Por Alexandre Müller Hill Maestrini, professor e escritor
Não é porque a lei permite que se deva fazer. No período da janela eleitoral que terminou agora, 20% dos deputados federais mudaram de partido e 20% dos votos foram jogados no lixo. Seu candidato apresentou motivo justo para isso? Bizarra é a infidelidade partidária que permite troca de legenda sem perda de mandato conquistado pelo voto do eleitor que escolheu não só um representante, mas sim uma das ideologias políticas, que são representadas pelos partidos com suas crenças. Mais que infidelidade partidária, isto é o estelionato do seu voto.
Vou explicar melhor, certo candidato apresentou suas ideias e as premissas do partido durante a campanha política. Diga-se de passagem financiada com dinheiro público, isto é, seu. Baseados nelas você escolheu seu candidato e deu a ele, não só sua confiança, mas também uma procuração para te representar conforme “contrato político”. Mas parece que assim que eleito, seu “procurador” se acha no direito de ficar com o mandato, mas trocar de ideia e pior, usar sua procuração em branco para votar como quiser. Na verdade corrompeu sua confiança. Fica ainda mais claro que precisamos de reforma do sistema eleitoral quando o seu representante, eleito por exemplo por um partido socialista, se transfere para um partido nada socialista sem perda de mandato. Esta situação mostra bem a estratégia que: partido e ideias nada significam no atual modelo. Também é gritante a falta de fidelidade a esta ou aquela filosofia de como se resolver os problemas apresentados.
Se observarmos mais profundamente as propostas apresentadas em plenário e os votos de nossos representantes, fica bem claro que você é quem precisa controlar mais os seus representantes. Mas qual cidadão controla os passos de seus políticos eleitos? Faça uma reflexão de tentar se lembrar em quem votou nas últimas duas eleições para os legislativos municipais/vereadores, estadual/deputados estaduais e nacional/deputado federais. Na maioria dos casos nem vai mais se lembrar, e é com isso que contam os candidatos estelionatários eleitorais, que com a cara mais lavada do mundo voltam na próxima eleição pedindo o seu voto.
Para acabar com essa bagunça muitas soluções poderiam ser implementadas. Por exemplo a ampliação do prazo de filiação mínimo de dois anos para disputar as próximas eleições. Uma mudança que exigiria educação política e que não virá de uma hora para outra. Será preciso mudar os códigos e aperfeiçoar os mecanismos de controle. Mas se o seu voto foi jogado no lixo ou se você é jovem e vai votar pela primeira vez, informe-se bem e defina sua linha política. Apesar do Brasil ter 32 partidos políticos, basicamente temos duas grandes tendências. Uma é de um Estado menor e com muito espaço para a iniciativa privada. Outra é um Estado com mais abrangência e mais voltado para as políticas sociais e garantidoras do bem estar mínimo para todos. De qualquer forma que o futuro se apresentar, o mais importante é entendermos que a função dos representantes municipais, estaduais e federal é respeitar a vida acima de tudo, promover o bem estar de todos os cidadãos e desenvolver políticas públicas que equilibrem as desigualdades. Não jogue seu voto no lixo.