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Durante o período da Segunda Guerra Mundial, na qual os imigrantes e seus descendentes começaram a ser presos, em Juiz de Fora, o tio de Lindolfo, Jacó Hill (avô do autor), chegou a ser constrangido e ficou muito envergonhado, pois foi recolhido pela polícia somente por causa do seu sobrenome alemão. Jacó Hill recebeu a “visita” da polícia dentro da Marcenaria Renascença, onde trabalhava para seu filho. Jacó não ofereceu resistência, mas, ao chegar na delegacia, o delegado se surpreendeu ao ver à sua frente o seu conhecido, tranquilo e pacato cidadão de Juiz de Fora.
A notícia se espalhou rapidamente e com o pedido de intervenção por parte do sobrinho Lindolfo Hill, que na época já era um conhecido e ativo sindicalista, o delegado mandou soltar o tio Jacó imediatamente. Além da influência política de Lindolfo, o delegado também conhecia muito bem a rotina “simples” de Jacó Hill entre sua casa no Morro da Glória, a morada dos filhos, a igreja e o trabalho, sempre andando a pé. Em tom de brincadeira, o delegado disse para Jacó e Lindolfo que: “quem deveria ter sido preso era o primo de Lindolfo, Geraldo Hill”, filho de Jacó, pois este sim gostava de enaltecer os alemães nas rodas com os amigos e dizia em bom som que os alemães eram os que trabalhavam muito e que o Brasil precisa era trazer mais imigrantes ‘para melhorar o país!’. O empresário Geraldo Hill sempre afirmava abertamente, mas o tom era de brincadeira, valorizando a característica trabalhadora de seus antepassados e por comparação depreciava os brasileiros que ‘não queriam trabalhar direito’”.
Lembrando que em maio de 1943 a III Internacional Comunista (KOMINTERN) deixou de existir e os partidos comunistas de diversos países passaram a não contar mais com um centro dirigente e guia para o movimento comunista internacional.55 Em meados de 1943, apareceu em Juiz de Fora o ativista Pedro Pomar do PCB do Rio de Janeiro, que veio conversar com um grupo de pessoas sobre a organização do PCB em Juiz de Fora, participaram Lindolfo Hill, João Medeiros, Orlando Oliveira, Aloísio de Sousa e outros. A partir deste momento, Pedro Pomar passou a visitar frequentemente a cidade e apoiar o grupo de Juiz de Fora a criar raízes entre os trabalhadores e as camadas populares para forjar um poderoso movimento antifascista. Nestas reuniões Pedro Pomar falava em nome de uma comissão nacional do PCB, contava das movimentações das correntes políticas e manifestações no seio da Ditadura de Vargas, entre outros assuntos. Num desses encontros, ficou decidido que o líder juiz-forano Lindolfo Hill deveria ir à Belo Horizonte se encontrar num determinado “ponto” com João Amazonas, codinome “Severino”, para discutir a participação de Minas Gerais na Conferência Nacional do PCB, que estava sendo preparada para fins de 1943. Na reunião em BH, se encontraram Lindolfo Hill, João Amazonas, Armando Ziller, José Militão Soares, Amélio Marques e Orlando Bonfim.
Os “pontos” (pontos de encontro) eram sagrados na luta clandestina. Ninguém podia faltar a eles e não deveriam chegar atrasados, nem antes do “minuto exato”. Todos insistiam no rigor dos pontos e indicavam com veemência que os participantes do encontro conhecessem previamente a área e o transporte, pois era preciso evitar qualquer imprevisto de última hora. Outra precaução para o “ponto” era a de observar bem as redondezas a fim de verificar a presença de qualquer pessoa suspeita, evitando que qualquer militante fosse preso por descuido. Envolvido em atividades consideradas não legais pelo governo, Lindolfo Hill se tornou uma “sombra sem imagem”, pois acostumou-se a andar preferencialmente de noite, evitando transitar durante o dia. Já nas horas livres, quando encontrava com os amigos e familiares gostava de conversar de música, literatura e artes em geral, se mostrando uma pessoa muito culta.
A vida na clandestinidade, Lindolfo sabia que precisava seguir as regras. As casas utilizadas para as reuniões, conhecidas como “aparelhos”, eram apenas conhecidas pelo dirigente responsável, pelos que moravam na casa e pelo caseiro. Os demais, que participavam das reuniões, não deveriam conhecer a localização, eram conduzidos de olhos vendados até dentro do local. Na ocasião do encontro na capital mineira, Lindolfo Hill descreveu como estavam os andamentos na organização do PCB em Juiz de Fora e que as atividades do comitê de Juiz de Fora do PCB eram exitosas em decorrência da tradição de lutas operárias na “Manchester Mineira”, uma cidade industrial com uma dúzia de fábricas de tecido e outros setores com grandes fábricas para a época.
Em Minas Gerais, os sindicatos eram controlados pelo Ministério do Trabalho e a Igreja Católica tinha criado e dirigia os círculos operários católicos. Além disso, com o atraso intelectual-político dos operários era difícil o trabalho dos militantes do PCB para conseguirem arregimentá-los para atuações em organizações ilegais. Por outro lado, desde que não fossem notórios subversivos, os membros do partido e ou pessoas ligadas ao PCB poderiam perfeitamente ser diretores de sindicatos e atuar neles com relativa liberdade, como aconteceria com Lindolfo Hill.
Os grupos comunistas do Rio de Janeiro e São Paulo se unificaram no CNOP para preparar uma conferência nacional de reorganização com dois objetivos básicos: unificar a tática política e eleger uma nova direção, onde Luiz Carlos Prestes deveria ser eleito secretário-geral do PCB. Para isso Pedro Pomar, Ivan Ramos Ribeiro, Maurício Grabois e Amarílio Vasconcelos formaram a comissão organizadora do evento. Os trabalhos incluíam a escolha dos participantes, dos transportes, do local adequado e seguro, a organização dos “pontos” de encontro, do abastecimento prévio e acomodação para 50 pessoas, montagem do serviço de segurança, planos de retirada e contingência, entre outros.
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