Por Alexandre Müller Hill Maestrini, professor e escritor
O ser humano é multifacetado e imensamente capaz. A beleza da existência humana está nesta capacidade de se reinventar e coexistir com as mais variadas formas de vida. Não é só preto ou branco, rico ou pobre, bonito ou feio, bom ou ruim, inteligente ou burro, em todos os setores da vida há uma diversidade enorme de opções.
Infelizmente hoje em dia, apoiado ainda mais por um sistema computacional baseado no sistema binário, opiniões, desejos, escolhas, conversas e pensamentos estão tendendo a seguir este fenômeno e se afastando cada vez mais da capacidade humana da pluralidade. Sabendo disso, muitos se aproveitam e reforçam esta teoria, enfraquecendo por exemplo nossa democracia. Se este sistema político é baseado no desejo do povo, então deveríamos estar seguindo pelo caminho da aceitação da convivência pacífica das diferenças e as divergências deveriam ser bem vindas.
Mas as redes sociais vieram para ficar e representam bem o nosso desenvolvimento preguiçoso de ser, pensar, conversar e agir na sociedade. Com a desculpa que elas facilitam o dia a dia, é mais fácil escrever sua opinião numa plataforma digital do que ligar para um amigo e conversar longamente sobre um assunto. A pandemia do COVID-19 veio ainda mais reforçar essa tendência de dar muita opinião e escutar pouco. Assim nos tornamos uns humanos falantes e escritores de comentários curtos e cheios de símbolos, ao invés daquele ser social que escuta mais do que fala. Contrariando a própria evolução que nos deu dois ouvidos e somente uma boca.
A repercussão disso na vida política é que somos levados a acreditar que somente existem dois lados, o comunista e o fascista. Que não existem alternativas moderadas. E assim nossas pesquisas de opinião reforçam este pensamento binário, as enquetes viraram ele sim ou ele não, criando e alimentando as figuras dos salvadores da pátria. Porém não existe nem um candidato que salvará o país, existe sim representantes do povo que com nosso voto tentarão implementar políticas para todos indistintamente e reequilibrar as desigualdades sociais existentes.
Independente de orientação política e social, é mais do que hora de voltarmos a conversar civilizadamente e respeitando as divergentes opiniões sem taxar, excluir ou estigmatizar alguém. Este pensamento binário captado pelos algoritmos dos computadores só nos afastam e nos jogam dentro de nossa bolha de conforto e opiniões parecidas. Por pura preguiça intelectual acabamos nos comunicando com pessoas que pensam igual e afastando as diferenças e pluralidade que nos diferenciou dos outros animais e nos fez evoluir.
O momento de eleição é oportuno para sairmos de nossos casulos e tentarmos entender os motivos reais de nossas diferenças de opiniões, nossos medos e desejos, pois acredito que todos queremos um Brasil melhor e mais social.