Por Alexandre Müller Hill Maestrini, professor e escritor
Quando transitamos por nossa querida Juiz de Fora, vamos todos os dias revisitando o passado e firmando nossos desejos inconscientes de sociedade. Quem nos antecedeu na organização da cidade definiu quem deveria ser homenageado com uma rua, uma avenida ou uma praça. Não era de se esperar que uma cidade que foi gerenciada, em sua maioria, por uma classe dominante branca, elitista e eurocentrista, homenageasse pessoas imigrantes, negras, operárias e ou escravas que construíram com muito suor essa cidade.
Em plena ditadura militar, denominaram uma Estação de Tratamento de Água da cidade em homenagem ao primeiro presidente ditador Castelo Branco. A praça do bairro de elite do Bom Pastor foi denominada em homenagem a outro general da ditadura militar no Brasil, Presidente Garrastazu Médici; em 1973 a Câmara Municipal de Juiz de Fora aprovou a Lei N.º 4.319 dando nome de Avenida Presidente Costa e Silva, com origem na Rua João Lourenço Kelmer, em Martelos, e termino além da "Estação de Tratamento d'água Rafael Cirigliano", no bairro São Pedro.
Qual a necessidade de se trocar o nome de uma rua ou avenida? A resposta é simples: para apagar erros e se fazer justiça. No Brasil democrático de 2023 uma homenagem a um ditador não faz mais sentido, mas revela muito de quais valores sociais está se querendo preservar. Parte da classe dominante flerta com uma civilização paternalista, militarizada, autoritária e que reduz os direitos sociais e prevê a abolição do direito democrático. O objetivo foi óbvio até hoje, ao invés de priorizar educação e liberdades individuais, muitos sonham em investir em controle do estado e tutela militar, como os mais de 6000 militares que estavam por todas as esferas no governo anterior de extrema direita.
Como general de Exército, Artur da Costa e Silva foi o 27º Presidente do Brasil, o segundo do período da Ditadura Militar, entre 15 de março de 1967 e 31 de agosto de 1969. Entre outras maldades contra o povo e contra o processo democrático o general presidente em dezembro de 1968, editou o AI-5, que dava poderes aos militares de fechar o Parlamento, cassar políticos e institucionalizar a repressão. O AI-5 foi o mais duro de todos os Atos Institucionais e isso resultou na perda de mandatos de parlamentares contrários aos militares, intervenções ordenadas pelo presidente nos municípios e estados e também na suspensão de quaisquer garantias constitucionais que resultaram na institucionalização da tortura, usada como instrumento de Estado contra os próprios cidadãos.
O que esses generais tem a ver com Juiz de Fora e sua identidade? NADA. Que ironia! Justamente num bairro tradicionalmente operário e reduto da imigração alemã na cidade, o legislativo do Município de Juiz de Fora homenageou um ditador com uma avenida. Já os descendente de alemães imigrantes de 1858 tem várias gerações dedicadas à coletividade na cidade alta de Juiz de Fora. Eles merecem ser reconhecidos, homenageados e lembrados pelas cidadãs e cidadãos do Município de Juiz de Fora com suas descendências imortalizadas na Avenida dos Imigrantes. Governantes de plantão, que tal repensarmos nossas homenagens?
Outras iniciativas: https://jornalopharol.com.br/2021/09/se-essa-rua-fosse-minha-seria-possivel-mudar-o-nome-dela-porque-precisa/