Olá meus amigos da RCWTV. Hoje trago a vocês algumas reflexões que tenho desenvolvido sobre o desejo e o querer. Isso porque iniciamos o mês de junho e muitos, como eu, acreditavam que neste mês as coisas já estariam nos eixos, mas infelizmente isso não aconteceu.
Costumo falar, com aqueles que são mais próximos, que tudo na vida é uma questão de escolha. Fazemos pequenas escolhas diariamente, veja, como exemplo a roupa que usamos nesse instante. Provavelmente existem outras peças no armário. Acontece que as que vestimos implicaram na não escolha de muitas outras. Dito de outro modo, ao escolher a roupa que vestimos hoje, também renunciamos, ainda que temporariamente, a todas as outras.
Lembro as palavras de Augusto Branco:
Tua vida é resultado de tuas escolhas.
Mesmo que te assolem as intempéries do mundo,
ou a injustiça do teu próximo,
você sempre pode mudar a tua realidade.
Toma para ti o esquadro e o compasso e, sobretudo,
assume a responsabilidade de arquitetar a tua felicidade!
Assim também acontece nos grandes momentos, nos momentos mais desafiadores. Entre os possíveis caminhos que se colocam diante de nós, somos forçados a escolher um. Mas ao escolher este ou aquele caminho, também como consequência, implica em renunciar os outros e é justamente nesse ponto que residem os problemas.
Somos habituados a deixar que a vida dite o nosso rumo, mesmo porque, ao deixar para vida a escolha, ganhamos uma “suposta proteção” que é a de não se responsabilizar pelos rumos e, assim, se algo der errado, podemos atrair a nossa autopiedade ou ainda a piedade dos outros. Vem sempre aquele discurso: “ah! A vida quis assim”.
Não fazemos isso conscientemente, pelo contrário, fazemos isso baseado em nossas experiências inconscientes e, dependendo de como a pessoa se organiza mentalmente, o não escolher pode ser justamente aquilo que mais vai se adequar à sua organização psíquica.
Uma pessoa organizada de modo histriônico vai utilizar a não escolha como modo de chamar a atenção para si. Já pessoas com uma organização obsessiva vão ao revés, se livrar do tormento que lhe é fazer uma opção. Aliás para esses cai como uma luva o poema de Fernando Sabino:
O diabo desta vida
é que entre cem caminhos
temos que escolher apenas um,
e viver com a nostalgia dos outros noventa e nove.
Fazer escolha significa formar compromisso com o desejo e isso é tão difícil, sobretudo nos dias de hoje. Nossa sociedade nos impele não a satisfazer nossos desejos, mas nos impulsiona a querer algo. Desejar vai além disso, desejar dói, pois nos obriga a posicionar diante da vida.
Aliás, Lacan dizia justamente que “o desejo enquanto real não é da ordem da palavra e sim do ato”, assim, um desejo só se constitui como verdadeiro quando se busca a sua realização através de todas as renúncias que temos que fazer para atingir sua satisfação, o verdadeiro gozo.
Isso nos coloca em uma posição de que nos causam medo, pois o problema é que, ao escolher um caminho, abrimos mão de todas as possibilidades existentes e dessa forma, se não assumimos o compromisso com nossas escolhas nos tornamos meros passageiros de uma vida. Ao invés de conduzir nossos caminhos, ficamos como Humberto Gessinger canta:
Eu me sinto um estrangeiro
Passageiro de algum trem
Que não passa por aqui
Que não passa de ilusão
Diante disso, eu lhe pergunto, até quando você vai ficar olhando para a sua vida passando pela janela? Eu sei que sair e escolher o que fazer, escolher as batalhas, as lutas, os caminhos podem causar medo, mas que sejamos capazes de no caso de medo, de encará-los em busca de nossa felicidade.
Buda nos ensina que tudo na vida é passageiro, mas em momento algum ele disse que mesmo tudo sendo passageiro, que sua vida é. A tristeza, a felicidade, o amor, o ódio, tudo passa, o que não significa que você também é passageiro. Você é o piloto de sua vida.
Quantas vezes pensei em desistir. Após descansar, respirar, acabei desistindo de desistir.
Boa semana
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