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A artista pública Sil Andrade vai propor na VI Conferência Municipal para Promoção da Igualdade Racial uma reparação histórica e justiça racial para Geraldo Pereira. Ela sugere que o Teatro Municipal de Juiz de Fora passe a se chamar ‘Teatro Geraldo Pereira’. A RCWTV procurou a artista conhecer de perto as ideias.
RCWTV – Qual o propósito dessa sua iniciativa?
Sil Andrade – Com essa minha iniciativa gostaria alertar Juiz de Fora para que homenageássemos e valorizássemos esse artista de Juiz de Fora, negro, reconhecido internacionalmente, que aqui nasceu e recebeu suas influências dos ritmos musicais. Geraldo Pereira é um dos maiores sambistas de todos os tempos no Brasil, reconhecido como o brilhante inventor do Samba Sincopado.
RCWTV – Por que rebatizar o Teatro Paschoal Carlos Magno?
Sil Andrade – Olha, Paschoal Carlos Magno nem foi uma personalidade de Juiz de Fora. Então, a história da casa de espetáculos iniciou-se em 1979, quando o dramaturgo carioca esteve aqui e sugeriu ao prefeito que erguesse um teatro municipal. Paschoal faleceu em 1980 e as obras do teatro duraram de 1981 a 2018. Eu lamento que a cidade tenha inaugurado o teatro em 2018, justamente no ano do centenário de Geraldo Pereira com o nome de Teatro Paschoal Carlos Magno. Perdemos uma grande chance de homenagear ‘uma pérola negra de JF’, um dos negros de Juiz de Fora mais famosos no Brasil e no mundo.
RCWTV – Por que esse esforço agora?
Sil Andrade – Agora não, na verdade eu já luto por isso desde a inauguração para que o teatro seja rebatizado de ‘Teatro Municipal Geraldo Pereira’. Agora em 05.05.2025 teremos outra oportunidade histórica de fazer uma digna homenagem e imortalizar esse ícone da cultura de Juiz de Fora. Convido toda a sociedade a refletir sobre essa necessidade de troca de nome do teatro.
RCWTV – Quais os próximos passos?
Sil Andrade – Primeiro, agora no dia 21.03. e 22.03. na VI Conferência Municipal para Promoção da Igualdade Racial vou propor que iniciemos um movimento municipal para possibilitar essa merecida homenagem e reparação histórica. Em segundo lugar estou juntando um grupo de artistas e pensadores para seguirmos alertando nossos vereadores, a sociedade civil e prefeitura que se sensibilizem da importância que para termos justiça racial é necessário termos nossos ídolos negros devidamente imortalizados com ruas, praças e prédios públicos. Contato para fortalecer nossa luta pelo meu Instagram @silandradeandrade.

RCWTV – Sil, conta pra gente sobre Geraldo Pereira.
Sil Andrade – Geraldo Teodoro Pereira nasceu em Juiz de Fora, em 23.04.1918, filho de Sebastião Maria e de Clementina Maria Teodoro. Ele tinha três irmãos e mudou-se para o Rio de Janeiro em 1930, indo morar com o irmão mais velho, Manoel Araújo, conhecido como Mané-Mané, com quem passou a trabalhar como ajudante no balcão de uma tendinha mantida por ele no Buraco Quente, localidade do Morro da Mangueira, na zona central da cidade, onde foi amigo de Cartola e outros sambistas.
RCWTV – O que se sabe mais sobre Geraldo Pereira?
Sil Andrade – Ele trabalhou como motorista de caminhão de coleta de lixo e gastou tudo o que tinha com a “velha e boa boemia”. O juizforano Geraldo Pereira foi um sambista inovador. Ele conquistou o Brasil com as suas músicas e como compositor da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira. Criou o samba sincopado, que anos mais tarde influenciou a Bossa-nova. De suas 77 composições conhecidas, as mais famosas são ‘Falsa Baiana’, ‘Acertei no milhar’, ‘Escurinha’, ‘Sem compromisso’, ‘Pisei num despacho’ e ‘Bolinha de Papel’. Muitas dessas canções eu já gravei. Por uma fatalidade, morreu jovem aos 37 anos, em 05.05.1955, numa briga de faca com Madame Satã.
RCWTV – O que é o samba sincopado de Geraldo Pereira?
Sil Andrade – Síncope significa prolongar o som de um tempo fraco num tempo forte que vem a seguir. É difícil explicar esse recurso em bom português, sem um instrumento na mão, mas o fato é que ele resulta num ritmo puladinho, requebrado, brejeiro, o chamado samba de gafieira, em oposição ao das escolas de samba. O ritmo sincopado influenciou também a alma da bossa-nova dos anos 60, como João Gilberto, Vinícius de Morais, Chico Buarque, entre tantos outros. Painel abaixo de @hanyel_hany

RCWTV – Conte um pouco da vida musical de Geraldo Pereira?
Sil Andrade – Adolescente já compunha sambas para a escola Unidos de Mangueira e fez amizades com Cartola, passando a frequentar inclusive o Café Nice, ponto de encontro de sambistas e da boêmia carioca. Aos 20 anos de idade, compôs com Fernando Pimenta o samba 'Farei Tudo'. Inspirado no movimento denominado ‘Samba do Telecoteco’ com Ciro de Souza. Em 1939 gravou o samba ‘Se Você Sair Chorando’. Em 1940, conheceu Isabel, grande amor de sua vida, musa inspiradora de sambas como ‘Acabou a Sopa’ e ainda em 1940, compôs o samba de breque ‘Acertei no Milhar’, gravado por Moreira da Silva. Em 1944 obteve um grande sucesso ‘Falsa Baiana’, inovador por sua originalidade melódica e estruturação rítmica.
RCWTV – Como começou o sucesso do juizforano no Rio?
Sil Andrade – Seu último sucesso gravado em disco foi o samba ‘Escurinho’, que conta a trajetória de um escurinho pacato, que de uma hora para outra muda de comportamento e sai pelos morros comprando brigas. Depois de sua morte seus sambas continuaram a ser regravados por inúmeros cantores e cantoras, como em 1956, quando teve o samba 'Falsa Baiana' regravado por Guio de Morais. Em 1971, Paulinho da Viola regravou o samba 'Você Está Sumindo' e João Gilberto recriou com sucesso o samba ‘Bolinha de Papel’, 'Escurinho', por Roberto Silva. No mesmo ano, Gal Costa regravou o samba 'Falsa baiana'. Em 1974, Chico Buarque gravou o samba 'Sem Compromisso'.Em 1980, foi homenageado pela escola de samba Unidos do Jacarezinho com o enredo 'Homenagem a Geraldo Pereira'. Em 1982 a Escola de Samba Unidos do Jacarezinho cantou 'Geraldo Pereira eterna glória do samba'.

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