O recente estudo do Burning Glass Institute em colaboração com a Strada Education Foundation lança luz sobre uma realidade no mercado de trabalho dos Estados Unidos: cerca de metade dos diplomados universitários acabam em empregos que não exigem suas qualificações acadêmicas.
Este fenômeno de subemprego, que persiste cinco a dez anos após a formatura, destaca o descompasso entre a educação superior e as exigências do mercado de trabalho, com implicações significativas para os rendimentos e a progressão na carreira dos indivíduos afetados.
A análise, que rastreou as trajetórias de mais de 10 milhões de trabalhadores formados entre 2012 e 2021, revelou que 52% dos recém-formados não utilizam suas competências ou credenciais educacionais em seus empregos atuais. Mais alarmante ainda é que a grande maioria desses indivíduos permanece subempregada mesmo uma década após a formatura.
Porcentagens de maior subemprego estão em cursos de ciências humanas
Grande parte dos cursos com maiores porcentagens estão, conforme a pesquisa, em ciências humanas.
- Segurança Pública e segurança: 68%
- Recreação e bem-estar: 60%
- Outro: 57%
- Média geral de graduados universitários: 45%
- Negócios (gestão, marketing, RH): 57%
- Humanidades e estudos Culturais: 55%
- Visual e artes cênicas: 54%
- Comunicação e jornalismo: 53%
- Psicologia: 53%
- Ciências Sociais: 51%
- Interdisciplinar estudos: 49%
- Biológico e Ciências Biomédicas: 47%
- Administração pública e serviços sociais: 44%
- Ciências físicas: 44%
- Ciência da Computação: 36%
- Matemática e estatísticas: 35%
- Educação: 34%
- Arquitetura e planejamento: 30%
- Negócios (matemática intensiva): 29%
- Engenharia: 26%
- Profissões de saúde e programas relacionados: 23%
Os resultados deste estudo destacam a importância de decisões tomadas durante e imediatamente após o período universitário, como a escolha da área de especialização e a participação em estágios relevantes. Contra a crença popular de que qualquer diploma universitário abriria portas para carreiras promissoras, a realidade demonstra que o campo de estudo é um determinante para o emprego de nível universitário após a graduação.
Curiosamente, mesmo entre as disciplinas STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática), que são tradicionalmente vistas como apostas seguras, certos cursos como biologia e ciências biomédicas apresentam altas taxas de subemprego.
O estudo também sublinha a importância dos estágios como um fator significativo para garantir empregos de nível universitário após a formatura. Instituições de ensino estão cada vez mais reconhecendo esse fato, incorporando experiências de estágio em seus currículos para melhorar as perspectivas de emprego de seus alunos.
E como o cenário está no Brasil?
O cenário de empregabilidade entre os recém-formados no Brasil apresenta desafios, conforme revelam pesquisas recentes do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e da consultoria IDados. A crescente discrepância entre a formação acadêmica e o mercado de trabalho sugere não apenas uma questão de desemprego, mas também de subemprego e desalinhamento entre qualificação e atuação profissional.
De acordo com o Ipea, quase metade dos jovens brasileiros que concluíram o ensino superior estão trabalhando fora de suas áreas de formação, um fenômeno que atingiu o patamar de 44,2% entre os jovens e 38% considerando todas as idades.
Além disso, esses profissionais enfrentam uma realidade salarial desfavorável, ganhando 74% menos do que suas qualificações permitiriam. Esse descompasso reflete uma economia que não consegue gerar empregos compatíveis com o nível de escolaridade alcançado pela população, apesar de um aumento no número de trabalhadores com ensino superior, de 13,1 milhões para 19,4 milhões entre 2012 e o momento atual da pesquisa.
A situação é exacerbada pela crise econômica, que iniciou em 2014, mas os profissionais com diploma universitário foram os menos afetados em termos de desemprego. No entanto, a qualidade das vagas disponíveis não atende às expectativas desses profissionais, muitos dos quais acabam aceitando posições que não exigem formação superior.
Um levantamento da IDados corrobora essa análise, mostrando que 40% dos jovens entre 22 e 25 anos com ensino superior não têm emprego qualificado. Esse quadro de "sobre-educação", onde os indivíduos ocupam funções que não demandam formação superior, impactou cerca de 525 mil jovens no primeiro trimestre de 2020.
Esse cenário ressalta uma problemática mais ampla no Brasil: a dificuldade de absorção de profissionais qualificados pelo mercado de trabalho, em um contexto de desaceleração econômica e crises sucessivas.
O desalinhamento entre formação e emprego no Brasil reflete desafios estruturais que demandam políticas públicas para a criação de empregos de qualidade que estejam alinhados com o perfil educacional da população.
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Fonte: Burning Glass Institute