Olá meus amigos leitores do canal RCWTV. Este fim de semana tirei um tempo para pensar sobre a vida, pois em tempos de pandemia, pouco resta a não ser a atividade de pensar. Aliás, justamente por já termos feito tudo que estava pendente, é que está sobrando tempo para pensar.
Neste mergulho deparei meu pensamento com o risco de perecimento e percebi que esse assunto inquieta não só a mim como a quase todas as pessoas, por isso, no texto de hoje, vou propor mais reflexões do que soluções. O texto de é mais provocador do que esclarecedor. Se você for um leitor mais sensível, pense se está pronto para ir adiante.
Faço o alerta porque, em nossa sociedade, de tradição judaico-cristã, falar sobre a morte, sobre a finitude do corpo, causa profundo impacto em nosso psiquismo, por relevar elementos que transcendem a noção de Eu.
Dessa vez, quero começar com um poema do Charles Bukowski que é a síntese do que penso sobre a morte.
Confissão
À espera da morte
como um gato
que saltará sobre a cama
Sinto terrivelmente por minha esposa
Ela verá este corpo duro e branco
Vai sacudi-lo uma vez, depois quem sabe outra:
"Hank!"
Hank não responderá.
Não é minha morte o que me preocupa,
é minha mulher abandonada
com este monte de nada.
Quero, no entanto,
que ela saiba
que todas as noites estarei
dormindo ao seu lado
Que mesmo as discussões inúteis
sempre foram esplêndidas
E que as palavras difíceis
que sempre temi dizer
podem agora ser ditas:
Eu te amo.
Do texto de Bukowski salta a pergunta: O que é a morte? Steve Jobs quando descobre que está com um câncer, que será fatal, afirma:
Lembrar que estarei morto em breve é a ferramenta mais importante que já encontrei para me ajudar a tomar grandes decisões. Porque quase tudo - expectativas externas, orgulho, medo de passar vergonha ou falhar - caem diante da morte, deixando apenas o que é apenas importante. Não há razão para não seguir o seu coração.
A grande lição que Jobs nos traz é justamente essa, de que somente diante do fato de perceber a finitude é que se toma pé do tamanho da grandeza da vida e faz com que possamos viver verdadeiramente. Jobs ainda acrescenta que quando você consegue “lembrar que você vai morrer é a melhor maneira que eu conheço para evitar a armadilha de pensar que você tem algo a perder. Você já está nu. Não há razão para não seguir seu coração”. Ou seja, você só vai viver plenamente quando conhecer a morte em vida, quando se permitir morrer e renascer verdadeiramente.
A pior forma de viver, penso eu, é aquela em que a pessoa não se permite. Essa pessoa está condenada a uma vida superficial e monótona. Jamais conhecerá a morte, pois não conseguiu viver. A pessoa vive uma ilusão de eternidade e o que é mais impactante é que o COVID-19 traz a morte para o cenário de uma forma ímpar. Lembro de Raul Seixas, falando que o trem vem apitando, chamando, trazendo as cinzas do velho éon, não há mais nada que ser feito e somente resta embarcar nesse trem que não precisa de bagagem e nem mesmo passagem, que vida vazia.
Algumas culturas e irmandades simbolizam a morte como um rito de passagem, aliás o que não é a crucificação que um rito de passagem, onde o Deus corpo vira o Deus transcendente.
Na verdade, quando Cristo diz “fazei a Sua vontade”, Ele na verdade está abrindo mão justamente do maior medo que alguém pode ter, o medo do perecimento do Ego. Esse medo na verdade é uma carapaça, um arremedo de proteção de uma suposta personalidade que um dia vai desaparecer.
Seja você uma pessoa que acredita na transcendência de natureza ocidental ou ateu, este medo provavelmente lhe aflige, pois resta a pergunta... E depois? Quem sou eu para lhe responder...
Meu objetivo é trazer para você uma perspectiva nova, que em tempos de pandemia pode representar uma nova forma de é ir adiante. Um caminhar diferente, parando de sucumbir ao medo da finitude.
Nosso inconsciente não conhece a noção de finitude, ela é de natureza egóica. Ao se libertar desse grilhão, vive-se a morte como nunca fosse atingir de fato, e isso torna a existência mais leve. Assim, quando seu corpo descansar definitivamente, terá a certeza que não passou pela vida e sim viveu. Isso retirará a agonia como a de Hank, no poema de Bokowsi.
Com essa nova perspectiva a pessoa poderá ter um novo modo de funcionar no mundo, poderá finalmente permitir seus desejos, sem se importar com o que o mundo vai pensar. Isso converte os desejos não mais em martírios, mas em ferramentas para a felicidade. A pessoa liberta pode realizar seus desejos, independentemente do julgamento que possa ocorrer.
As pessoas questionam porque é tão difícil encontrar o amor, sim, o amor, e a resposta está na recusa ao medo do fim, pois amar é na verdade deixar a alma livre para que possa respirar. É deixa-la livre para que se dilua justamente no líquido de seus sonhos para que, fundidos em um, só se constituam em algo palpável para a única coisa que importa: Você! Esse amor verdadeiro, seja ele qual for, lhe dá um poder inigualável, um poder que se assemelha ao de Deus, pois essa libertação casada com o amor faz com que você possa criar um novo Universo.
Se posso resumir o texto em um parágrafo seria: tudo que precisamos é nos entregar. Isto só é viável quando paramos de cultuar o Eu. É justamente nesse ponto que nasce o conflito, pois as pessoas pensam que parar de cultuar o Eu significa não ter autoestima.
Não! Não é disso que estamos falando! O que estamos dizendo é para largar de lado a idolatria que fazemos da nossa casca, mas que amemos de verdade não essa fantasia que somos, mas amar seu verdadeiro Eu. Este é o verdadeiro: “Eu Sou”. Aliás Deus no nosso Universo é Aquele que É, então se vamos criar nosso universo, temos que ser Aquele que É verdadeiro, pois caso contrário nosso mundo será na verdade uma fraude.
Quero terminar com Mario Quintana:
A morte deveria ser assim:
um céu que pouco a pouco anoitecesse
e a gente nem soubesse que era o fim...
Bom resto de semana para você.