Coincidência ou contemporaneidade, do outro lado do mundo, em outubro e novembro de 1917, ano do nascimento de Lindolfo Hill, em Petrogrado e Moscou os bolchevistas (totalitaristas) derrotaram as correntes socialistas mais moderadas e implantaram, pela primeira vez na história da humanidade, a ditadura do proletariado. O primogênito Lindolfo Hill ainda era pequeno, quando entre 25 a 27.3.1922, ocorreu o Congresso de Fundação do Partido Comunista do Brasil em Niterói, mas o que poderiam fazer 73 militantes espalhados pelo Brasil? Participou também um grupo de Juiz de Fora. O estatuto do partido PC-SBIC (Partido Comunista – Seção Brasileira da Internacional Comunista) foi publicado no Diário Oficial da União em 7.4.1922.21.
No âmbito internacional, em dezembro de 1922, ocorreu o I Congresso dos Sovietes de toda a união e a ocasião marcou a fundação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) com quatro participantes: Rússia, Bielorússia, Ucrânia e Transcaucásia. Três anos mais tarde, em 1925, nascia o Partido Comunista de Minas Gerais, formando seu primeiro núcleo em Juiz de Fora pelas mãos do carioca Adelyno Decola dos Santos e de Luiz Zuddio. Em Juiz de Fora, residiam alguns estudiosos das questões sociais surgidas no “pós-guerra” e o PCB procurava levar a semente das ideias aos centros industriais e ferroviários. Em seguida o PCB buscou levar as ideias comunistas às repartições públicas, aos meios estudantis e comerciais. Juiz de Fora não foi diferente, uma das cidades industriais da época, oferecia um solo fértil para todas essas atividades.
Luiz Zuddio era um jovem contabilista, o guarda-livros responsável pela contabilidade da empresa onde trabalhava. Tinha uma certa folga, andava de bicicleta para baixo e para cima, fazendo contato com o pessoal. Toda noite dava aulas de marxismo na União Operária, como Marx fazia na Europa. Ele trabalhava voluntariamente nas portas de fábrica, mas sabia que era preciso educar os trabalhadores. Zuddio tinha uma perspectiva extraordinária, uma consciência do futuro do movimento social e reunia grupos de operários para ensinar aos líderes operários economia política, mais-valia e outros, fazendo com que os operários ficassem sabendo como eram roubados e assim poderiam ter consciência de classe para lutar melhor.23 Este era o trabalho de instrução que os comunistas acreditavam e realizavam, mas eram sempre vigiados pela polícia política e assim muitos dos envolvidos na atividade foram perseguidos.
Zuddio foi assassinado por militares em 9.11.1935, quando fazia pichações em muros em Juiz de Fora,24 além de distribuir panfletos do Comitê Regional da Mata do PC-SBIC no bairro São Mateus.25 Na outra ponta extrema direita “das ideologias”, em 30.12.1924 era criado o órgão do governo brasileiro, o Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) da Polícia Federal, utilizado principalmente durante a ditadura do Estado Novo e mais tarde no Regime Militar ditatorial iniciado em 1964, cujo objetivo era controlar e reprimir movimentos políticos e sociais contrários ao regime no poder.
Entre 16 e 18 de maio de 1925, ocorreu no Rio de Janeiro o II Congresso do PCB, onde se discutiu a política nacional e a situação internacional. Na parte de organização, os temas foram a reforma do estatuto, as células, os comitês regionais, o serviço da direção, os comitês de agitação e de propaganda e a organização da Juventude Comunista. Inclusive com uma seção em Juiz de Fora, os comunistas pleiteavam a nacionalização das terras e divisão dos latifúndios, a abolição da dívida pública, a nacionalização de empresas, indústrias e bancos “imperialistas”, a liberdade de expressão e imprensa, o direito de greve, a jornada de trabalho de 8 horas, a lei de férias, o aumento do salário e outras medidas sociais para os trabalhadores. Nessa época o Brasil era considerado um país semicolonial de economia agrária baseada na grande propriedade, na exploração das grandes massas camponesas e economicamente dominado pelo imperialismo (empresas estrangeiras).
O Brasil acabara de sair do regime escravista em 1888 e, com o início da industrialização brasileira, as condições de vida e trabalho do proletariado eram bastante difíceis com a jornada de trabalho chegando a 13, 14 até 15 horas por dia, sem descanso semanal remunerado nem férias anuais. Vale lembrar que nesta época não existia o contrato de trabalho e os operários eram admitidos e despedidos verbalmente, sem qualquer tipo de indenização. Em caso de doença ou acidente de trabalho, o empregado não contava com assistência do empregador. Com salários baixos, a vida dos trabalhadores era precária, resultava em subnutrição e más condições de moradia. O ciclo econômico e social era vicioso: com o custo de vida alto, crianças e mulheres também eram obrigadas a entrar no mercado de trabalho e, consequentemente, a abundância de mão-de-obra acarretava desemprego e queda nos salários.
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