Um dos motivos é a taxa de juros no Brasil, que mesmo com quedas recentes ainda está em um patamar elevado de 11,25% ao ano.
Durante a pandemia da COVID-19, a economia global sofreu um duro golpe. No Brasil, a situação não foi diferente, com muitas empresas lutando para se manter à tona em meio a um dos mais desafiadores períodos econômicos da história recente. A necessidade de liquidez levou a um aumento substancial na procura por empréstimos. Contudo, esses empréstimos vieram atrelados a taxas de juros elevadas.
O histórico da taxa Selic, a taxa básica de juros da economia do Brasil, mostra uma trajetória de altos e baixos que reflete as tentativas do Banco Central do Brasil de controlar a inflação. Desde o início da pandemia, houve um período de redução da Selic, chegando a 2,00% ao ano em agosto de 2020, na tentativa de estimular a economia.
No entanto, o aumento da inflação forçou o Banco Central a reverter essa tendência, levando a taxa Selic a escalar até 13,75% ao ano em 2022, mantendo-se neste patamar até o início de 2024.
Apesar de uma recente redução para 11,25% em fevereiro de 2024, o custo do crédito ainda é considerado elevado. As consequências dessas flutuações continuam sendo sentidas pelas empresas, pois os empréstimos contraídos em períodos de juros altos têm impactado significativamente os seus balanços.
Muitas empresas, incapazes de gerar receita suficiente para cobrir os custos dos empréstimos, viram-se forçadas a buscar a recuperação judicial como uma estratégia para reestruturar suas dívidas e evitar a falência.
O aumento de 68,7% nos pedidos de recuperação judicial em 2023, com 1,4 mil pedidos registrados pela Serasa Experian, é um indicativo do estresse financeiro contínuo que as empresas brasileiras estão enfrentando. O número é o mais alto desde 2018. Grandes empresas, como Americanas, Light e Oi, figuram entre as que buscaram proteção judicial.
A pesquisa mostrou que a pandemia fez muitos negócios pegarem empréstimos e fazerem financiamento para continuarem abertos — tendo que arcar com esses altos juros. Acontece que, em 2020 e 2021, ápice da COVID, os juros estavam entre 2% e 9%. Ou seja, ficou bem mais caro pagar as dívidas de lá para cá. Com guerras e conflitos, o contexto internacional também contribuiu para uma bagunça na economia global, deixando o cenário mais instável.
O endividamento das empresas brasileiras no mercado doméstico aumentou de 31% para 36% do PIB em setembro do ano passado.
Setores mais impactados da crise econômica
Os setores de serviços e comércio foram os mais afetados, liderando o número de pedidos de recuperação judicial. As micro e pequenas empresas, em particular, têm sido as mais vulneráveis, devido à sua menor capacidade de absorver choques econômicos e ao acesso mais limitado a financiamento.
Especialistas projetam que o número de reestruturações de dívidas empresariais poderá continuar crescendo, mesmo com as taxas de juros tendo diminuído recentemente. Isso se deve ao fato de que os impactos dos empréstimos contraídos a taxas mais altas têm um efeito duradouro sobre as finanças das empresas.
Além disso, mudanças legislativas recentes têm influenciado o cenário de recuperações e falências, com a Lei 14.112/2020 alterando as regras do jogo e possivelmente incentivando o recurso à recuperação judicial como uma opção viável para as empresas em dificuldades financeiras.
Em conclusão, a pandemia da COVID-19 deixou um legado de dívidas e desafios financeiros para as empresas brasileiras. Mesmo com a queda recente da taxa Selic, os efeitos dos empréstimos contraídos a taxas de juros mais elevadas persistirão, tornando a recuperação judicial um recurso cada vez mais comum entre as empresas que buscam uma saída para a crise econômica prolongada.
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