Nair Barbosa Guedes nasceu no dia 29/12/1944 em Araguari (MG), onde concluiu o ensino primário e médio. Teve formação no Colégio de Freiras e vivia livre interior de Minas Gerais com uma família numerosa de 12 filhos, pais simples e a oitava filha Nair era a única mulher entre os dez irmão que sobreviveram. Aprendeu cedo como é viver entre homens e em uma vida rural de interior, andando a cavalo e gozando de um sentimento de muita liberdade. Aprendeu a se defender e formar o seu caráter como uma pessoa que sabia como chegar aos seus objetivos. Nair lembra dos lindos sorrisos dos pais.
Sua militância começou cedo na Juventude Estudantil Católica JEC e em seguida iniciou o curso de Letras em Uberaba (MG). Mas logo Nair queria ir mais longe e em 1964 Iniciou Serviço social na PUC de Belo Horizonte, onde cursou por 3 anos. Durante este período percebeu que seu empenho seria mesmo na Juventude universitária católica JUC BH, onde conheceu, se enamorou, namorou e casaria com outro militante o jovem José Luiz Moreira Guedes. Nair era secretaria da União Estadual dos Estudantes UEE-MG quando veio em 1964 o Golpe militar e jogou água fria nos seus sonhos de liberdade e um Brasil mais justo.
Em BH elaboraram estratégias de resistência e em meio ao caos, decepções e perseguições, em 1966 casou-se em cerimônia quase secreta no Rio de Janeiro e em 1967 nasce a primeira filha Mayra, representando um marco de sua vida. Mas a luta de resistência continuava e em 1968 como engajamento na Ação Popular, entrou no processo de integração na produção e movimento operário, foi trabalhar na Philco de São Paulo entre outros 5000 operários. Mas as condições de saúde dos trabalhadores eram péssimas e Nair teve uma segunda gravidez problemática. O segundo filho Luiz Francisco acabou nascendo em Belo Horizonte, mas o casal o perdeu com 6 meses em Juiz de Fora.
Guerreira, Nair voltou para a luta e em 1969, logo em consequência do AI-5, foi presa no Recife, grávida e com medo de torturas e a perda da terceira filha. Conseguiu ser solta e foram para Maceió (Alagoas) onde desenvolveu trabalho com as mulheres e em 1970 nascia a filha Gilse.
Em 1972 foi outro ano marcante para a mãe e lutadora. Estavam em Juazeiro/Crato, região do Cariri (Ceará) e veio o quarto filho Jorge. Com nome falso Norma passaram a atuar no movimento camponês em Trombas de Formoso (Goiás), mas a situação estava ficando cada vez mais perigosa para o casal com 3 filhos pequenos e o casal decidiu deixá-los com a família e sair do país pelo Uruguai, à pé, durante o carnaval, onde a vigilância estava menos dura.
Em 1974 já estavam fugindo do Brasil pela fronteira em 1974, na verdade foram expulsos de fato. O destino final era Genebra, mas tiveram que passar pela Argentina e em voo para a Suíça fizeram uma escala na França, onde de improviso decidiram descer e pedir asilo político, pois a França já era considerada Terre d’Asile. Poucos meses depois chegaram os filhos. Nair pode concluir o curso Serviço Social na França e trabalhar com mulheres refugiadas.
Somente em 1979 volta com a família para Belo Horizonte (MG) aproveitando da Lei da Anistia. Continuou atuante e organizou muitos congressos feministas. Em 1990 foi efetivada como professora da Faculdade de Serviço Social da UFJF em Juiz de Fora. Em 1997 defendeu tese de Mestrado com experiência e o título "Relação desafiadora para movimentos sociais e ONGs - Estudo de 4 ONGs de mulheres".
Em 2000 aposentou-se pela UFJF mas não encerou nunca sua vida de luta política. Nos anos de 2003-2004 se tornou vereadora da Câmara de JF pelo PCdoB, sendo a suplente do Biel que saiu para se candidatar a deputado estadual. Nair conta que como única mulher na Câmara Municipal os desafios do mundo masculino foram muitos, porém logo se acostumou e continuou a lutar pelo direito das mulheres, como sempre fez. Em 2010 foi candidata a Deputada Estadual em Minas Gerais, mas não se elegeu pelo PCdoB.
Em 2014 a coroação da sua luta veio reconhecida quando os três filhos foram anistiados em São Paulo e marcou um reencontro com as famílias e dos filhos que estiveram exilados juntos durante a ditadura.
Veja a entrevista de Nair no Youtube.
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