Um estudo inovador da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) revela que a febre Q, uma zoonose causada pela bactéria Coxiella burnetii, é amplamente desconhecida entre os médicos brasileiros. A pesquisa, liderada por Igor Meurer, revelou que mais de 90% dos médicos não têm conhecimento sobre a doença, que pode se manifestar com sintomas semelhantes aos de gripes ou dengue, como febre e fadiga.
A febre Q é transmitida principalmente pela inalação de partículas contaminadas por animais infectados, como ovelhas e cabras. Apesar de sua gravidade e potencial para evoluir para formas crônicas e graves da doença, a falta de conhecimento sobre a febre Q pode resultar em diagnósticos incorretos e tratamentos inadequados.
O estudo, publicado na Scientia Medica, envolveu 254 médicos e revelou que a maioria não estava familiarizada com os métodos de diagnóstico, que incluem técnicas sorológicas e moleculares. Além disso, pesquisas anteriores mostram que a febre Q está presente no Brasil, com casos identificados em comunidades e entre bovinos.
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Os sintomas iniciais da febre Q, como febre, calafrios, dor de cabeça, fadiga, mal-estar e tosse, podem facilmente ser confundidos com outras doenças mais conhecidas, como gripes, viroses ou dengue. No entanto, esses sinais também podem indicar a presença de uma zoonose global pouco divulgada: a febre Q.
Recentemente, um estudo pioneiro realizado na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) revelou um preocupante desconhecimento sobre essa doença entre os profissionais de saúde no Brasil. Conduzido pelo farmacêutico e doutor em saúde Igor Meurer durante seu pós-doutorado em Imunologia e Doenças Infecto-Parasitárias, a pesquisa foi a primeira a avaliar o conhecimento médico sobre a febre Q em nível internacional. Concluída em março de 2024 sob a supervisão da professora Elaine Soares Coimbra, a pesquisa trouxe à luz a falta de familiaridade dos médicos com a doença.
O estudo envolveu a aplicação de um questionário estruturado a 254 médicos que atuam em diferentes níveis de atenção à saúde, incluindo hospitais, consultórios e Unidades Básicas de Saúde (UBS). Os resultados foram alarmantes: 92,9% dos entrevistados não conheciam a febre Q, e 89,7% não possuíam conhecimento clínico, epidemiológico e laboratorial sobre a doença. Apenas 26 médicos afirmaram ter algum conhecimento, dos quais apenas 18 responderam corretamente a pelo menos uma questão específica sobre a febre Q. Dos 18, apenas três (16,6%) obtiveram um desempenho superior a 50% no questionário.
O questionário, que continha 25 perguntas divididas em duas seções – uma sobre dados demográficos e a outra sobre a febre Q, doenças tropicais negligenciadas (NTD) e a abordagem Saúde Única – foi aplicado presencialmente para evitar consultas externas e garantir a precisão das respostas. Igor Meurer destacou que os resultados surpreenderam pela baixa taxa de conhecimento sobre a febre Q.
A febre Q é causada pela bactéria Coxiella burnetii, conhecida por sua resistência ao ambiente, podendo uma única célula desencadear a infecção em humanos. A principal forma de transmissão é a inalação de aerossóis contaminados por restos de animais infectados, como bovinos, caprinos e ovinos. A doença está frequentemente associada a profissões que envolvem contato com esses animais, como veterinários, pecuaristas e trabalhadores de matadouros e frigoríficos.
A febre Q pode manifestar-se de duas maneiras: aguda e crônica. A forma aguda apresenta sintomas similares aos da dengue e influenza, enquanto a forma crônica pode levar a condições graves, como endocardite, osteomielite e infecções vasculares, com potencial para levar ao óbito. Além disso, a doença tem sido associada à síndrome da fadiga crônica. A falta de conhecimento sobre a febre Q pode levar a diagnósticos incorretos e tratamentos inadequados, pois seus sintomas se confundem com os de outras febres agudas.
O diagnóstico da febre Q é feito por métodos sorológicos e técnicas moleculares, como a Reação em Cadeia da Polimerase (PCR), sendo a Imunofluorescência Indireta o padrão de referência. Estudos indicam a presença do patógeno no Brasil, com uma soroprevalência de 22% em comunidades quilombolas no Paraná, 4,8% em pacientes com suspeita de dengue em Minas Gerais e 23,8% em bovinos de abatedouros em São Paulo.
A pesquisa de Meurer também incluiu uma investigação sobre a febre Q em Minas Gerais, mostrando que 5,72% dos pacientes com suspeita de dengue apresentaram anticorpos contra Coxiella burnetii, sugerindo uma exposição prévia ao patógeno. Além disso, 20 municípios mineiros, dos 126 pesquisados, apresentaram pelo menos um caso de exposição ao patógeno, evidenciando a disseminação da doença na região.
Os resultados do estudo destacam a necessidade urgente de aumentar a conscientização sobre a febre Q nas faculdades de Medicina e nos programas de residência, além de sugerir a inclusão da doença na lista nacional de doenças de notificação compulsória para melhorar a vigilância e o entendimento epidemiológico no Brasil.
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