ARTIGO ANTERIOR - 03 APRESENTAÇÃO
Por Maria Orminda A. de Almeida e Dr. Luiz Carlos Pessoa Nery
Nossas considerações iniciais se voltam para o desconhecimento deste personagem e suas ações políticas, mesmo para antigos moradores da cidade de Juiz de Fora. A pesquisa do autor aborda questões sociais e a dificuldade de entender o sistema de classe, divididos entre pobres, rotulados como de esquerda e ricos dominantes, de direita, que fizeram do anticomunismo a bandeira para manterem seus privilégios. Lindolfo Hill não teve reconhecimento de sua luta por se juntar à classe menos privilegiada, prejudicando sua imagem perante a sociedade. Seus ascendentes alemães chegaram ao Brasil, escolhendo Juiz de Fora como ponto de partida para a construção de uma nova vida o que, de certa forma, contribuiu para o desenvolvimento da cidade.
Desde cedo, Lindolfo Hill se volta para questões políticas, interessado na fundação do PCB, sempre muito atuante dentro do partido e seu viés ideológico, com questionamentos ligados à desigualdade já existente entre ricos e pobres. Por conta da guerra, os imigrantes foram limitados e vigiados, principalmente italianos e alemães, resultando na desconfiguração do partido comunista e, como consequência, a repressão se torna ainda maior, com prisões aos líderes até então. A carreira política de Lindolfo Hill ganha corpo ao ser designado pelo partido em Minas Gerais para representar o estado em uma conferência nacional. Logo após, se torna presidente da Federação dos Trabalhadores das Indústria da Construção e do Mobiliário no Estado, caracterizando-o como relevante ator nas lutas de questões sociais.
Após a anistia do partido, o movimento político passa por transformações ao conquistar a liberdade para organizações partidárias, aumentando a importância da sua atuação dentro do principal eixo da política nacional. Juiz de Fora se destaca no cenário ao eleger o primeiro vereador comunista da cidade como o segundo mais votado, mas Lindolfo Hill tem sua candidatura ligada ao PTB, diante da informalidade do PCB no TSE.
O livro apresenta em detalhes uma linha temporal, registrando acontecimentos políticos no Brasil, refletidos pela ordem mundial, fato que apresenta as lutas do personagem com seus ideais sempre voltados para as classes dominadas e, nesse ínterim, Lindolfo Hill entra na clandestinidade após perder o mandato. Mesmo assim, contribuiu com o processo de reestruturação da linha política do PCB, desenvolvendo importantes ações em diversas regiões do país. Somente após doze anos, com a inauguração de Brasília foi absolvido pelos crimes então acusado.
A trajetória da política nacional tem pontos primordiais apresentados pelo autor, tendo como protagonista Lindolfo Hill neste cenário político. Sua imagem cai no ostracismo devido à ilegalidade provocada pela ditadura de 1964 e, somente anos depois, foi reconhecido pelo então vereador juiz-forano Geraldo Magela, homenageando-o dando seu nome a uma singela rua da cidade. Após leitura, percebemos o quão importante é conhecer nossa história. O livro mostra de uma forma de fácil compreensão o desenvolvimento do partido comunista que cresce junto com o protagonista que aos 17 anos foi convidado a fazer parte do PCB. A leitura é leve e didática, mostrando aos leitores a trajetória do partido e de Lindolfo Hill dentro do mesmo.
Apesar de tantos dados históricos e datas, não é uma leitura maçante. Acreditamos que para leitores interessados na história de uma época que poucos conhecem, o livro terá uma ótima aceitação. Muitos moradores de Juiz de Fora ao lerem este livro perceberão que nada conhecem de nossa cidade, mesmo os que viveram aqui a vida toda e que tenham mais de 50 anos. O autor possui uma forma de escrever sobre um assunto que seria bastante cansativo, se não intercalasse o passado e o presente. Agradecemos a oportunidade de ter lido seu manuscrito antes da publicação e conhecido um pouco da história de Juiz de Fora através de suas palavras. Bons momentos de reflexão!
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