinar a ASCOMCER oferece atenção integral, integrada e multiprofissional visando à melhoria da qualidade de vida das pacientes em tratamento ou em acompanhamento na própria ASCOMCER, além de promover também dinâmicas, palestras educativas para discutirem valores e preconceitos, além de programas de exercícios: atua como responsável técnico de uma equipe de seis profissionais, desde 2017, além da supervisão de vários voluntários.
Gustavo atuou como fisioterapeuta na COP Saúde Integrada quando em 2023 teve a oportunidade de começar a atender integrado na Clínica Santtés de Especialidades Médicas na rua Santo Antônio, 990/8° andar, no Centro de Juiz de Fora: “para mim foi um salto profissional, de independência e de autonomia, mas também representou um aumento de responsabilidade diante à sociedade”, comentou. Seu investimento e comprometimento vem aumentando, mas ele frisou que nunca esquece quem deu apoio e proporcionou que ele chegasse até aqui: “agradeço aos profissionais e amigos, mas principalmente à minha ancestralidade que plantou a semente para eu chegar até aqui e multiplicar o legado”.
Suas maiores influências são, sem dúvida, os pais e os seus irmãos, mas citou também o típico sincretismo religioso brasileiro: a bíblia, Nossa Senhora Aparecida, São Bento, a doutrina espírita e a umbanda de seus antepassados. De todas as bênçãos Gustavo precisou em 2023, pois sofreu um acidente de carro que quase tirou sua vida e considera que foi protegido pelos deuses: “foi no dia das mães e eu aprendi sobre a grandeza, as dimensões, a parte espiritual, pois eu senti que já tinha morrido, já estava no além, mas nasci de novo”. Foi durante a recuperação do acidente que ele se lembrou que a mãe mantinha uma imagem de Nossa Senhora Imaculada da Conceição em seu oratório em um cantinho de casa no bairro Santa Cecília: “percebi naquela experiência que minha vida começou do zero de novo. Acredito que eu recebi uma segunda chance divina”. Estava fragilizado após o acidente, e foram a esposa e a filha seu o porto seguro, mas que ao mesmo tempo o fazem mudar e revirar: “tive a consciência de quanto nós somos vulneráveis, mas, ao mesmo tempo, da importância do sentimento chamado confiança em um futuro melhor, simplesmente fé”.
Hoje sua meta está muito voltada ao atendimento clínico: “apesar de eu estar na gestão como responsável técnico de uma instituição, e de ter sido fisioterapeuta intensivista até início de 2025”. Seus objetivos futuros são se dedicar mais ao consultório, ampliar a assistência Homecare e ajudar outros profissionais a se capacitarem cada vez mais. Ele vem também seguindo os exemplos da mãe, e contou que continua a estar presente nas comunidades para campanhas sociais, para levar mantimentos, agasalhos e brinquedos: “estou passando o exemplo para a próxima geração, faço hoje também junto com minha esposa e filha, doamos kits escolares, brinquedos etc”. Gustavo contou que sua mãe fazia ações na época de São Cosme e Damião, e era aquela criançada chegando: “corríamos atrás de balas naqueles momentos religiosos, e hoje eu tento seguir e fazer com que a minha luta seja para outros e não apenas para minha família”.
Conscientes, Gustavo e a esposa sabem de onde vieram, pois encaram com naturalidade o ciclo da vida, e, justamente por essa postura humilde e de sucesso, se tornaram exemplos a seguir e querem mostrar para as crianças que somos capazes: “quando você chega com uns brinquedos ou uma cesta básica, muda a visão do pobre, periférico e negro que está com o pé descalço e sem saneamento básico”. Gustavo contou que foi realmente difícil a todo momento de sua vida conviver com os olhares velados dos brancos da sociedade juizforana: “e esse bloqueio é o nosso maior adversário, que muitas vezes nos atrapalha, nos limita”, suspirou. Gustavo finalizou dizendo que: “nossa luta como pretos continua sendo pela igualdade.
Sonho que minha filha (na foto acima com os pais) possa viver a nossa inserção como negros periféricos na sua plenitude, podendo vivermos onde quiser, pois podemos fazer a diferença e temos o direito de sermos o que quisermos”.
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