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Quarta-feira, 22 de Janeiro de 2025
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Lindolfo Hill - um outro olhar para a esquerda 05

Série Lindolfo Hill - Introdução

Alexandre Müller Hill Maestrini
Por Alexandre Müller Hill...
Lindolfo Hill - um outro olhar para a esquerda 05
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Caro(a) leitor(a), este livro não tem a pretensão de ser a biografia definitiva de Lindolfo Hill, pois novos documentos e pesquisas podem surgir e transformar minha interpretação. Uma certeza é que Lindolfo Hill fez parte da história do PCB em Juiz de Fora, em Minas Gerais e no Brasil. Foi com o objetivo de fazer justiça a este personagem da cidade que resolvi pesquisar sua história e resgatar sua memória para que pudéssemos homenagear os que no passado lutaram por nós. Mesmo sem conhecer a fundo, muita gente se opôs ao pensamento comunista e utilizou o anticomunismo com bandeira para justificar diversas barbaridades. Então, proponho refletirmos juntos durante a leitura desse livro: Ser comunista é legal? Está dentro da lei vigente? Ser comunista é legal? É democrático pensar assim? Ser comunista é legal? Tenho direito de ser comunista? Ser comunista é legal? Faz bem sonhar como comunista?

Em respeito e homenagem ao pensamento de Lindolfo Hill utilizei esta pergunta com dubiedade, propositalmente, para colocar uma luz diferente sob os julgamentos sobre o comunismo da época. Infelizmente, na época de Lindolfo, a militância no partido político comunista brasileiro implicava historicamente o risco de morte, a tortura, a prisão, o exílio e a clandestinidade. Mas, em sua grande maioria, os comunistas da época de Lindolfo eram pessoas que tinham aderido ao partido, pois desejavam uma sociedade mais justa, mais igualitária e alguns por identificação com as lutas operárias e ou por fortalecer as organizações sindicais das quais participavam.

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Sonhar era crime? E ainda é? Todo ser humano é produto de seu tempo e precisa ser interpretado, levando-se em conta o contexto e a temporalidade no qual viveu. Em sua existência terrena entre 1917 e 1977, Lindolfo Hill se tornou uma das vítimas de regimes autoritários, da ditadura militar, da falta de democracia do período e da falta da liberdade de expressão. Os fatores e acontecimentos locais, regionais, nacionais e internacionais o levaram Lindolfo Hill a fazer o que fez, pensar o que ele pensou, baseou suas decisões e influenciou sua visão de mundo. Na sua época, a militância política de esquerda implicava o abandono de familiares e amigos e a vida na clandestinidade. Mesmo sabendo destes perigos ele ousou com sua coerência política e na defesa de seus ideais sociais. Para Lindolfo Hill ser comunista não era somente entrar para o partido, mas sim uma opção de vida.

Para ele, liberdade era uma vida sem medo e ele pensava que liberdade perde sua eficácia, quando se converte em privilégio. Lindolfo foi o maior expoente político da família Hill de Juiz de Fora que se dedicou e lutou por melhores condições na sociedade brasileira, uma história que se confunde com a do PCB local e nacional e revela a face brutal da repressão do Estado Brasileiro para garantir os interesses da elite no poder, seja esta civil ou militar ou civil-política-militar. O ser humano é prisioneiro de sua temporalidade. Viajar, conhecer o mundo, ler livros estrangeiros e saber dos feitos internacionais é muito bom, porém é necessário que se conheça muito bem onde se está vivendo, a história do município onde cada um foi criado, dar valor ao que se está criando e desenvolvendo, mas acima de tudo é preciso reconhecer os personagens que construíram esta história.

No caso de Lindolfo Hill, quero com estas pesquisas contrariar a máxima que diz: “os seres humanos são como os rios, sempre desprezados no lugar onde nascem”. Porém leitores, para entender a razão dessa minha afirmação é preciso ler este livro até o fim. Às vezes é importante inverter a lógica usada até hoje no Brasil, que vem desde sua “descoberta”, usando uma abordagem positivista e enaltecedora dos heróis “ricos e brancos” preocupados com a memória da classe dominante. É fundamental não só replicarmos a história «oficial» onde o vencido nunca teve vez, por isso o resgate é essencial. Lindolfo Hill não fez, até hoje, parte dos vencedores da “história oficial”, por isso revirar o passado dele e apresentar um resgate literário foi minha busca em restituir sua imagem de importância para Juiz de Fora e para o Brasil.

Sei que pesquisar o comunismo no Brasil é um prato cheio para os acusadores de plantão! Mas que fique aqui bem claro que acredito que não foi por acaso que em meu caminho me deparei com uma pessoa, um parente próximo, um lutador pelos direitos sociais dos menos privilegiados. Querer eliminar e aniquilar o adversário político já é antidemocrático, porém, se mesmo assim existir um grupo que queira eliminar o comunismo, que o faça dentro das regras da democracia e do estado de direito. Meu tio-avô Lindolfo Hill, independentemente de ter sido comunista ou não, pensava livremente de uma forma diferente do poder constituído da época em que viveu. Acredito que não existia e não existe a necessidade de se sujeitar o povo a um desastroso regime de exceção ou extralegal.

Para quem não conhece minhas ideias, antes de ler este livro, é bom saber de minhas convicções: 1) Defendo sempre que não se corrige as falhas da democracia com menos democracia, mas sim com mais democracia; 2) Repudio ditaduras de direita e de esquerda; 3) Defendo a liberdade democrática de expressão e o estado de direito; 4) Repudio a baderna e a tortura, o desrespeito à constituição, o autoritarismo e a arbitrariedade; 5) Não sou comunista, mas sim um ser humano social, inquieto e amante dos valores democráticos. No atual momento político de 2018-2021 (período de minhas pesquisas), com um Brasil dividido e polarizado, com certeza muitos que estão hoje no poder gostariam que Lindolfo Hill fosse esquecido e apagado; mas foi justamente para evitar isso que decidi contar sua história, neste momento, a história de um herói social, pois acredito na liberdade de opinião como bem maior.

Com este livro não pretendo cometer anacronismo, isto é, utilizar os conceitos e ideias do presente para analisar os fatos do passado, pois sei que isso poderia de forma equivocada julgar valores que não pertenciam ao mesmo tempo histórico em que Lindolfo viveu. Mesmo com pesquisas profundas estou consciente que só pude ver a vida de Lindolfo Hill “por um buraco de fechadura” e que mais pesquisas e revelações precisam ser feitas e arquivos que hoje se encontram em estado de confidencialidade precisam ser disponibilizados. Entender o Brasil e a política nacional não é simples, ainda mais com análises retrospectivas. Sociologicamente persiste no país uma divisão entre pobres (dominados e automaticamente considerados esquerdistas) e os ricos (dominantes e considerados direitistas que fizeram do anticomunismo a bandeira para manter seus privilégios supostamente ameaçados).

Uma direita que combatia violentamente uma “suposta” tentativa de ditadura de esquerda/comunista, porém aceitava a chegada de uma ditadura da direita/fascista para que continuassem cada vez mais rica. Por outro lado, a esquerda polarizava e considerava reacionário e conservador todos que não fossem esquerda mais radical. Em Juiz de Fora, Lindolfo Hill saiu da zona de conforto, tomou partido, juntou-se aos explorados, defendeu valentemente os oprimidos contra os exploradores e teve covardemente cassado seu mandato legítimo de vereador conquistado nas urnas.

Apesar disso, até hoje Hill nunca foi nem simbolicamente redimido e nem oficialmente reconhecido. Muito pelo contrário, documentos da cassação da Câmara Municipal de Juiz de Fora foram “confiscados” com paradeiro desconhecido em 1950 e em 1964 e, até hoje, não devolvidas aos arquivos da Câmara Municipal. Quem será que tem medo da transparência? Em 2022, o PCB completará 100 anos de existência no Brasil e este livro é uma semente de esperança que lanço para que juntos possamos analisar os fatos passados, preservando a distância temporal, com a lógica em busca da verdade, do entendimento e do debate, mantendo os princípios democráticos de liberdade de expressão e da suposição da inocência.

Minha busca por informações objetivou contribuir para relembrarmos daqueles que se empenharam pela liberdade no seu sentido mais amplo. É fundamental resgatarmos as histórias de vida daqueles que lutaram por nós, não importando qual linha de pensamento adotaram, contanto que o motivo central seja sempre o ideal de um governo mais justo e social. A motivação que me levou a escrever este livro foi o convencimento de que a democracia exige a legalidade de todos os partidos políticos, todas as colorações e todas as correntes de pensamento e ação, contanto que todos respeitem as leis e a constituição. Ao contrário seria democracia uma palavra falada “de boca pra fora”, sem o real pensamento democrático de aceitar a opinião dos outros seres humanos, seja ela qual for.

Por sua coerência política e ideais sociais, Lindolfo Hill acabou pagando um alto preço. A democracia é bem mais capaz de atingir as legítimas aspirações do povo brasileiro do que a mais bem “organizada” das ditaduras.5 Deveria ser um dever cívico da sociedade juiz-forana e dos historiadores em geral recuperarem a trajetória deste símbolo da cidade e do Brasil: Lindolfo Hill, herói de um tempo não muito remoto onde a cidadania plena e o direito à própria opinião não podiam ser vivenciados na sua totalidade. Esse era o ponto de vista das classes dominantes brasileiras da época. Nenhum ser humano é perfeito e nem tem razão absoluta, porém alguns tiveram a audácia de dizer que Hill era ingênuo. Mas, depois de muito pesquisar, percebi aos poucos que Lindolfo Hill foi um símbolo de caráter inabalável e que em suas convicções ele concluía que um país rico é um país sem pobreza e desigualdades.

Será que é proibido sonhar? Minha resposta é um sonoro não. Dentro da minha cabeça mando eu. Lindolfo Hill, o primeiro vereador comunista de Juiz de Fora, foi parcialmente eliminado de arquivos e demonizado pelo estigma do partido comunista, mas permaneceu na memória de seus familiares e de muitos que realmente o conheceram. Sua trajetória pessoal se relaciona com muitas histórias coletivas e de um tempo em que a liberdade era coisa rara e lutar por ela considerado um heroísmo – ou era loucura? Como um trabalhista de verdade, Hill definia sua vida por retidão, abnegação, ligação direta com o proletário, sendo ele mesmo um deles, mantinha contato constante com suas bases, defendia a legislação, o direito e causa dos trabalhadores e a proteção da família. Valores que estiveram presentes em toda sua vida partidária, sindical, política e parlamentar.

O PCB não era um partido de mártires, mas sim de esperançosos no rumo de uma utopia. Um partido de homens comuns, com erros e acertos, sucessos e fracassos, bem brasileiros, bem nacionais.7 Lindolfo jamais perdeu a sua essência, a crença num partido de trabalhadores, de indivíduos de carne e osso, comuns, mas que organizados e atuantes poderiam modificar a realidade em busca de um futuro melhor.8 Por todos estes motivos tomei para mim, como meu dever cívico, resgatar sua história e oferecer ao meu tio-avô Lindolfo Hill esta homenagem póstuma. Bem-vindo ao Estado golpista (1930, 1945, 1954, 1961, 1964, dentre outros) e suicida chamado Brasil - e você leitor, é parte deste experimento! Sinta-se parte dessa terra brasilis da contrarrevolução preventiva, pátria da guerra civil sem fim, dos genocídios sem nome, dos massacres sem documentos, dos golpes, dos processos de acumulação de capital feitos através de bala e medo contra quem se mover e tudo isso aplaudido por parte da população.

Porém, calma! O Brasil não é exceção, todos os povos têm dificuldades em exercitar a memória de seus anos de ditadura. Não tenhamos ilusões, muitos franceses têm dificuldades de se relacionar com a França de Vichy, os alemães com a Alemanha do ditador Hitler, os russos com a Rússia do ditador Stálin e não seria diferente os brasileiros e as brasileiras terem dificuldades de lidar com os fatos de um Brasil ditatorial de 1964-1979, de um espírito de ex-colônia dominada, de uma sociedade escravagista e de uma história de muitos golpes militares, civis e políticos. Mas lembre-se leitor(a), o poder é individual e vem de você mesmo, não é uma outorga de uma autoridade ou instituição. Assuma este poder!

Será mesmo que o olhar da memória é autoflagelação ou libertador? Até que ponto é melhor ser positivista e olhar pra frente, enterrando o passado, ou debater extensivamente para cicatrizar as feridas de dentro pra fora? Eu escolhi conhecer o passado para curar e libertar nosso futuro. As ditaduras de todas as colorações instalam regimes do medo e este mesmo medo impede o questionamento das desigualdades que geram ainda hoje um Brasil instável com o fantasma ditatorial rondando e esperando para ressuscitar a qualquer momento. Numa real democracia ser de direita, liberal, centro, de esquerda, trabalhista, socialista ou comunista é uma escolha pessoal e deveria ser respeitada. Porém uma ditadura não permite oposição de verdade.

Acredito que somente teremos paz social, quando o Brasil fizer as reformas necessárias para criar uma sociedade mais justa: 1) Reforma agrária para criar uma numerosa classe de pequenos empreendedores rurais que estabilizarão a produção de alimentos, extinguindo a fome; 2) Reforma urbana para regular, planejar e estruturar o crescimento das cidades e suas populações; 3) Reforma e revisão do pacto federativo, pois a vida acontece nos municípios; 3) Reforma bancária com o objetivo de criar um sistema voltado para o financiamento das prioridades nacionais; 4) Reforma política, eleitoral e partidária com fidelidade partidária real e voto não obrigatório. Além dessas reformas que o país sempre precisou, aguardaremos ainda a reforma trabalhista, a reforma educacional e outras.

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Alexandre Müller Hill Maestrini

Publicado por:

Alexandre Müller Hill Maestrini

Alexandre Müller Hill Maestrini é professor de alemão no Instituto Autobahn e autor de quatro livros: Cerveja, Alemães e Juiz de Fora, Franz Hill – Diário de um Imigrante Alemão, Lindolfo Hill – Um outro olhar para a esquerda e Arte Sutil.

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