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Sexta-feira, 18 de Abril de 2025
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Guerra silencia a natureza: pesquisa revela impacto devastador de conflitos armados na biodiversidade

Estudo inovador liderado por pesquisadora da UFJF investiga como guerras, como a de Angola, dizimam a vida selvagem e busca soluções para a recuperação de ecossistemas em áreas de conflito, utilizando tecnologia de ponta e parcerias internacionais.

Inae Rocha
Por Inae Rocha
Guerra silencia a natureza: pesquisa revela impacto devastador de conflitos armados na biodiversidade
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Em meio ao estrondo de bombas e ao caos da guerra, um impacto silencioso, mas igualmente devastador, atinge a vida selvagem. Uma pesquisa internacional, idealizada e liderada pela bióloga Franciany Braga Pereira, doutora em zoologia formada pela UFJF, lança luz sobre essa face obscura dos conflitos armados, revelando como as disputas bélicas dizimam populações de animais e destroem ecossistemas. O estudo, contemplado com uma prestigiosa bolsa de pós-doutorado Marie Skłodowska-Curie Individual Fellowship no valor de 220,9 mil euros (cerca de R$ 1,37 milhão), analisará detalhadamente a biodiversidade em Angola, país que vivenciou 27 anos de guerra civil e que ainda sofre com a presença de minas terrestres em áreas cruciais para a vida selvagem.

Com a maior nota entre as propostas aprovadas, Franciany, também graduada em Ciências Biológicas pela UFJF, conquistou a oportunidade de desenvolver sua pesquisa e lecionar na renomada Universidade Metropolitana de Manchester (MMU), no Reino Unido. "A pesquisa fará uma análise detalhada da biodiversidade em Angola, país que passou por 27 anos de guerra civil e que ainda conta com minas explosivas em vastas regiões importantes para a biodiversidade", explica Franciany. O estudo se concentrará na província de Cabinda, no norte do país, e no Delta do Okavango, próximo ao Botswana, além de outras áreas de rica biodiversidade. A pesquisadora, que já possui experiência em estudos sobre o tema em Angola, retornará ao país ainda em 2025 para dar continuidade ao trabalho.

A pesquisa não se limita a quantificar o impacto dos conflitos na biodiversidade. Seus resultados terão uma aplicação prática crucial: auxiliar na remoção de minas terrestres em zonas de fronteira de Angola. Essa ação, realizada em parceria com a organização internacional Halo Trust, visa permitir que grandes mamíferos que abandonaram o país durante os anos de guerra possam retornar aos seus habitats naturais, livres da ameaça de explosivos.

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Para o levantamento da fauna em Angola, a equipe de pesquisa utilizará drones equipados com sensores infravermelhos, capazes de detectar os animais por meio de sua assinatura térmica. Franciany destaca que todas as atividades em campo serão realizadas em estreita colaboração com comunidades locais, ONGs nacionais e internacionais. "Assim, essa pesquisa une ciência, tecnologia e saberes locais para compreender melhor o que acontece com a biodiversidade em tempos de guerra e como podemos protegê-la", enfatiza a pesquisadora.

Como explica Franciany, os conflitos armados em Angola impactaram a biodiversidade principalmente de forma indireta, desencadeando transformações socioeconômicas que afetam o meio ambiente. Durante períodos de guerra, órgãos de fiscalização ambiental sofrem cortes de orçamento e redução de pessoal, o que facilita a proliferação de atividades ilegais como caça e tráfico de animais. Além disso, o fácil acesso a armas de guerra, como o AK-47, intensificou a caça de animais silvestres.

Essa caça predatória, muitas vezes motivada pelo financiamento de grupos armados através do comércio ilegal de partes de animais, como o marfim de elefantes, contribuiu significativamente para o declínio de grandes mamíferos. Adicionalmente, o uso de explosivos e minas terrestres em áreas de conflito causa impactos diretos na fauna, resultando em mutilações, morte de animais e contaminação do solo e da água. "O ruído constante de operações militares e explosões também causa distúrbios ecológicos, levando ao deslocamento de espécies", complementa Franciany.

A pesquisadora ressalta que, nos últimos anos, mais de 80% dos locais com alta biodiversidade e necessidade urgente de políticas de conservação enfrentaram algum tipo de conflito armado no mundo. O projeto, com duração de dois anos, possui um potencial de impacto a longo prazo, com a intenção de se estender por décadas para auxiliar na mitigação dos efeitos da guerra na natureza. "A experiência de desenvolver este projeto tem sido extremamente enriquecedora, pois estou colaborando com organizações internacionais, como o Halo Trust e o Civil War Department do King's College London, que desempenham um papel essencial na mitigação dos impactos dos conflitos armados sobre a fauna e as populações humanas", celebra Franciany.

A aprovação no prestigiado Marie Skłodowska-Curie Individual Fellowship é o ápice de uma trajetória acadêmica dedicada à pesquisa e conservação. Graduada em Ciências Biológicas pela UFJF em 2014, Franciany acumulou pós-graduações em renomadas universidades do Brasil, Reino Unido e Espanha. Em 2023, retornou à UFJF para um segundo pós-doutorado no Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade (PPGBio), sob a supervisão do professor Artur Andriolo, que também a orientou na graduação. Foi durante esse período que recebeu o incentivo para se inscrever no prêmio internacional.

A pesquisadora destaca o apoio fundamental da professora sênior Julia Fa, da MMU, e do professor sênior Robert Pringle, da Universidade Princeton, nos Estados Unidos, que colaboram com o projeto, financiado pelo Fundo Horizon Europe Guarantee. Mesmo vinculada à Manchester Metropolitan University, onde realiza pesquisas e leciona, Franciany continua a orientar uma aluna de mestrado no PPGBio da UFJF e planeja ministrar disciplinas de pós-graduação em futuras visitas à universidade brasileira, compartilhando os avanços de sua pesquisa e a experiência internacional.

A pesquisa de Franciany Braga Pereira representa um avanço significativo na compreensão dos intrincados laços entre ciência, guerra e biodiversidade, oferecendo esperança para a recuperação de ecossistemas fragilizados por conflitos e reforçando a importância da colaboração internacional na busca por um futuro mais pacífico e sustentável.

 

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Inae Rocha

Publicado por:

Inae Rocha

Estudante de Jornalismo Centro Universitário Leonardo da Vinci (UNIASSELVI) 6º Período

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