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Lindolfo Hill - um outro olhar para a esquerda 14

EMPURRADO PARA A ILEGALIDADE

Alexandre Müller Hill Maestrini
Por Alexandre Müller Hill...
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Lindolfo Hill - um outro olhar para a esquerda 14
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Depois de efetivado o afastamento, Lindolfo, agora sem o mandato de vereador, foi empurrado para a militância na ilegalidade em dedicação total ao PCB. Lindolfo foi especialmente homenageado na CMJF, logo na primeira sessão do ano de 1951, pelo vereador Moraes Sarmento que reafirmou que a cassação de seu mandato tinha acontecido em circunstância especial e que a CMJF errara na decisão. Já na clandestinidade, Lindolfo Hill ajudou no processo de reestruturação da linha política adotada pelo PCB no início da década de 1950. Foram expressas claras orientações do partido para o aumento do raio de atuação para além do segmento operário, pois um dos objetivos do partido era a ampliação da esfera dos trabalhos para o perímetro rural, através da inserção do trabalhador camponês na vida política.

Em 11.5.1951, com os operários organizando-se cada vez mais, foi fundada em Juiz de fora a União dos Trabalhadores de Juiz de Fora, a qual se filiou à União Geral dos Trabalhadores de Minas Gerais. No ato da fundação os associados aprovaram moção de solidariedade aos líderes sindicais presos ou perseguidos, entre eles Lindolfo Hill, João Amazonas e Pedro de Carvalho Braga. Mesmo considerado ilegal e na condição de foragido da polícia, durante a década de 1950, o líder sindical Lindolfo Hill foi fundamental para o PCB em Minas Gerais na realização de constante trabalho de expansão das suas ações. Mesmo sofrendo constantes repressões da polícia, Hill desenvolvia atividades de grande operosidade e se dedicava exclusivamente ao PCB, por isso era mantido financeiramente pelo partido. Os ordenados, porém, eram muito baixos.

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Em 26.5.1951, João Amazonas, Lindolfo Hill, Roberto Morena e muitos outros assinaram um pacto para a Paz. Eles queriam que as cinco grandes potências mundiais Estados Unidos, União Soviética, República Popular da China, Grã-Bretanha e França se reunissem e concluíssem o Pacto pela Paz; para o pacto convocavam também todas as nações. Para não ser preso, Lindolfo Hill era obrigado a mudar com frequência de nome e de paradeiro. Mesmo assim, em junho de 1951, antes da visita do Presidente da República Getúlio Vargas em Uberaba MG, os jornais noticiavam que Lindolfo Hill fora localizado pela Polícia Civil junto com Luiz Carlos Prestes no pontal do Triângulo Mineiro. Nesta época de ilegalidade, o Comitê Central do partido tinha modificado sua estrutura e criara os Comitês Avançados, regionalizando a organização, porém enfraquecendo os Comitês Estaduais. Em Minas Gerais foram criados 16 comitês municipais, só em Juiz de Fora foram criadas 64 células. Cada “Célula” continha entre 15 a 20 militantes, uma espécie recepções.

Existiam comunistas em diversos segmentos, entre outras estavam a Célula Tiradentes, no Segundo Batalhão de Polícia Militar; a Célula Duque de Caxias para os sargentos, praças e oficiais da ativa do Exército; a Célula Luiz Zuddio na fábrica militar de munições no bairro Benfica, IMBEL. Foi também nesta época que, com a regionalização, o Comitê Avançado de Juiz de Fora passou a estar subordinado à Seção do Rio de Janeiro, pela proximidade geográfica e histórica com a capital federal. Certa vez houve um problema na fábrica de explosivos do Exército, no bairro Benfica, pois a célula Luiz Zuddio do PCB e uns dez ou onze companheiros começaram a vender sem nenhuma cautela dentro da fábrica o jornal do partido A Classe Operária.

Mas houve uma denúncia e o comandante da 4a Região Militar Ângelo Mendes de Morais, que era um homem severo na luta contra o comunismo, ergueu um estrado, convocou todos e formou os soldados lá na frente para expor os comunistas. Não teve conversa: pegou os comunistas e os expulsou. A clandestinidade na verdade impulsionou a modernização e reorganização do partido. Depois do Manifesto de Agosto, o comitê central do PCB resolveu empreender um vasto trabalho de preparação de seus militantes, a fim de que o partido pudesse impulsionar transformações revolucionárias. Deu-se início ao trabalho de educação dos ativistas, até então inexistente. Foram montadas infraestruturas necessárias como escolas, automóveis, motoristas e auxiliares para que se realizassem os cursos de pequena e longa duração. Vários dirigentes com nível cultural mais elevado foram destacados para atuarem como professores. Esta decisão visava a corrigir o atraso político e teórico dos militantes do PCB que ocupavam postos de direção municipal, distrital e estadual.216 Assim, em pouco tempo, o partido já pedia para Hill se mudar para Valença RJ e ajudar no Comitê Local.

Nesta época, Lindolfo Hill passou a morar na casa de um companheiro de partido e, em troca, ajudava-o na oficina, realizando pequenos trabalhos como pedreiro. Dois meses, depois Hill alugou uma casa e conseguiu transferir a família para aquela cidade, permanecendo por pouco mais de 1 ano. Em breve, o PCB pediu a transferência de Lindolfo Hill para São Gonçalo GB e lá foi ele, convicto, com toda a família a serviço do partido. A esposa Carmen era contra a vida sindical de Lindolfo, pois achava que estava prejudicando a família e sempre fazia pressão para que ele abandonasse a lida partidária e voltassem para Juiz de Fora, onde ela gostaria de viver perto de sua família. Em Juiz de Fora MG, a divulgação do panfleto manifesto intitulado Ao povo e à classe operária, em outubro de 1951, fez insuflar no Instituto Granbery uma ação contra os comunistas da escola, Prof. Irineu Guimarães e o Dr. Thomaz Bernardino.

Nesse manifesto, o Comitê Municipal de Juiz de Fora do PCB se dirigiu ao povo da cidade no sentido de alertá-lo da gravidade da situação da época e convocando-o a se organizarem em torno dos nove pontos do Manifesto de Agosto de 1950 lançado pelo PCB. Ao final do panfleto com palavras de ordem: Abaixo a política de fome e de guerra. Por aumento de salários! Por uma política de paz! Liberdade para Lindolfo Hill – Viva o PCB! Viva Luiz Carlos Prestes. Na ocasião da comemoração do dia primeiro de maio de 1952, os comunistas pretendiam coordenar uma ação de agitação e propaganda política. Alguns dias depois, um informe foi enviado pelo Delegado Geral de Juiz de Fora, em 6.5.1952, relatando a apreensão de materiais ao Delegado de Ordem Pública de Belo Horizonte: “Ao Exmo. Sr. Dr. José Henrique Soares. Delegado de Ordem Pública — Belo Horizonte Senhor Delegado, comunico-vos que as solenidades do dia Primeiro de Maio do corrente ano se processaram na maior ordem. Na véspera, a turma da Ordem Política conseguiu apreender, em uma tipografia, cerca de 500 boletins comunistas assinados por Lindolfo Hill, os quais assim não chegaram a ser distribuídos. Junto, remeto-vos alguns exemplares do aludido documento para vosso conhecimento. Atenciosas saudações, Delegado Geral”.

Nesta situação vivenciada pelos militantes de Juiz de Fora, na mesma ocasião foi apreendido, em uma gráfica local, o material que o PCB local preparava para divulgar nas festividades do primeiro de maio. Mas as ações do partido já vinham sendo acompanhadas por investigadores à paisana, conforme comunicação: “Serviço Público do Estado de Minas Gerais cópia de comunicação Comunico a V. Excia. que consegui depois de várias investigações apurar que os comunistas pretendiam fazer um grande derrame de boletins comunistas que seriam espalhados nesta cidade, em comemoração à passagem do primeiro de maio do ano em curso.

Apurei que esses boletins seriam confeccionados na rua Batista de Oliveira e, entrando em contato com o proprietário da mencionada tipografia, pude verificar tratar-se de pessoa idônea e de confiança, combinando com ele, em face das investigações efetuar a prisão da pessoa que fosse buscar aquele material, o que se verificou na data desta ordem de serviço, por volta das dezessete horas, quando efetuei a prisão do comunista Aulo Moreira Ramos, no momento em que colocava em um automóvel dois grandes embrulhos com farta quantidade de boletins [...] assinados pelo conhecido comunista Lindolfo Hill, foragido desta cidade e contra quem existe mando de prisão da polícia, digo da Justiça do Rio de Janeiro [...] Juiz de Fora, 2 de maio de 1952 José Braga, investigador nº 31”.

O panfleto citado pelo investigador José Braga seria distribuído por Lindolfo Hill e seus camaradas entre os trabalhadores de Juiz de Fora nas comemorações do primeiro de maio de 1952 continha um texto onde Hill falava sobre a necessidade de luta da classe trabalhadora, pois somente a partir da melhoria das condições de trabalho, seria possível reduzir as desigualdades sociais: “Aos operários e aos trabalhadores de Juiz de Fora, aproveitando a oportunidade das comemorações do 1º de maio - data magna dos trabalhadores de todo o mundo - me dirijo a todos os operários da minha terra natal, possuído da maior alegria e cheio de entusiasmo - apesar de todas as perseguições policiais - para lhe enviar a minha saudação proletária e amiga. [...] Os operários de Juiz de Fora podem confiar em suas próprias forças, organizando se cada vez mais nos seus sindicatos, realizando assembleias [...] A organização da classe operária será fator inicial e importante para a conquista das suas reivindicações econômicas e políticas. [...] Juiz de Fora, 1º de Maio de 1952 Lindolfo Hill” Nos materiais apreendidos, Hill explicava a concepção do PCB que a união das classes trabalhadoras era fator importante para a transformação social e a luta deveria se dar mediante a organização de sindicatos e através da realização de reuniões e assembleias, para que os movimentos da classe trabalhadora fossem planejados e organizados.

Lindolfo Hill seguia lembrando que somente a partir da constituição de órgãos de representação e liderança é que o trabalhador teria condições de reivindicar as suas demandas. A partir de 1951, passaram pelos cursos elementares do partido, 1960 alunos, pelos cursos médios 1492 alunos e pelo curso superior do Comitê Central 554 alunos. Mas esses cursos eram para formar os “cabos e sargentos do exército revolucionário”, já os elementos mais categorizados deveriam cursar a escola do Partido Comunista da União Soviética. Desde 1950, o PCB enviava para a URSS turmas para cursos superiores de dois anos, cursos de um ano ou cursos de seis meses de duração. A palavra “superior” se liga à profissionalização do comunista enquanto “revolucionário” e visava a formar indivíduos capazes de dirigir uma organização política clandestina e revolucionária. Assim, todos os anos um grupo de brasileiros do PCB era escolhido para estudar em Moscou no Instituto da América Latina, um órgão da Academia de Ciências da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. O objetivo era instruir os comunistas estrangeiros na “escola de quadros”.

Os alunos eram escolhidos e indicados pela direção do PCB entre os membros do Comitê Central e dirigentes de importantes organizações partidárias. No ano de 1952, Lindolfo Hill foi indicado pelo PCB para participar de um curso em Moscou. Os escolhidos receberam as ordens de providenciar os documentos rotineiros como certidão de identidade e certificado de reservista para obterem os passaportes. A decisão de Hill de deixar a esposa com quatro filhos pequenos para cuidar foi dolorida, mas fazia parte de suas convicções e sua dedicação ao PC. Além disso, tinha recebido a promessa que a família estaria sob a proteção e cuidados do partido. Em 5.1.1953, foi criada a Lei de Segurança Nacional, LSN n. 1802, que estabelecia os crimes contra o Estado Brasileiro e sua ordem política. Em março deste ano, os comunistas organizaram uma das maiores greves operárias da história do Brasil. Com forte impacto na vida política nacional, a greve mobilizou mais de 300 mil trabalhadores e teve a duração aproximada de trinta dias.

Pressionado Getúlio Vargas indica o trabalhista João “Jango” Goulart para o Ministério do Trabalho que reajustou o salário-mínimo em 100%. Para o sistema estabelecido “os comunistas” infringiam a LSN. Os ventos mudavam na União Soviética com o falecimento, no dia 5.3.1953, do líder Josef Stálin. Nesse mesmo dia, um triunvirato assumiu o governo e iniciaram uma luta pelo poder: Malienkov, Molotov e Béria. Mesmo com este cenário de mudanças políticas russas, já nos primeiros dias de setembro de 1953, Lindolfo Hill partiu de avião para a cidade de Praga na Tchecoslováquia, com escala em Zurique na Suíça. Em Praga, aguardou por cerca de um mês as chegadas dos outros 42 integrantes do grupo, antes de prosseguirem viagem, chegando na União Soviética em 6.11.1953. Outra delegação do PCB, chefiado por Carlos Marighella, viajou para a recém-criada República Popular da China e depois visitou também a URSS.

Hill e os companheiros chegaram em Pushkino, nos arredores de Moscou, na antiga Universidade Lênin, rebatizada de Escola Superior do Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética. Ficaram em um casarão com dois pavimentos onde funcionavam os cursos especiais para brasileiros. O curso teve a duração de dezoito meses. Os companheiros não se conheciam por nomes e eram obrigados a usarem nomes de guerra. Inclusive os documentos de identidade soviéticos incluíam esses pseudônimos e os estudantes recebiam 300 rublos por mês.

Somente depois de voltarem ao Brasil, viriam a se conhecer pelo nome verdadeiro, dentre eles estavam João Amazonas – “o velho Cid”, Pedro Pomar, Mário Alves, Armênio Guedes, Hércules Correa, Osvaldo Peralva, Armando Frutuoso, João Macna e Apolônio de Carvalho, entre outros. Todos eram funcionários remunerados do PCB, pois o partido providenciava que eles vivessem por conta do trabalho partidário e garantia assim que estariam sempre à disposição, quando fosse preciso, que pudessem se manter e agir na clandestinidade e dispostos a mudar de residência. Juntos em Moscou, Hill e os camaradas receberam seis horas de intensivas aulas diárias, num total de 1.800 horas de estudo em vários assuntos: doutrinação política, história da Rússia, história geral do movimento proletário, geografia geral, História do PCUS, geografia econômica, relações internacionais, filosofia, o idioma russo, entre outros assuntos do comunismo internacional. Todas as aulas eram dadas em russo, com um tradutor retransmitindo-as em espanhol.

No Brasil, as forças policiais sabiam que Lindolfo agia na clandestinidade, mas não sabiam que ele tinha deixado o país. Assim, em maio de 1954, Hill foi considerado foragido pela Delegacia Especializada de Ordem Pública de Minas Gerais e consta que, nesta época, Lindolfo Hill tinha “sido visto” pelos informantes da polícia no Vale do Rio Doce, em Caratinga, Aimorés, Governador Valadares, Teófilo Otoni, Medina e Afonso Arinos. O Boletim 31, da Delegacia Especializada de Ordem Pública da Chefia da Polícia do Estado de Minas Gerais, relatou que, no dia 9.5.1954, o Jornal do Povo tinha publicado os nomes dos candidatos comunistas a cargos eletivos para as próximas eleições de 3.10.1954 e Lindolfo Hill listado como candidato a vereador em Juiz de Fora, apesar de acharem que ele estava foragido.

Conforme boletins da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), Lindolfo Hill estava sendo monitorado pois tinha sido inserido no Processo de Carlos Prestes.231 Com mais de onze mil páginas, o processo tinha sido iniciado em 1936, marcado pela prisão de Luiz Carlos Prestes e de sua esposa alemã Olga Benário. Um Tribunal de Segurança Nacional tinha sido criado por Getúlio Vargas para processar e julgar os chamados “crimes contra a segurança nacional”. No dia 8 de junho do mesmo ano, no relatório da PMMG, consta que Lindolfo “estava” no Vale do Rio Doce, com passagens por Caratinga, Aimorés, Governador Valadares e Teófilo Otoni. Informações erradas, pois Lindolfo Hill ainda se encontrava na União Soviética. Nesta época, o gaúcho João Goulart do PTB era o ministro do Trabalho, Indústria e Comércio; um ministério forte e político que englobava a Previdência Social, a construção de casas populares e as relações do Estado Brasileiro com os trabalhadores e empresários.

Quando Goulart assumiu a frente do ministério em junho de 1953, ele alterou as relações entre o governo, os trabalhadores e os empresários. Até então as greves dos trabalhadores eram debeladas com ações policiais, mas João Goulart passou a chamar as partes interessadas, sindicatos, empregados e empregadores para reuniões com objetivo de buscarem um acordo. Democratizando o Ministério do Trabalho, os movimentos reconhecem o novo modus operandi do ministro como um democrata, um homem do diálogo, que propõe reformas; o que seus adversários interpretam como demagogia. Como João Goulart ganha projeção nacional, ele começa a levantar a bandeira das reformas com a concordância dos movimentos de esquerda e se torna uma liderança das esquerdas e presidente do PTB nacional. Depois do aumento do salário-mínimo, 82 coronéis do exército enviaram ao Ministro da Guerra um “Manifesto dos Coronéis” alertando sobre um suposto perigo da “subversão comunista”, levando à demissão do Ministro do Trabalho. Apesar de demitir João Goulart, logo em maio, o presidente Vargas confirma o aumento de 100% do salário-mínimo e acrescenta ainda uma revisão automática a cada três anos. A pressão ao governo era enorme, com as forças internacionais no país exigindo a abertura indiscriminada de nosso país, e a interrupção de crédito nacional em nome do “controle da inflação”, deixando Vargas num “beco sem saída”.

Na madrugada de 24.8.1954, a notícia do suicídio do presidente Getúlio Vargas no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, rodou o mundo e chegou até os ouvidos de Lindolfo e seus camaradas em Moscou. Com a notícia do suicídio, a massa brasileira foi para as ruas e o PCB decidiu acompanhar a “voz popular”. Um mês depois, em setembro de 1954, ainda sem saberem que Hill estava em Moscou, Lindolfo e seus companheiros estavam ameaçados de captura para a abertura de processos em separado. Indiferente ao suicídio de Getúlio Vargas e a situação política do país e do mundo, o PCB realizou na clandestinidade entre 7 e 11.9.1954 seu IV Congresso do Partido Comunista em São Paulo. Somente em abril de 1955, Lindolfo Hill regressou de Moscou para o Rio de Janeiro e foi inicialmente para um endereço no bairro Vila Isabel RJ, local que lhe tinha sido destinado por Sérgio Holmos ainda em Moscou.

Quando chegou ao Brasil, Lindolfo ainda não sabia o endereço certo dos familiares, pois, neste tempo que esteve fora, a família tinha “se mudado”. Somente depois de um tempo voltou para o município de São Gonçalo GB, onde foi se encontrar com a família no bairro de Alcântara. No reencontro, Lindolfo Hill ouviu enfurecido os relatos e queixas de seus familiares sobre o período que esteve em Moscou, pois eles tiveram que passar por muitas privações. Revoltado com a situação relatada, Hill foi imediatamente tomar satisfações com os responsáveis do partido, pois não tinham cumprido o prometido em relação aos cuidados da família no Brasil enquanto esteve na URSS. Insatisfeito, Lindolfo disse ao PCB que gostaria de começar a preparar a volta para Juiz de Fora. Por conta deste acontecimento lhe foi proposto ir residir em Petrópolis RJ e integrar o PCB local para, com calma e tempo, preparar sua volta para Minas. Muito por força da esposa Carmen, que tinha toda família em Juiz de Fora e gostaria de voltar para perto de seus entes queridos, Lindolfo entendia também que a família da esposa significaria apoio para o cuidado dos filhos e o conforto da própria esposa Carmen. Até fins de 1955, já com dois filhos na idade de ajudarem nas despesas da casa, foi mais fácil a adaptação onde moraram perto do centro da Cidade Imperial.

Mas nessa época o país estava envolvido nas disputas eleitorais e nas eleições de outubro de 1955 o PCB resolveu apoiar o candidato à presidência Juscelino Kubitschek Oliveira pelo partido PSD e para vice o candidato do PTB João Goulart. Em contrapartida dessa aliança, o PCB esperava a aceitação de um programa mínimo de quatro pontos, negociada por João Amazonas: 1. a sonhada legalização democrática e liberdade; 2. uma política externa de paz; 3. melhores condições de vida para os trabalhadores e medidas de reforma agrária; 4. defesa de uma política nacional de petróleo e minérios. Em 31.1.1956, Juscelino assumiu a Presidência da República. Ele não cumpriu a promessa de legalização do PCB, porém permitiu que o partido viesse para a legalidade “de fato”. Entre 14. e 26.2.1956 foi realizado em Moscou o XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética. No Brasil o núcleo dirigente era formado nesta época por Luiz Carlos Prestes como secretário-geral, Diógenes Arruda Câmara como detentor do controle da máquina partidária, Maurício Grabois, João Amazonas, Carlos Marighella, Pedro Pomar e entre outros estava Lindolfo Hill.

Ainda na época em que a família do casal Hill ainda estava escondida em Petrópolis RJ, no ano de 1956, recebeu mais um presente, a sexta filha e a caçula Carmem Déa Hill. Hoje ela lembra que mesmo com pouca convivência com o pai, os filhos lembram de Lindolfo Hill com carinho; uma pessoa muito inteligente e que fazia questão de formar uma vasta biblioteca, mas era rígido com relação ao modo de vida. Honestíssimo na vida privada e como ativista do PCB, Hill era visto como um visionário e idealista em seus pensamentos de reforma agrária, casa própria para todos e assuntos de cunho social, as vezes interpretado como ingenuidade política. 

Lindolfo Hill encarava a adesão ao comunismo como uma entrega total, não fazendo sentido distinguir entre privado e público. Para os militantes comunistas existia apenas uma vida, a ser dedicada integralmente ao partido. O partido era tudo para os integrantes, a razão de ser e a grande família. Uma das lutas de Lindolfo era por uma jornada de trabalho justa, além de se posicionar contrário ao trabalho de menores, sobre os quais pendiam abusos não muito diferentes da escravidão. Sempre mantendo uma “camuflagem” de sua vida particular para evitar retaliações e prisões, Hill levou a família toda para Pedro do Rio RJ e em seguida para a cidade de Correias RJ. O dirigente máximo do PCB Luiz Carlos Prestes ainda se encontrava clandestino e escondido em uma casa no subúrbio carioca.

Todas as famílias dos ativistas sofriam nesta época, pois a rotina de prender e soltar fazia parte do processo de intimidação política. Em Minas Gerais, com uma economia bastante descentralizada, o PCB atuava também na área industrial da periferia da capital Belo Horizonte, onde se situavam as indústrias metalúrgicas, químicas e têxteis, bem como na zona de extração de minérios e ouro em Nova Lima. Em 1956, já se vivia uma certa liberdade consentida: O PCB ainda não era legal, pois Juscelino não tinha cumprido a promessa de legalização, mas sem repressão os comunistas atuavam quase que abertamente; uma semilegalidade. O partido começou a se envolver nos debates sobre o apoio ou “não” às políticas e o plano de metas do presidente Juscelino de “50 anos em 5”. Com plena efervescência e semilegal, o PCB estava empenhado em vários projetos de sociedade para o Brasil em resposta aos problemas estruturais. Como forma de aperfeiçoar a formação dos militantes do PCB mineiro, foram implantados os Planos de Estudos que continham temáticas relacionadas tanto à ideologia, quanto ao objetivo central do partido. Essa foi uma das estratégias adotadas para que os militantes pudessem compreender a dinâmica das ações e qual o foco do trabalho dos comunistas.

Era importante compreender a realidade em que o trabalhador estava inserido para elevar a sua consciência de classe, conhecer o território e as condições de vida dos trabalhadores mineiros e realizar a transformação social. As 11 áreas temáticas eram: 1) Produção do estado: sua relação com o país; 2) Produção industrial: desenvolvimento, características, que setor se desenvolve mais, capitalismo de estado, desenvolvimento independente, relação com a produção agropecuária: problemas e soluções; 3) Produção pecuária: desenvolvimento, características, relação com a produção agrícola e industrial: problemas e soluções; 4) Produção agrícola: desenvolvimento, características, relação com a produção agrícola e industrial: problemas e soluções; 5) Monopólio da terra: Tendências, características, problemas e soluções. (Projetos de Reforma agrária, imposto territorial); 6) Penetração do capitalismo na agropecuária: emprego de máquinas, emprego de capital, a luta pelo financiamento e suas consequências, restos feudais; 7) Classes e camadas sociais - sobretudo, no campo: desenvolvimento e características; 8) Empobrecimento absoluto e relativo da população, sobretudo do proletariado; 9) Preços dos produtos industriais e agrícolas; 10) Produção pecuária, do café, arroz, milho, feijão e outras culturas. Como se produz cada uma? Relações econômicas e sociais na produção de cada uma; 11) Fatores históricos sociais que teriam levado a modificação na predominância de uma ou de outra classe. (A revolução de 1930). Classes e partidos Políticos.

No ano de 1958, o Supremo Tribunal Federal brasileiro reconheceu que a qualquer cidadão cabe o direito de ser comunista. Nesta ocasião, os comunistas interpretaram como se tivessem também o direito a propagar as ideias comunistas. Em todos os países onde vale o regime democrático, os partidos comunistas têm assegurada sua existência legal. Já a proscrição destes é uma característica dos sistemas políticos reacionários, que negam os direitos e as liberdades democráticas dos cidadãos. Logo em 20.3.1958, Hill e seus companheiros receberam uma boa notícia, um Juiz determinou à polícia que revogassem a prisão preventiva de Luiz Carlos Prestes, João Amazonas, Maurício Grabois, Sérgio Holmos e outros militantes do PCB, incluindo a de Lindolfo Hill que se encontrava preso. Nesta época, o PCB vivia uma doce ilusão, uma visão romântica, queria o capitalismo de estado sem monopólio nem latifúndio. Mas, nos últimos 10 anos de 1949 – 1958, a produção industrial tinha aumentado 235%, não acompanhada pelo desenvolvimento do campo de apenas 142%. Criou-se assim um grave desequilíbrio e parte da população rural foi deslocada para os centros urbanos, que cresceram como cogumelos.

Hill foi novamente colocado em liberdade condicional junto com Luiz Carlos Prestes e seus companheiros, mas eles continuariam sendo monitorados. Conforme pasta 3730 do DOPS, da Secretaria de Estado de Segurança Pública de Minas Gerais (SSP-MG), Lindolfo Hill era muito conhecido e “velho militante”, dirigente do PCB desde os dezoito anos, tinha recebido a missão de reorganizar o partido em Campinas SP e cidades vizinhas. Lindolfo Hill usava o codinome “Luiz” e, conforme foto n. 251 do arquivo do SNI sobre os militantes do PCB, entregava o jornal Voz Operária, tinha sido responsável por contatar os estudantes e apoiar a criação da Base Universitária de Campinas SP, onde eles desenvolviam os trabalhos do partido, lendo e discutindo os conteúdos dos jornais. Lindolfo era um dos “assalariados” do PCB e frequentemente tinha que deixar a família sem dizer o paradeiro, partindo para suas tarefas prioritárias do partido.

A esquerda crescia, mas o deputado federal eleito pelo PRP Plínio Salgado compunha, em fevereiro de 1959, a bancada integralista da Câmara dos Deputados, que tinha entre eles o integralista juiz-forano Abel Rafael Pinto, velho conhecido de Lindolfo Hill nos embates na Câmara Municipal de Juiz de Fora, na época em que os dois eram vereadores. Com o objetivo de contrapor e coordenar as forças de direita, empresários brasileiros e estrangeiros, militares, líderes religiosos e sindicais criaram, em agosto de 1959, o Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD), financiado também pelo imperialismo americano.

Em novembro de 1959, o processo, que tanto colocava medo, foi arquivado por decurso de prazo legal e em vista disso, nada mais impedia a volta da família Hill para Juiz de Fora MG. Mesmo com as perseguições cada vez mais duras, Lindolfo transferiu a família para Juiz de Fora, no bairro de Benfica. Estas mudanças repentinas impossibilitavam aos filhos criarem raízes em algum lugar, pois o líder familiar Hill estava sempre mudando. Os filhos imaginavam que o pai estava “viajando” ou escondido, porém não conheciam seu paradeiro ou se ele estaria preso? Em outras de suas diversas mudanças de endereço para camuflar-se e tentando dar uma vida normal aos filhos e esposa, Lindolfo levou a família para o bairro Megiolário (atual bairro Nossa Senhora Aparecida) e depois para o bairro Santa Terezinha, na rua Ouro Preto, também em Juiz de Fora MG.

Ao contrário do que todos imaginavam, em sua cidade natal Juiz de Fora, a receptividade não foi nada fácil! Lindolfo tentou dedicar-se novamente à sua profissão de pedreiro, porém ninguém lhe dava um emprego. Foi então que ele decidiu trabalhar por conta própria como pedreiro e chegou a construir três casas residenciais, um prédio de dois pavimentos e uma fábrica de calçados. Nos seus momentos de lazer ainda descia com os amigos a principal rua da cidade, a famosa rua Halfeld, e gostava de mostrar seu relógio de bolso que recebera de presente durante seu “exílio” na Rússia.

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Alexandre Müller Hill Maestrini

Publicado por:

Alexandre Müller Hill Maestrini

Alexandre Müller Hill Maestrini é professor de alemão no Instituto Autobahn e autor de quatro livros: Cerveja, Alemães e Juiz de Fora, Franz Hill – Diário de um Imigrante Alemão, Lindolfo Hill – Um outro olhar para a esquerda e Arte Sutil.

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