Olá amigos! Na coluna de hoje escrevo sobre a diferença entre conformar e aceitar. O assunto se revela importante neste momento desafiador que estamos passando, pois diante do quadro atual tenho percebido que as pessoas estão tratando essas duas palavras como sinônimo e não são.
Gosto de, por conta das minhas origens, sempre iniciar minha conversa com a investigação na origem das palavras. Conformar possui raiz no latim “conformare”. No original, a partícula “com”, que significa “junto”, associado a “formare” que significa “dar forma”, temos como resultado conformar significando modelar, dar forma a algo.
Nosso pensamento é organizado, com base no cristianismo e as doutrinas que foram emanadas, especialmente pela igreja católica, durante mais de 1000 anos. Onde as nossas vontades, nossos desejos, ficavam submissos a uma vontade contra a qual não se poderia lutar.
Esse modo de pensar nos leva a entender que a conformação é uma espécie de aceitação, uma forma de olhar o mundo e não agir, é um aceite da vida na qual nossos sonhos e desejos não podem ser buscados. Haredita Angel, uma poetisa cujo trabalho conheci há pouco tempo, certa vez escreveu: “o maior perigo que um ser humano corre é se conformar com a insatisfação, é achar que é assim mesmo”.
Penso que se conformar é aceitar a mediocridade de uma vida, é não ser ator em sua própria história e nada mais nefasto para uma pessoa do que sujeitar-se a coformação. Aliás, que palavra forte, sujeitar-se, sim, quando nos conformamos nos tornamos sujeito da vontade que não está em nós, mas fora... Assim, tornamo-nos sujeitos do outro e não donos de nossas próprias vontades. Nada há de errado em querer ser autor e ator de nossa própria história.
Quando nos conformamos, delegamos ao outro o poder de dizer o que somos. Romper com esse pensamento é necessário para que possamos tomar parte em nossa vida. Carl Rogers dizia que quando nos ouvimos e nos aceitamos, passamos a poder ser nós mesmos. Afinal de contas, a vida ocila entre um ponto de exclamação e um ponto de interrogação. Quando não fazemos laço com nosso desejo e deixamos de ser atores no teatro de nossa vida, ela mesmo desce o pano da cortina e bota um ponto final em nosso peça teatral.
Já por outro lado quando falamos de aceitação, de aceitar, palavra que tem origem no latim “acceptare” como significado de acolher. Bem diferente de acomodar, de tomar forma.
A acolhida significa receber algo, assumir uma dada condição ou situação, mas nenhuma dessas palavras exprime um pensamento derrotista ou que nos retira do centro de nossas vidas. Aliás, novamente Shakespeare, em uma de suas obras, nos lembra que devemos aceitar “o conselho dos outros, mas nunca desistir da tua própria opinião.
Freud já dizia que se quisermos suportar a vida temos que ficar prontos para aceitar a morte. Pode-se extrair desses dois pensamentos a essência da palavra aceitar. Podemos perceber que aceitar não é se resignar, não é ficar passivo, pelo contrário, quando aceitamos algo, percebemos que aquilo faz parte de nossa vida e mesmo assim continuamos a caminhar. Caminhamos apesar da dificuldade imposta.
A aceitação, também é como uma peça de teatro, onde, de repente, cai um pedaço do cenário. O ator não para de atuar por conta disso, ele continua, reconhece que há algo de errado, mas mesmo assim continua atuando.
Temos justamente a tendência de nos conformar, porque diante de certos fatos da vida não há o que ser feito, como, por exemplo, a morte de uma pessoa que amamos. O discurso colocado é justamente que devemos nos conformar, é uma vontade de Deus e, portanto, devemos tratar isso como algo que não se pode fazer.
Meu ponto é justamente esse, penso ser necessário apenas aceitar a decepção que nos é imposta, como algo finito, algo que vai nos marcar, que tal como uma cicatriz, mas que não terá o condão de impedir a caminhada, a peça de teatro continuará a ser encenada.
Audrey Hepburn certa vez disse: “Eu decidi, desde muito cedo, apenas aceitar a vida incondicionalmente. Nunca esperei que ela fizesse nada de especial por mim”. Não há a necessidade de continuar a culpar o passado, nem consertá-lo, pois passado não conjuga verbo no futuro. O que devemos fazer é aceitar a nossa responsabilidade com nossos sonhos, com nossos desejos. Então, no teatro da vida, penso que, diferente da conformação, quando somos capturados pelo delicioso laço de nossos desejos, estando a vida oscilando entre um ponto de exclamação e um ponto de interrogação, podemos barrar a queda da cortina e da colocação do ponto final. Devemos colocar em nossas vidas o sinal gráfico da vírgula, que tal como em nossa língua, não é indicativo de um fim, de uma ideia, ou de uma história, mas a marca da continuidade... afinal de contas, como diria Freddie Mercury:
Minha alma é pintada como as asas das borboletas
Contos de fadas de ontem vão crescer mas nunca vão morrer
Eu posso voar - meus amigos
O show deve continuar
O show deve continuar
Eu irei enfrentar tudo com um sorriso
Eu nunca irei desistir
Avante - com o show
Eu irei dar um lance maior, irei chacinar
Eu tenho que achar forças para continuar
Com o show
Seja então, finalmente a atração principal de sua vida e permaneça aceitando. Pare de se conformar, para que a vida não coloque ponto em sua história e permita-se colocar apenas vírgulas e mais vírgulas diante dos desafios diários.
