Por Alexandre Müller Hill Maestrini
Celebra-se hoje dia 20 de janeiro o dia mundial do queijo, iguaria amada pelos mineiros e brasileiros. Cremoso, derretido, duro, de vaca, ovelha, cabra, no pão, na torrada ou puro, o importante é apreciar e comemorar nosso queijo! A produção de queijo vem desde o início da civilização e se confunde com a história dos animais domésticos há mais de 8.000 anos a.C. Com a domesticação de bovinos, ovinos e caprinos, surgiu a necessidade de conservar todo o leite produzido e, assim, nascia o queijo, tão amado nos quatro cantos do mundo.
O queijo artesanal como hoje comemos foi introduzido em Portugal pelos Romanos já durante a Idade Média. Em 1287, o Rei Dom Diniz criou a primeira queijaria no concelho de Celorico da Beira, na região da Serra da Estrela. Aqui na Zona da Mata em especial temos muito para agradecer a milenar tradição trazida pelos portugueses. O nosso “queijim minerim” já deu o que falar mundo afora e o Queijo das Serras da Ibitipoca são produzidos por antigos e novos que mesclam tradição a técnicas inéditas e mudanças de mercado. Não à toa, os queijos da nossa região também surpreendem, muitos deles premiados no Brasil, e Minas representa 40% da produção nacional e tem 15 regiões que fabricam queijo artesanal no estado.
Você ficou curioso de saber mais sobre o queijo artesanal? Você vai se surpreender com as incríveis criações dos queijeiros das quinze cidades que compõem a antiga região do Rio Preto, reconhecida atualmente como produtora de queijos artesanais e declarada como Patrimônio Histórico e Cultural do Brasil. Documentos oficiais do século XVIII (por volta de 1700) já mostram uma produção comercial do queijo aqui na Zona da Mata, e vale lembrar que já nessa época todo o queijo minas era artesanal produzido de modo tradicional.
Os deliciosos Queijos das Serras da Ibitipoca sempre abasteceram além do Rio de Janeiro, Províncias do Norte e eram até exportados para Angola. No século XVIII a nossa produção de queijos já estava voltada para o comércio crescente nas Minas Gerais, incluindo a região do Caminho Novo e suas variantes como o Caminho do Comércio, hoje reconhecida como a Região de QMA “Serras da Ibitipoca”. O historiador e produtor de queijos Antônio Henrique Duarte de Lacerda defende a região “Serras da Ibitipoca” como a maior produtora de queijo artesanal do estado.
Minas Gerais é o estado brasileiro mais montanhoso com relevo heterogêneo nas Serras da Canastra, do Espinhaço e da Mantiqueira. Esta última se extende desde a divisa de Minas Gerais com São Paulo e Rio de Janeiro, prossegue de modo descontínuo e a partir das cabeceiras do Rio do Peixa o bloco maciço se bifurca, com uma elevação prosseguindo até Juiz de Fora e outra até as proximidades de Santos Dumont. A nossa região da Mantiqueira, conhecida como “Mar de Morros”, manteve seu pioneirismo no setor lácteo e já em 1923, na cidade de Santos Dumont, começou a funcionar a Fábrica de Coalho Frísia Kingma e Cia, em uma pequena instalação.
Mas atropelados pela máquina legislativa e sem acesso a políticas públicas para a atividade como crédito e assistência técnica, muitos queijeiros tradicionais da região “Serras da Ibitipoca” abandonaram a atividade comercial do queijo, porém resistiram como puderam – em “silêncio tipicamente mineiro” – ao desmonte imposto pela “modernidade sanitarista”. Muitos produtores mantiveram heroicamente viva a tradição queijeira mineira e preservaram assim a cultura e o Saber Fazer tradicional das Serras da Ibitipoca.
As cidades que integram a região produtora das Serras da Ibitipoca estão nas regiões Sul, Sudoeste, Zona da Mata e Campo das Vertentes. São elas: Andrelândia, Arantina, Bias Fortes, Bom Jardim de Minas, Lima Duarte, Olaria, Passa-Vinte, Pedro Teixeira, Rio Preto, Santa Bárbara do Monte Verde, Santa Rita do Ibitipoca, Santa Rita do Jacutinga, Santana do Garambéu, Seritinga e Serranos. Fundada em 2019, a APROQ (Associação dos Produtores de Queijo Minas Artesanal da Região das Serras da Ibitipoca) conta com mais de 20 associados e representantes em praticamente todos os municípios que compõem a região. A produção mensal atual gira em torno de 100 quilos em cada queijaria.
Na produção histórica, os queijos de leite cru eram maturados e transportados por tropas em canudos de taquara, conhecidos como “jacás”. As Serras da Ibitipoca tem mais de 200 anos de história de produção, consumo e venda de queijos. A produção de queijos de leite cru vem sendo uma prática familiar, um modo de fazer único, passado de geração em geração. A produção de queijos está de tal forma entranhada na vida dos habitantes da região “Serras da Ibitipoca” que, apesar da pressão que sofreram pela legislação, se mantém presente até os dias atuais e representa ainda hoje a principal fonte de renda de muitas famílias. Fica claro a ligação da história do queijo à identidade do Ser Mineiro! Algumas dicas Fazenda Serra Boa Vista, Fazenda Guimarães de Lacerda e Sítio Primavera.
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FONTE/CRÉDITOS: Alexandre Müller Hill Maestrini (32) 98865-5253
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